Meu escritório é o mundo: Conheça histórias de quem tem trabalhos fora do padrão

De home office a viver viajando, disciplina é fundamental, diz especialista

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  • Daniel Silveira

Publicado em 5 de maio de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Acervo Pessoal

Já pensou em trabalhar em um lugar diferente sempre que der vontade, curtindo a liberdade de não bater ponto e não se deslocar diariamente para  um escritório? Pois algumas pessoas decidiram levar a vida exatamente assim. Seja viajando, mandando trabalhos por e-mail, ficando em casa ou, ainda, montando um escritório, existem maneiras de trabalhar completamente diferentes daquelas a que estamos acostumados. 

Mostramos aqui três exemplos de quem já vive assim e que revelam as benesses e as dificuldades dessa escolha. Além disso, especialistas indicam as melhores maneiras de melhorar a produtividade e afastar a dispersão.  Se liga!

Sem ponto de parada

“Antes de começar a trabalhar viajando eu tive experiências profissionais em outros campos, tudo dentro de maquiagem, não chegava a ser tão formal, mas era um espaço físico que eu tinha que ir todo dia”, lembra a maquiadora Paloma Simplício.

Atualmente, seu trabalho é o desejo de um monte de gente: viajar. Ela é treinadora para vendedoras de maquiagem das marcas Givenchy e Kenzo. “O que eu considero de mais diferente disso é que a minha rotina muda bastante, é bom para conhecer pessoas e aprender coisas novas”, explica. A maquiadora Paloma Simplicio gosta da mudança de rotina que trabalhar viajando proporciona (Foto: Acervo Pessoal) Outro ponto que ela diz ser positivo é o retorno financeiro. Paloma conta que seu trabalho em movimento é bem mais rentável do que o que fazia antes, trabalhando em estúdios ou fazendo maquiagens para eventos. Mas nem tudo são flores. Engana-se quem acha que é pura curtição.“Existe uma glamorização grande em torno de pessoas que trabalham viajando, eu estou em uma cidade diferente para para trabalhar, cansa como qualquer outro e até um pouco mais porque às vezes tem deslocamentos muito grandes semanalmente”, relata Paloma. Outra questão é que, como ela não tem um horário de trabalho fechado, muitas vezes não pode se planejar para coisas simples como ir ao médico, encontros com amigos...

Para quem está disposto a encarar essa vida nômade, ela deixa uma dica: “tem que ir de coração aberto para vivenciar todo tipo de possibilidade, quando você tem sua rotina, você conhece aquelas pessoas, já sabe como lidar com elas, mas quando trabalha viajando sempre tem que lidar com situações novas e isso vai lhe dar uma grande bagagem”.

Exames online

O médico radiologista Márcio Duarte trabalha remotamente com telemedicina há seis anos. “Minha primeira motivação foi o local onde eu trabalhava, um hospital com um acesso bem ruim. Eu precisava fazer laudos sem estar necessariamente com alguém lá”, lembra.

Depois disso veio um período estudando fora do país e como “não tinha dinheiro, uma das maneiras de me manter era trabalhando online para o Brasil”, diz. O médico Marcio Duarte lembra que é preciso disciplina tibetana para o trabalho em casa dar certo (Foto: Acervo Pessoal) O trabalho dele é ler exames em um sistema online e dar seu parecer sobre eles. O recurso é utilizado por inúmeros centros de saúde do país. Por conta disso, ele já emitiu laudos para o Brasil inteiro, “desde Parauapebas no Pará até Pelotas no Rio Grande do Sul”.

“Não é só um ganho de qualidade de trabalho para o profissional”, defende. Marcio acredita que é uma forma de oferecer um serviço mais ágil. Mas não é só apenas ter um computador. Segundo o médico é preciso um equipamento adequado para fazer as leituras. Por isso, ele montou uma estação de trabalho. Uma não, três: em casa, no hospital onde trabalha durante três turnos na semana e em um escritório num prédio comercial, para onde foge quando o fantasma da dispersão ataca em casa.“No começo foi uma maravilha, mas depois de seis meses minha renda caiu porque eu assistia a jogos de basquete, parava no meio do trabalho para descansar”, lembra o médico.Uma das decisões para não perder a atenção tão facilmente foi delimitar seu espaço de trabalho e assim, garantir um bom rendimento. “Quando você começa a trabalhar em casa, precisa de disciplina tibetana, no início parece facílimo, mas se você não se cuida, pode não dar um laudo sequer”, conta. Ele defende que é preciso ter uma rotina, um ambiente, mesmo em casa, que remeta a uma experiência de trabalho.

Ilustrando no mundo

O casal de ilustradores Carol Matsusaki e Rômulo D’ipolito se encantaram com a vida de nômade digital e a possibilidade de viajar o mundo e ainda assim continuar trabalhando. Carol e Rômulo visitaram dez países durante dois anos que viveram como nômades.

Mas calma, não foi só colocar um computador na mochila e sair viajando. “No começo senti muita solidão, éramos só nós dois e mais ninguém para trocar ideia, de repente nada é mais estável na sua vida”, lembra Carol.

Esse foi o primeiro choque. Entre as preocupações para quem quer assumir a vida de mudanças ou até mesmo viver como freelancer – o que ela se considera no momento -, uma delas é ter clientes em vista antes mesmo de arrumar as malas, além de um lugar para trabalhar que ofereça o mínimo de estrutura. “Uma mesa legal, conexãon com internet, não é só sair levando computador para a praia”, brinca.

Atualmente, o casal trabalha em casa. Depois de viajarem, decidiram fincar base em Curitiba há um ano e meio. Os desafios continuam: organizar o tempo para o trabalho, tarefas domésticas e produção artística.“O bom de trabalhar em casa é que temos muito tempo para tomar café da manhã, almoçamos em casa, à tarde a gente trabalha, segue até a noite”, conta Carol “Penso muito em equilíbrio e compensação, se trabalhar muito hoje ou num fim de semana, terei um dia mais livre”, argumenta. Para quem sonha em tomar a rédea do próprio trabalho, ela dá uma dica: “não idealizar essa vida, ela tem tantas vantagens e desvantagens como qualquer outro trabalho, aconselho também se questionar para saber como você lidaria com a solidão, se buscaria um coworking (estação coletiva de trabalho) ou algo parecido e, antes de tudo, conseguir clientes”.

Veja 10 dicas para fugir da dispersão no escritório virtual:1. Tem regras - A arquiteta Priscilla Bencke, especialista em neurociência, diz que, mesmo em casa, é bom obedecer normas de saúde e segurança do trabalho: “Fatores como iluminação, ergonomia, posição visual e postura adequadas”, enumera.

2. Sem barulho - “O conforto acústico é outro aspecto que precisa ser levado em conta”, diz Priscilla. Afinal, um ambiente barulhento é um convite à dispersão.

3. Reservar um espaço - É importante ter um local de trabalho “que favoreça necessidades de saúde,  segurança e privacidade”, diz.

4. Roupa de trabalho - “Tem gente que veste roupa social, calça e até passa perfume, sinalizando para si mesmo e para quem está em casa que está trabalhando”, diz Carlos Linhares, psicólogo, consultor na área de Pessoas e Organizações.

5. Sem distração - Se distrair na internet e mídias digitais desemboca na procrastinação, que pode gerar frustração. “Nesse bolo emocional emerge ansiedade, estresse, falta de foco e, para muita gente, o sentimento de impotência”, conta Carlos.

6. Volte-se para dentro - O mundo exterior, além das redes, pode tirar sua atenção. A dica de Priscilla é fugir dessas distrações. “Não trabalhar de costas para janelas por causa da luz refletindo na tela ou muito próximo delas porque o mundo externo pode te dispersar”.

7. Sem redes sociais - Zap, Facebook, Twitter, Instagram: diga não. Nada de ficar checando redes sociais o tempo todo. “Uma dica básica é deixar o celular em modo avião para evitar essa distração”, aponta Carlos.

8. Pense no trabalho - Enquanto você estiver trabalhando, nada de se preocupar com outras demandas. “Qual o seu papel naquela hora estipulada para desenvolver o projeto? Não é o nobre papel doméstico”, diz o psicólogo

9. Saia de casa - Aproveite que não tem a obrigação de estar em um escritório para trabalhar em lugares diferentes. “Eu não aconselho a prática radical do home office para todos os dias, eu acredito na força dos cafés”, aponta.

10. Compartilhe  - “Mesmo trabalhando em casa, é preciso manter-se conectado com os pares que se empenham em projetos comuns”, finaliza Carlos.