Meu filho não pode ir para a creche, e agora? Veja dicas para a quarentena em casa

CORREIO responde 10 dúvidas sobre os riscos de infecção para as crianças isoladas e as implicações das suspensões das aulas no trabalho

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  • Da Redação

Publicado em 18 de março de 2020 às 08:02

- Atualizado há um ano

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O horário de trabalhar virou tempo de brincar na casa da empreendedora Juliana Malange Marques, 38 anos, depois que a filha Mariah, 3, parou de ir ao colégio na última segunda-feira (16). A família adiantou a decisão da Escola Kurumi, onde estuda a criança, que vai suspender as aulas por 15 dias a partir desta quarta (18) devido ao novo coronavírus (Covid-19). Agora, a mãe da pequena não tem mais as manhãs livres para produzir os alimentos para sua empresa de culinária inclusiva.

A decisão da escola de Mariah está de acordo com a determinação da Prefeitura de Salvador de suspender as aulas da rede municipal e particular da cidade por 15 dias, a partir desta quarta, como medida de combate ao avanço do coronavírus na capital baiana. O Governo do Estado optou por cancelar as aulas da rede estadual de ensino por 30 dias em Salvador, Feira de Santana, Porto Seguro e Prado - cidades que registraram casos confirmados da doença. A paralisação das atividades começaram a valer nesta terça (17) nas três primeiras cidades. Nesta quarta, a cidade de Prado será incluída na suspensão.

Em Salvador, cerca de 140 mil estudantes da rede municipal de ensino terão as aulas suspensas. De acordo com o Prefeito ACM Neto, estes alunos devem receber atividades pedagógicas para ser realizadas em casa. “Esse, ao menos ainda, não é um período de férias forçadas, de modo que os diretores e coordenadores de cada unidade de ensino vão criar um canal de comunicação das escolas com as famílias e elaborar atividades que devem ser desenvolvidas em casa", disse o gestor.

Cada um dos estudantes da rede municipal afetados pela suspensão das aula vai receber cestas básicas. Segundo o Secretário Municipal de Educação, Bruno Barral, cada kit contém feijão, arroz, um farináceo e biscoito. Os alimentos devem começar a ser entregues na próxima segunda-feira (23).

Nas três cidades da rede estadual com aulas suspensas, a intenção é que o material para estudo seja disponibilizado por meio das redes sociais, dos grupos de whatsapp das escolas, ou mesmo encadernado nas próprias unidades, afirma o secretário estadual de educação, Jerônimo Rodrigues. Ao todo, as escolas do estado possuem cerca de 800 mil matriculados.“Os calendários também serão adequados, para que os alunos não sejam prejudicados. A nossa preocupação é com quem está no terceiro ano do Ensino Médio, que vai prestar Enem, vestibular e concursos”, disse o secretário.Com quem deixar? Apesar da recomendação ser permanecer em casa, muitos pais e mães ainda saem das suas residências todos os dias para trabalhar, seja por não poderem trabalhar de casa ou haver uma exigência do empregador de comparecer ao trabalho. Assim, precisam deixar seus filhos com outra pessoa durante a jornada de trabalho. Pensando nisso, a professora da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Gleice Cordeiro, 32, decidiu criar um grupo com as mães das colegas de creche da sua filha Maria Flor, 2.

A pequena frequenta a creche da Uefs, que teve o funcionamento suspenso. Por ser professora, Gleice pode exercer suas atividades de casa, mas outras mães que também trabalham na instituição e dependem do serviço educacional para poder trabalhar, não.“Só os servidores técnicos que têm risco para a doença foram liberados. Muitos servidores técnicos têm filhos que são colegas da minha filha e, por isso, propus fazer um grupo da turma de Maria Flor para saber como está a situação”,contou Gleice.A professora percebeu que a suspensão das aulas dificultaria o trabalho de muitos pais e mães, daí veio a ideia de apoiar quem não pode ficar em casa cuidando dos filhos. A partir desta quinta-feira (19), Gleice vai tomar conta da filha de uma amiga, que tem que continuar ativa na Uefs.

Apesar de reconhecer o papel da rede de apoio, Gleice acredita que os locais de trabalho devem compreender os riscos de infecção pela doença e a situação das famílias em relação à frequência no trabalho. “O mais importante é que as chefias estejam atentas às diversas peculiaridades e consigam pensar alternativas importantes para a saúde pública e mental do servidores e servidoras”, afirmou.

Mesmo já sendo acostumada a trabalhar de casa, Juliana reconhece que é desafiador conciliar a rotina do ofício com as necessidades da criança. “A criança até 5 anos tem muitos períodos doente e toda vez que minha filha fica doente, eu fico em casa com ela. Meu trabalho é afetado pela presença dela, mas demandas com ela são minha prioridade", disse.

Criatividade Com as crianças presas dentro de casa, os pais exercitam a criatividade para manter os pequenos ativos e contentes. Como a filha estuda pela manhã, Juliana separa este turno do dia para se dedicar exclusivamente para Mariah. “Planejo alguma atividade para ela, a gente faz coisas que ela gosta. Pela tarde, eu flexibilizo um pouco mais e não coloco uma pressão para ficar oferecendo atividades super interessantes. Temos que levar de uma forma leve pois não sabemos quanto tempo isso vai durar”, contou.

Já na casa da professora Gleice, a rotina varia de acordo com o filho. Com a pequena Maria Flor, ela monta quebra-cabeças, lê historinhas e brinca de boneca. “Sempre que eu estou em casa, eu brinco com ela. Eu sou uma mãe que brinca”, disse.

Com o filho mais velho, Pedro, de 12 anos, a ideia é não esquecer dos estudos enquanto as aulas estão suspensas. “Analisamos as demandas da escola. Ele teria uma prova de matemática hoje, então vamos revisar matemática para ele voltar preparado para a rotina da escola. Vamos nos organizar entre brincar e estudar”, relatou.

A pedagoga e psicopedagoga Ana Lúcia Rosa indica que os filhos sejam estimulados a ler, brincar e jogar enquanto as aulas estão suspensas. “Esteja sempre conversando com os filhos e brincando junto. Procurem estar mais próximos das crianças”, ressaltou.

Para Rosa, também é importante explicar para os filhos o que é o coronavírus e os riscos que essa doença traz. “Conversem sobre o que está acontecendo para crianças saberem sobre a realidade da enfermidade”, indicou.

Meu filho está sem aula, e agora? A rotina de toda família muda para se adequar às novas necessidades impostas pela pandemia de Covid-19 no mundo. Com os filhos em casa, é mais difícil se organizar para trabalhar. Os pais ainda devem se manter atentos com a saúde dos pequenos apesar do isolamento. Para tirar dúvidas sobre os riscos de infecção para as crianças isoladas e as implicações das suspensões das aulas no trabalho, o CORREIO conversou com a infectologista Melissa Falcão e a advogada e professora de Direito do Trabalho Christianne Gurgel.

Como analisar se a pessoa que vai cuidar do meu filho pode acabar o contaminando? É necessário observar se todas as pessoas que circulam pela casa possuem queixas respiratórias. Também é importante procurar saber se houve algum contato do cuidador da criança com algum doente, pois nem sempre um paciente com o novo coronavírus apresenta sintomas.

Mesmo com a criança dentro de casa, quais cuidados os pais devem ter para evitar uma contaminação? Quem circula pela casa não deve apresentar queixas respiratórias. Também é importante se atentar à etiqueta respiratória e aos cuidados com a higiene, como lavar bem as mãos, usar álcool em gel e não compartilhar objetos pessoais. Ao chegar em casa, todos devem lavar as mãos antes de ter contato com pessoas da residência.

É possível deixar meu filho brincar com outras crianças? Mesmo em uma área aberta, o ideal é que não se tenha contato com muitas crianças durante o período de solicitação de isolamento social. Agora, é necessário pensar atividades para distrair as filhos dentro de casa.

Os pequenos podem brincar sozinhos nos parquinhos dos condomínio? A indicação é evitar sair de casa para ter contato reduzido com outras pessoas. A higienização dos espaços de convivência, como os parquinhos, deve ser frequente. Cada condomínio deve intensificar seu organograma de limpeza das superfícies.

Posso receber atestado por ter que ficar em casa com meu filho devido a recomendação de isolamento social? Do ponto de vista médico, apenas pacientes doentes ou acompanhantes de enfermos que precisam de uma companhia recebem atestado. Caso você ou alguém da sua família estiver doente e precisar de auxílio, é possível solicitar a documentação.

Não tenho com quem deixar meu filho, é seguro levá-lo para o trabalho? Já que as aulas foram suspensas para reduzir o contato das crianças com outras pessoas, não é indicado expor o filho ao risco de ser contaminado no ambiente de trabalho.

O empregador pode descontar o dia não trabalhado ou me demitir se eu faltar por não ter com quem deixar meu filho? O empregador só pode penalizar o empregado faltoso em caso de não justificativa. Perante a lei, não ter com quem deixar o filho não é uma razão para justificar uma falta. No momento atual, o ideal é que os empregados e os empregadores busquem os sindicatos para encontrar a melhor solução para ambas as partes.

Posso levar meu filho para o trabalho? Não há previsão na lei. O filho só pode ser levado para o ambiente de trabalho com a permissão do empregador. 

Posso trabalhar de casa ou flexibilizar minhas horas de trabalho para cuidar do meu filho? A mudança deve ser acordada entre o empregador e o empregado. Nada impede que as partes negociem, especialmente, com a mudança de rotina imposta pela doença. A relação de trabalho é uma relação de tensão de interesses. O diálogo também pode ser feito de forma coletiva por meio dos sindicatos.

Posso parar de trabalhar enquanto as aulas do meu filho estão suspensas? O contrato de trabalho pode ser suspenso a partir da concordância das duas partes. Com a suspensão, o empregado deixa de trabalhar, mas também não recebe por este período. Como esta não é uma possibilidade para muitas pessoas, o ideal é negociar mudanças na jornada com o empregador com o auxílio do sindicato da categoria.

Atividades para a quarentena A indicação para evitar contato social não só cancelou as aulas, mas também impôs que os estudantes fiquem dentro de casa. Neste período, a pedagoga e psicopedagoga, Ana Lúcia Rosa indica que os pais busquem brincar mais com seus filhos durante o isolamento.“Nesse momento as crianças vão ficar entregues ao que já estão acostumados, como os aparelhos eletrônicos. Mas os pais devem tentar tirar o melhor possível deste tempo e incentivar outras atividades”, disse.Para Rosa, atividades lúdicas podem ser grande aliadas dos pais nesse momento. Dentre as atividades, a pedagoga indica desenhar, fazer recortes e utilizar muito a imaginação. Na falta de um cinema de verdade, as crianças podem brincar de cinema dentro de casa, por exemplo.

A leitura também é recomendada pela pedagoga. Os estudantes podem ler livros indicados pela escola ou buscar outras obras. Gibis e revistas como a Recreio e a Superinteressante também são uma boa pedida.

Jogos que ajudam no desenvolvimento das crianças e adolescentes também estão dentre as indicações de Rosa. “Dama, Xadrez e quebra-cabeças ajudam no desenvolvimento por incentivar o raciocínio da criança”, pontuou.

Em tempos de quarentena, há um movimento online de indicação de atividades para os pequenos que estão sem aula. Estéfi Machado, dona de um blog com seu nome, criou o Kit de Sobrevivência para uma quarentena Brincante - um PDF com 40 atividades simples para fazer casa com a criançada. (Link do PDF aqui).

O instagram também tem conteúdo para manter as crianças ativas na quarentena. A Educadora Parental Fabiola Podolsky (@fabiola.podolsky) fez um post com 20 Idéias para deixar os eletrônicos de lado neste período. A Janaína Carneiro (@filhoterapia) ensinou a fazer um brinquedo caseiro para exercitar o movimento de pinça fina, coordenação visomotora, estimular a memória, sentidos, concentração e as noções de cores e formas.

Ainda tem historinha na rede social. A escritora Emília Nuñez (@maequele) vai ler seus livros infantis durante toda a semana, sempre às 11h. A contadora de história Camila Genaro (@camila.genaro) vai ler ou contar um conto todos os dia, às 15h. Às 11h30, é a vez de Carol Levy (@carollevy) fazer a live de histórias para crianças. Já a atriz Fafa, do @fafaconta, vai ler livros no seu perfil sempre às 10h30 nas segundas, quartas e sextas e às 16h30 nas terças e quintas.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela

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