'Meu pai era como uma borboleta, não mexia com ninguém', diz filha de Mestre Moa em júri

Julgamento de barbeiro acusado de matar capoeirista em briga política deve durar mais de 10h nesta quinta-feira (21)

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  • Eduardo Dias

Publicado em 21 de novembro de 2019 às 10:48

- Atualizado há um ano

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"Um homem digno de verdade, bastante conciliador, não mexia com ninguém. Meu pai era tudo pra mim. Ele era muito educado, um homem de poucas palavras. Nossa família ficou dilacerada, nos faltou chão". Foi no Tribunal do Júri, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, que Somonai dos Santos, filha do mestre de capoeira Romualdo Rosário da Costa, mestre Moa do Katendê, descreveu o pai. 

Ele foi morto com mais de 10 facadas durante uma briga política em outubro de 2018 pelo barbeiro Paulo Sérgio Ferreira de Santana, que está sendo julgado nesta quinta-feira (21). A sessão começou 8h e a estimativa é que dure até as 22h de hoje.

Somonai foi a quarta pessoa ouvida durante no julgamento. Antes dela, falou o primo de Moa, Germínio do Amor Divino Pereira, ferido ao tentar evitar o assassinato, e o dono do bar onde ocorreu o crime, João Carlos Costa. Um amigo de Moa também esteve entre as testemunhas.

"É uma dor enorme no coração. É difícil aceitar o acontecimento desse fato até hoje. É uma ferida que jamais vai cicatrizar. Ele não tinha maldade com ninguém, era como uma borboleta, ele estava de costas e foi pego covardemente. Meu pai nunca havia se envolvido em confusão alguma e até hoje nós nos perguntamos como isso aconteceu", afirmou Somonai.  Filha de Moa foi até o bar e já encontrou o pai morto (Foto: Marina Silva/ARQUIVO CORREIO) A denúncia do MP foi oferecida em 18 de outubro de 2018 - 10 dias após o crime, e é sustentada pelos promotores de Justiça David Gallo e Cássio Marcelo de Melo Santos. 

Durante a sessão, o acesso ao salão do júri é permitido ao público em geral. No entanto, por determinação da juíza Gelzi Maria Almeida Souza, que preside o júri, não podem filmagens e nem gravações no interior do salão do júri. Jornalistas foram orientados a apenas filmar e fotografar a área externa do salão.

Antes do início da sessão, o promotor David Gallo conversou com o CORREIO e disse esperar condenação do réu a pelo menos 20 anos de prisão - em razão das circunstâncias do assassinato.  

"O réu foi frio e cruel, de uma perversidade incrível, ele foi covarde. Ele teve uma outra discussão banal, sobre futebol no mesmo dia e saiu do local, teve tempo de premeditar o crime, foi em casa e pegou uma faca. Ele observou o melhor momento que poderia surpreender a vítima e a atacou pelas costas. Podemos caracterizar como um crime covarde, pois ele agiu covardemente", disse Gallo. Barbeiro chega escoltado por policiais na sede do DHPP, na Pituba, horas após o crime, cometido em outubro de 2018 (Foto: Marina Silva/CORREIO) "Ele agiu premeditadamente, foi frio e fútil, sem ar nenhuma chance de defesa à vitima. Nós esperamos a condenação e que a sociedade reconheça, pois nós vamos mostrar as provas nos autos. Vamos reproduzir todas as provas em plenária e vamos mostrar à sociedade a frieza desse crime. Esperamos uma condenação superior a 20 anos", afirmou o promotor. 

Confira como vai acontecer o júri, segundo informações da assessoria do Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) 1º Passo – Sorteio dos jurados O Tribunal possui uma lista de cidadãos que são voluntários para servir como jurados, que foram intimados e estão presnetes para que a sessão. Sete jurados foram sorteados pela juíza-presente para compor o Conselho de Sentença, responsável pela decisão final. Esses jurados serão os responsáveis pelo julgamento do réu, por decidir o mérito da causa, por definir qual das partes está com a razão.   2º Passo – Participam do julgamento pelo Tribunal do Júri Os jurados que formam o Conselho de Sentença; o juiz-presidente; o promotor de justiça; o advogado; o réu; o escrivão; policiais militares; funcionários da justiça, testemunhas de defesa e acusação.   3º Passo – Leitura da denúncia O juiz-presidente faz um breve relatório do processo e realiza a leitura de peças solicitadas por promotoria e defesa.   4º Passo – Serão ouvidas as testemunhas de acusação A acusação é quem inicia os debates orais. Logo após, é dada a palavra a defesa.   5º Passo – Serão ouvidas as testemunhas de defesa   6º Passo – Será ouvido o Réu   7º Passo – Debates para formação do veredicto Os debates orais, em que acusação e defesa terão que levantar em Plenário todas as matérias de seu interesse. O debate oral é o momento em que as partes podem aduzir e sustentar suas teses, no objetivo de convencer os jurados de que estão com a razão. Findos os debates, o juiz-presidente elabora os quesitos, que serão votados pelos jurados. A tese que receber mais votos dos jurados é considerada a vencedora, decidindo-se, assim, o mérito da causa.

8º Passo – A sessão do Júri fará o intervalo para que os jurados preencham os quesitos e formem o veredicto. Os quesitos elaborados pelo juiz-presidente são votados pelos jurados em uma sala secreta. Cada jurado recebe uma cédula contendo as palavras "sim" e "não". A resposta dos jurados a cada quesito é colocada dentro de uma urna, e, posteriormente, lida em voz alta pelo juiz-presidente.

9º Passo – A sessão é retomada O juiz-presidente fará a leitura da sentença.   10º Passo – Duração do julgamento O julgamento pode demorar de poucas horas a até alguns dias. Se for demorar mais de um dia, os jurados são hospedados pelo poder público em alojamentos ou estabelecimentos congêneres. Serão sempre acompanhados por oficiais de justiça, responsáveis por fiscalizar a incomunicabilidade dos jurados.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier