Migração de cérebros: Brasil perde profissionais de alta qualificação para o mercado internacional

Momento mostra necessidade de reverter o quadro

  • Foto do(a) author(a) Carmen Vasconcelos
  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 5 de julho de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Depois de trabalhar por uma década nas maiores construtoras do país, inclusive em obras para a construção de moradias populares, como no projeto “Minha Casa Minha Vida”, o engenheiro civil carioca Fernando Oliveira decidiu prosseguir sua carreira nos Estados Unidos. “Encontrei um grande amigo engenheiro que havia trabalhado comigo e ele me contou que tinha conseguido o greencard, através de uma aplicação EB-2 NIW pela Leão Group. Me contou ainda sobre a alta demanda para profissionais com o nosso perfil nos EUA e me indicou a procurar a equipe para me informar acerca da viabilidade do meu processo”, conta. 

Hoje, Fernando e a família estão há dois meses em Houston. Ele está atuando em sua área profissional e realiza os procedimentos para validação do seu diploma de engenharia nos EUA. A esposa também conseguiu inserção no mercado profissional e os filhos em adaptação na escola pública mais próxima da casa da família, com acompanhamento especial para alunos estrangeiros.

O exemplo de Fernando é cada vez mais comum no país, especialmente nos últimos anos, quando houve uma desvalorização do papel da formação intelectual e da falta de políticas públicas para incentivo de qualificação profissional. O resultado disso é uma saída de profissionais, que buscam crescimento profissional e qualidade de vida. 

Crises

Coordenador do Curso de Gestão de Recursos Humanos da Unifacs, Antônio Gouveia diz que se pode considerar dois grandes fatores para essa saída: a crise econômico-financeira que tem se instalado no Brasil e que já se estende há alguns anos, tem impactado diretamente nos altos índices de desemprego e/ou de geração de novos empregos e oportunidades e a baixa atratividade nas oportunidades que surgem no país, tanto do ponto de vista das habilidades e desafios, quanto do ponto de vista de remuneração. 

“Um exemplo claro desta migração tem sido a ida de doutores/pesquisadores para fora do país, uma vez que não encontram ambientes favoráveis para suas pesquisas dentro do Brasil. Esse desencontro se dá pela pouca diversidade no campo da ciência e, principalmente, devido á precarização dos programas de fomento à pesquisa que o país tem vivenciado”, esclarece o professor, destacando que isso tem afastado pesquisadores dedicados e que impactará em muito no atraso científico e tecnológico do país. “A chamada Diáspora de Cérebros tem preocupado o avanço científico e tecnológico do Brasil, em virtude da ausência de políticas que valorizem a ciência”, completa.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 0,2% da população brasileira possui doutorado, enquanto a média dos países pertencentes à organização é de 1,1%. Se os índices nacionais são baixos, a situação fica ainda mais delicada com a migração dos cérebros.  Mariângela Shoenacker diz que os institutos de pesquisa internacionais estão integrados com as empresas facilitando a formação e o aproveitamento das mentes brilhantes (Foto: Américo Nunes/Divulgação) A diretora da consultoria LHH no Nordeste Mariângela Schoenacker lembra que a saída de profissionais de alta qualificação prejudica enormemente o país, pois eles deixam de contribuir com o crescimento tecnológico, científico, requisitos indispensáveis ao desenvolvimento de qualquer país. “Sem mão de obra qualificada para atender as novas exigências do mercado, o Brasil voltou a cair no ranking da chamada competitividade global de talentos criado pela Insead, uma das principais escolas de administração do mundo.  Este ano está em 80º lugar entre as 132 nações analisadas nesta edição”, explica.

Empreendedores

O especialista em Direito Internacional, advogado, fundador e CEO/consultor de imigração e negócios internacionais da Leão Group, Leonardo Leão ressalta que a advocacia, fisioterapia, profissionais da área de enfermagem, que são profissionais extremamente demandados em solo americano e com extrema valorização. 

“Hoje existem estudos como na área de fisioterapia, de que a demanda de fisioterapeutas em solo americano já é o dobro da oferta que o mercado doméstico de trabalho americano pode oferecer e em 2026 vai atingir o triplo. Gera-se três vezes mais vagas que o mercado pode atender. Então esses profissionais são raros e valorizados”, explica. Leonardo Leão aposta na necessidade de desenvolvimento de uma cultura empreendedora dentro dos centros de formação brasileiros (Foto: Divulgação) Ele lembra que os profissionais vão em busca de uma qualidade de vida melhor para a família, segurança e procuram empreender. “Buscam prosseguir nas carreiras através de seus próprios negócios de forma autônoma. No Brasil, o cenário empreendedor ainda continua negativo, afinal há uma carga tributária muito grande e pouquíssimos incentivos do governo para empreender, ao contrário do cenário que se enxerga nos EUA”, pontua.  Para Leonardo, que foi estudante de uma faculdade federal, ainda falta uma formação nacional que contemple a cultura empreendedora, capaz de gerar empregos, agregando novos valores para a sociedade.

Formação e mercado

Mariângela Shoenacker ressalta outra diferença muito significativa entre os institutos de pesquisa brasileiros e de países como Alemanha, Estados Unidos e França: nos outros países, as universidades, centros de pesquisas e desenvolvimento e as empresas estão conectadas. “Os profissionais desde a universidade trabalham com problemas reais, o que favorece a formação de estudantes mais acostumados à realidade no mercado de trabalho. Esta proximidade facilita a seleção e investimento em mentes brilhantes capazes de solucionar problemas complexos das empresas e do mercado, e portanto incentivam pessoas a se desenvolverem e investirem na carreira de ciência e tecnologia, pois tem campo de trabalho e são valorizados desde o início de suas carreiras”, lembra.

Ela diz que profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) têm sido disputados a peso de ouro, deixando o Brasil com poucas chances de competir com os salários oferecidos na Europa, nos EUA e no Canadá. “Com a expansão do modelo de home office, empresas estrangeiras já contratam profissionais para trabalhar de casa, no Brasil para projetos internacionais. Com o real desvalorizado, os salários ficam ainda mais atraentes na comparação com o mercado local”, completa.

Para o professor Antônio Gouveia, individualmente, a disposição para estudar, pesquisar e se qualificar é uma premissa primordial para os profissionais que querem alcançar a excelência. “Num cenário de economia e organização social tão complexa como em nosso país, precisamos cada vez mais de profissionais bem qualificados e com grande senso crítico-analítico para intervir numa realidade que urge por novos caminhos e soluções para as crises”, finaliza.

De que é formada uma mente brilhante?

Se você quer ter uma carreira de destaque na sua área de atuação, você deve ser responsável por sua própria carreira, ser proativo, observador, curioso, buscar estar atento ao que está sendo feito de novo na sua área de atuação, buscar aprender e desaprender sempre, e ter uma rede de troca e colaboração que o apoia.

•    Inteligência,  •    criatividade,  •    curiosidade,  •    capacidade de superar limites,  •    expressão e vocabulário bem desenvolvidos,  •    visão multidisciplinar,  •    capacidade de solucionar problemas,  •    autonomia,  •    habilidade de aprender rapidamente e de se adaptar