Ministério vai monitorar impacto do petróleo derramado na saúde do povo, diz Mandetta

Voluntários estão participando de mutirões para remover petróleo cru das águas

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  • Da Redação

Publicado em 22 de outubro de 2019 às 18:48

- Atualizado há um ano

. Crédito: Câmara dos Deputados/Divulgação

Durante um evento no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (22), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmou que o governo fará um monitoramento de longo prazo dos impactos do derramamento de óleo na população que está tendo contato com a substância. A iniciativa será similar à de Brumadinho, em Minas Geiras, explicou.

"Nós vamos monitorar Brumadinho, provavelmente, de 10 a 20 anos e, provavelmente, nós vamos monitorar essas pessoas [que estão tendo contato com o petróleo cru] também de 10 a 20 anos. Porque ele pode fazer: ah, isso aqui pode fazer mal pro sistema imunológico, será que pode causar câncer. Só que não vai ser igual a uma epidemia. É uma geração inteira, nós vamos monitorar peixe, comida do mar, isso tudo é feito dentro do monitoramento de desastres ambientais que a gente faz dentro do âmbito do ministério da saúde", diz.

O ministro não deu detalhes sobre como será a metodologia desse monitoramento. O óleo já atingiu 81 municípios nos nove estados nordestinos, incluindo a Bahia. Moradores das regiões atingidas têm se reunido em mutirões voluntários para tirar o óleo das praias.

Poluição persistirá por anos, acreditam especialistas Enquanto as manchas de óleo avançam pelas praias do Nordeste, grupos de voluntários se organizam para ajudar na remoção do poluente, que fica impregnado na areia e nos corais. Nos mutirões, os grupos conseguem recolher grandes porções do material, mas pedaços menores podem ficar vários anos depositados no ecossistema.

Para a bióloga Yana Costa, foi "uma das experiências mais tristes da vida" ir até a Praia de Muro Alto, em Ipojuca, um dos cartões-postais de Pernambuco, para ajudar na força-tarefa. "Havia diversos fragmentos de óleo na praia e na areia. Nos corais, não dava para tirar porque estava impregnado", conta. No Estado, o poluente também chegou nesta segunda-feira, 21, ao Cabo de Santo Agostinho e a outros destinos turísticos bastante procurados, como Carneiros.

Os grupos de voluntários trabalham em turnos, geralmente com início pela manhã. A maior parte sai do Recife até o litoral sul pernambucano. A comunicação é feita, principalmente, pela internet, em grupos de mensagens instantâneas. "Durante a experiência, você sente dois sentimentos opostos. Fica triste por ver aquilo acontecendo com as praias que frequenta. Mas também é bom ver que as pessoas estão se engajando por um bem comum, que é limpar e tentar deixar o mínimo de estrago possível", diz o estudante Yan Lopes, outro voluntário.

Os grupos têm recebido orientação da organização Xô Plástico de se protegerem totalmente com luvas e botas e evitar ao máximo entrar em contato com o óleo. Além da Xô Plástico, organizações como PE Lixo, Recife sem Lixo e Salve Maracaípe recrutam voluntários.

A recomendação dos órgãos públicos é para uso de luva e bota de borracha, além de máscara e calça comprida. Apesar disso, muitos trabalham sem a segurança necessária. "Tem gente que se melou toda de óleo", conta a estudante de Educação Física Louise Foster, que faz limpeza voluntária na Praia de Itapuama, no Cabo de Santo Agostinho. Já o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, afirma que o tamanho do desastre dificulta a distribuição de kits de proteção a todos. "A gente conseguiu material de doação de empresas e a Defesa Civil fez distribuição."

Riscos Especialistas afirmam que o óleo pode desencadear doenças respiratórias e da pele, mas seria necessária exposição prolongada para levar a problemas mais graves. "Petróleos que possuem mais benzeno em sua composição podem, em casos mais graves, provocar alterações neurológicas e até leucemia", diz o médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica da Universidade de São Paulo (USP).

A inalação dos gases liberados com a vaporização do petróleo pode levar a doenças respiratórias, como bronquite e asma. É recomendável que banhistas se mantenham longe do mar e, em caso de contato, lavem imediatamente com água e sabão. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.