Missa do Lava-Pés relembra fiéis da necessidade de união e humildade

Celebração foi presidida pelo Arcebispo Primaz do Brasil Dom Murilo Krieger, na Catedral Basílica de Salvador

Publicado em 18 de abril de 2019 às 21:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes / CORREIO

Quando a aposentada Lindaura Bacelar, 80 anos, saiu de Serrinha, no Nordeste da Bahia, em direção a Salvador, para acompanhar as celebrações da Semana Santa, nem imaginava que seria uma das 12 pessoas que teriam seus pés lavados pelo Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, durante a Missa do Lava-Pés. O ato relembra o feito de Jesus em seus 12 apóstolos e foi realizado na Catedral Basílica de Salvador, na noite desta quinta-feira (18). 

Todos os anos, 12 pessoas são escolhidas para representar os apóstolos na celebração da Quinta-feira Santa. A participação da serrinhense realmente não estava prevista. Neste ano, os integrantes seriam membros de irmandades da Bahia, como a Irmandade São Domingos de Gusmão e a Irmandade da Ordem Terceira. Uma pessoa, no entanto, não pode comparecer e dona Lindaura foi escolhida no local para se juntar com as outras onze pessoas.

A aposentada estava emocionada durante toda a celebração. Entre lágrimas e orações, ela parecia agradecer pelo ocorrido. “Eu fiquei muito emocionada. Não consigo nem falar. Representa o amor de Cristo, o amor que eu tenho por Ele, o nosso Pai Redentor. Isso ajuda a renovar tudo, a fé, a vida. O que nos traz vida é a fé. Eu tenho 80 anos e nunca tinha passado por isso, foi uma coisa de Deus”, disse ela, que afirmou ser católica desde pequena. A aposentada Lindaura Bacelar participou da Missa de Lava-Pés (Foto: Almiro Lopes / CORREIO) Quem também vive dentro das igrejas e tem a vida dedicada ao catolicismo é a freira Ozenita dos Santos, 59, da Paróquia Nossa Senhora dos Humildes. Mesmo vivendo na doutrina desde pequena, ela nunca tinha participado da celebração do Lava-pés.

“Eu fiquei muito emocionada. É de uma humildade muito grande. Somos todos pessoas pequenas e temos os nossos pés lavados. Jesus quis fazer isso como exemplo, uma mensagem. Isso só fortalece a minha fé”, disse ela, admitindo que deixou escapar lágrimas durante a celebração. Foi a primeira vez que a freira Ozenita dos Santos, 59, participou da celebração (Foto: Almiro Lopes / CORREIO) Na tradição do catolicismo, a Quinta-feira Santa é o dia de relembrar a Última Ceia, em que Jesus lavou os pés de seus discípulos. Dom Murilo Krieger lembrou que o ato era comumente realizado por escravos, que limpavam os pés dos senhores que viajavam por estradas empoeiradas. A hóstia também foi distribuída para todos os presentes.

“O ato é um exemplo de humildade. Em um mundo em que todos se consideram importantes e querem ocupar o primeiro lugar e ter poder, Jesus nos ensinou que, na visão dele, o poder existe para servir, para ajudar o necessitado. Para não ficar na teoria, Ele se abaixou, fez um gesto que era de escravo. Os escravos que lavavam os pés de quem chegava de visita, longe, que andava pelas estradas cheias de pó. E Jesus depois, no final, disse: ‘viram o que eu fiz? assim também vocês devem lavar os pés uns dos outros’, devem servir o outro”, narrou o Arcebispo.

Durante a homilia, preparada nos mínimos detalhes por Dom Murilo, ele relembrou a importância da união entre as pessoas. “Jesus nos obriga a olhar o irmão. Devemos estar atentos à necessidade daqueles que estão próximos. Em uma catástrofe, como essa importante que ocorreu na França (o incêndio em Notre Dame), o mundo todo se une, mas nas pequenas coisas do dia, na rotina, as pessoas que necessitam estão esquecidas. Temos que nos apoiar nessas pequenas coisas, que são aquelas que marcam a vida de cada um”, defendeu. Lava-Pés foi realizado em 12 pessoas escolhidas pela igreja (Foto: Almiro Lopes / CORREIO) Retorno O Arcebispo ainda destacou a importância de retornar à Catedral Basílica de Salvador para as celebrações da Semana Santa. No ano passado, por exemplo, a missa do Lava-Pés foi realizada na Igreja São Pedro dos Clérigos, que também fica no Terreiro de Jesus, porque a Catedral estava em reforma.

“Para nós, é uma alegria retornar após três anos. Voltar àquela que é a igreja mãe de todas as igrejas de Salvador, com toda essa beleza. É um outro sentido. As pessoas se identificam com essa catedral porque a história, a vida, a alegria e a beleza transparecem. Para mim, é uma alegria maior poder presidir essa comemoração aqui”, disse.

Programação da Semana Santa A Igreja se prepara para vivenciar a Semana Santa, tempo forte que recorda a Paixão Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Neste período, também chamado de Semana Maior, as 101 paróquias e a diaconia da Arquidiocese de Salvador contam prepararam uma programação especial.

19 de abril – Sexta-feira da Paixão: Às 15h haverá a Exposição do Calvário, na Igreja São Domingos de Gusmão (Terreiro de Jesus). Dom Murilo presidirá a Liturgia da Paixão, a partir das 16h, na Catedral Basílica. Por volta das 17h acontecerá a veneração da imagem do Senhor Morto, também na Catedral. Neste dia também acontece a Liturgia da Paixão na Igreja do Carmo, a partir das 15h, seguida da procissão do Senhor Morto. Nesta procissão os fiéis conduzem a imagem da autoria de Francisco Chagas, conhecido como “O Cabra”.

20 de abril – Sábado Santo / Vigília Pascal: No Sábado Santo, a Vigília Pascal terá início às 18h, na Catedral Basílica.

21 de abril – Páscoa: Para celebrar a Ressurreição do Senhor, Dom Murilo presidirá a Missa no Domingo de Páscoa, às 10h, na Catedral Basílica.