Mistura fácil: Gil e Baiana System fazem show histórico

1º 'Encontros Tropicais' juntou duas gerações distintas, mas nem tanto

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  • Alexandre Lyrio

Publicado em 3 de novembro de 2019 às 22:46

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Gil e Russo: interceção musical (Foto: Tiago Caldas / CORREIO) Primeiro, subiu ao palco um dos maiores artistas da história da música brasileira. Depois, um dos nomes mais exaltados da atualidade. Duas gerações distantes, mas nem tanto. Aliás, nem um pouco distantes quando se trata de identidade e influências políticas e musicais. Gilberto Gil e BaianaSystem na mesma noite já seria incrível! Agora, imagine eles juntos no mesmo palco, como aconteceu nesse domingo no evento Encontros Tropicais, no Parque de Exposições, promovido pela Devassa. Entre o show de um e do outro, ficaram mais de 40 minutos tocando o mesmo repertório, na mesma vibe, a mesma levada. Foi histórico!

Apesar das trajetórias temporalmente longínquas, uma mistura fácil. Sons aparentemente distintos, mas cheios de interseção. “Eles escolheram todas. Eu só escolhi uma”, entregou Gil, sobre as músicas que tocou ao lado de Russo Passapusso e Roberto Barreto. Nos Barracos da Cidade, Extra, Sarará Crioulo e Emoriô estavam na lista, encerrada com a mescla de Água de Beber, de Tom Jobim, com Água, da BaianaSystem.

“No ponto futuro, o doce e o sal vão se misturar”, diz a letra da última canção, Água, quase uma metáfora do mix entre a docilidade de Gil e a batida salgada da Baiana. Bonito de ver Gil cheio de vitalidade e voz firme cantando, tocando e dançando ao lado de Russo  e Robertinho. “Viva a música brasileira”, exaltou Russo.   Gil ou Baiana? Por quem você está aqui hoje? A pergunta que fizemos ao público despertava dúvidas. Boa parte era apaixonada pelos dois. “Rapaz, aí você me coloca em uma situação difícil. Gil é f...! Baiana é fantástico! Vim pra ver os dois”, disse a vendedora Alessandra dos Santos, 32 anos. Não tinha idade para amar um ou outro.

Era possível encontrar a velha guarda reverenciando Baiana, como a professora universitária Inês Carvalho, 67. “Russo incensa os mais velhos. Vim por causa da Baiana, até porque meu coração tropicalista bate mais por Caetano. Pena que muita gente da minha idade não enxerga que novos trabalhos de vanguarda estão surgindo”, disse Inês, ao lado da filha, a jornalista Renata Carvalho, que, diferente da mãe, gosta mais de Gil. “Gil é imbatível”.

Cultura Negra Não dá pra negar a interceção entre os trabalhos de ambos. “Os dois são a manifestação genuína da cultura negra. É a nossa identidade! As músicas de Gil são atemporais, mas os dois estão aí gritando contra o racismo e a intolerância”, disse a advogada Luanda Rodrigues, 34, que foi para ver Gil. “Eu acho Baiana mais incisiva no protesto”, opinou a estudante de Relações Públicas Aline Lima, 21, concordando que Gil é mais poético.

Antecedidos por Miniestereo Público e Luedji Luna, Gil e Baiana atenderam à expectativa do público. O tropicalista tocou seus grandes sucessos. Abriu logo com Palco e seguiu com Tempo Rei e A Novidade. Fez a galera sambar com Andar Com Fé, aliviou os corações sobressaltados com Drão e tocou até Pro Dia Nascer Feliz, de Cazuza. “Gil, eu te amooooo”, gritou em coro o povão. “Eu também te amo. Amor incondicional”, respondeu, emendando com Vamos Fugir. 

Gil, alias, não fugiu do protesto em forma de “Lula Livre” que veio do público. “Tomara que brevemente ele possa estar no nosso convívio de novo”, disse Gil, ovacionado. Agora sozinha no palco, a Baiana botou ainda mais lenha, mostrando todas “As veias abertas da América Latina” em Sulamericano, Lucro, Saci Pererê e muito mais. “Nossa cultura em primeiro lugar. Educação em primeiro lugar! Respeito em primeiro lugar!”, pediu Russo.