Mitos e verdades sobre o exercício físico depois dos 60 anos

Boxe aos 74 anos, meia maratona aos 76 e travessia aos 60: conheça quem busca esportes de alto rendimento

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  • Laura Fernades

Publicado em 11 de janeiro de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho
O arquiteto Paulino Fukunaga, 76, na Corrida do Trabalhador, em maio de 2019 por Foto: Tomaz Neto/Divulgação

Com 100 anos, o indiano Fauja Singh correu 42 km e se tornou o homem mais velho do mundo a completar uma maratona. Além de bater o recorde mundial, em 2011, o atleta que hoje tem 108 anos quebrou todos os tabus ao provar que nunca é tarde para se exercitar: começou com 80 anos e fez sua primeira prova com 89. Além de Fauja, cada vez mais pessoas têm buscado esportes de alto rendimento depois dos 60 anos e questionado mitos em torno do exercício físico na chamada terceira idade.

E nem precisa ir longe para encontrar exemplos inspiradores: cada vez mais atletas buscam adrenalina, endorfina e outros hormônios ligados à atividade física, na Bahia. É o caso de Abílio Maia, 74 anos, engenheiro agrônomo aposentado que se enche de orgulho ao contar que corre 6 km por dia, faz musculação e luta boxe desde os 71. “É um esporte puxado, o pessoal fica admirado porque acha que não é possível”, conta Abílio, sem esconder a satisfação de servir de exemplo para os colegas, “todos novinhos”.

“Faço boxe por prazer, sempre foi um sonho de criança”, conta ele, que só investiu nas aulas após a morte do pai, que encarava o boxe como incentivo à violência. Além de reforçar que se dedica à prática só por causa do bem-estar, o atleta lembra dos efeitos positivos no corpo. “Posso garantir que fico muito feliz após os exercícios, mesmo que me sinta um pouco quebrado”, conta Abílio.

Boa praça e cheio de apelidos como Marlon Brando e Comendador, o atleta cita ainda a disposição extra que o exercício traz. Há quatro anos, por exemplo, dançou twist em uma festa de formatura de sua turma e contagiou todo mundo. “A gente rejuvenesce com exercício, com amor e com a família”, sorri. Abílio Maia, 74 anos, faz boxe desde os 71: “Sonho de criança” (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Disciplina Treinador de Abílio na academia Bodytech, Jailson Santos, 48, conta que o aluno “tem um desempenho acima da média para um homem com sua idade”. Abílio revela o segredo: dedicação, disciplina e boa alimentação. O suco verde não falta no café da manhã que é reforçado e inclui abacate, mamão, pão integral com queijo, beiju e ovos. “Não tomo remédio nenhum”, conta, orgulhoso.

Responsável por treinar atletas de alto rendimento, seu professor destaca que apesar do boxe ser intenso, há adaptação de treino para cada idade e nível técnico. Mas antes de começar, é importante que o aluno faça uma série de exames médicos “que atestem sua condição física para a prática esportiva”, explica Jailson, cada vez mais procurado por pessoas com mais de 60 anos.

Então, todo mundo pode fazer exercício físico depois dos 60 anos? Sim, mas depende da avaliação médica e de uma lista de questões que precisam de atenção. Quem faz esse alerta é o geriatra Leonardo Oliva, 37, médico do Hospital Aliança e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia Regional Bahia.

A avaliação, explica o profissional, deve vir acompanhada de uma atenção especial com a nutrição e a hidratação, já que “à medida que a gente envelhece, a quantidade de água diminui no corpo”. Da mesma forma, deve haver um cuidado com o equilíbrio do corpo e as articulações, pois a tendência é haver desgaste maior depois dos 60 anos. 

“O grande mito é que a idade vai ser definidora e que o corpo não vai ser capaz de aguentar aquilo. Isso, na verdade, vai depender das escolhas que você fez ao longo da vida”, explica Oliva.“Hoje, a gente consegue chegar a uma idade avançada com uma capacidade física muito boa. A pessoa que chega aos 60 não é mais um ‘velhinho’, mas um adulto jovem”, reforça. Analice Andrade, 63, aprendeu a nadar com 48 anos e já fez a travessia Mar Grande-Salvador três vezes (Foto: Acervo pessoal) Vício Esse é o caso da secretária Analice Andrade, 63, que já fez a travessia Mar Grande-Salvador três vezes, uma delas com 60 anos, e chegou a ser campeã em sua categoria. Acontece que Analice aprendeu a nadar com 48 anos. De lá para cá, já perdeu as contas de quantas medalhas e troféus ganhou, apesar de estarem todos reunidos em cristaleiras que decoram sua casa.

“Gosto de colocar o rosto dentro da água, nadar e terminar a prova sorrindo”, conta Analice. “A gente entra em adrenalina, o corpo entra em parafuso. Depois que bota a cara na água, você esquece de todos os problemas. Meu Rivotril é a minha natação”, brinca.

O arquiteto Paulino Fukunaga, 76, é outro exemplo de ‘adulto jovem’. Fez a Meia Maratona Farol a Farol (21 km), em 2018, e está se preparando para correr 25 km esse ano, em Aracaju. “Quando não corro, sinto falta da endorfina. Você cria um vício”, confessa, sobre o hormônio do bem-estar. “A vida é um conjunto de atividades, né? Adrenalina do esporte radical, adrenalina familiar, da relação de trabalho, entre amigos. É isso que é a vida”, sorri.

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Mitos e verdades sobre o exercício físico depois dos 60 anos

Existe uma idade limite Mito. Para praticar uma atividade física não existe uma idade limite. O desempenho da pessoa vai depender das escolhas que ela fez ao longo da vida e de como envelheceu. 

Nunca é tarde para começar Verdade. O indiano Fauja Singh começou a correr com 89 anos e aos 100 anos completou 42 km. Hoje ele tem 108 anos.

Doenças impedem a atividade Mito. Não é o fato de ter doenças que impede a prática da atividade física. Doenças como diabetes e hipertensão não servem de contraindicação: basta você controlá-las com acompanhamento médico.

Atleta veterano dispensa atenção Mito. Os atletas que envelhecem atletas também precisam de atenção especial. Sendo praticante ou não, é necessário ter um olhar diferenciado sobre a saúde na terceira idade.

Não é preciso fazer reposição hormonal Verdade. Existe uma queda fisiológica dos hormônios à medida que a pessoa envelhece e não é necessário usar doses acima do que o corpo produz. A reposição hormonal aumenta o risco de doenças cardiovasculares, o risco de trombose, de AVC e de diversos tipos de câncer.