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Gil Santos
Publicado em 15 de março de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Enquanto uma multidão se divertia na folia do Rei Momo em Salvador, em Maragojipe, no Recôncavo, a população passava sufoco. Na semana passada o município decretou estado de emergência devido à estiagem que assola a região, e a homologação do decreto foi publicada nesta quinta-feira (14) no Diário Oficial do Estado. A falta d’água é tamanha que as aulas precisaram ser suspensas e tem bairros há 30 dias na seca.>
A população ficou esperançosa quando viu as primeiras nuvens de chuva surgirem no horizonte, no início do verão, mas a água que caiu do céu foi pouca. Em janeiro, a situação da barragem que abastece os quase 50 mil habitantes do município deixou a prefeitura preocupada. O nível estava abaixo no normal, uma situação que não era vista desde 2002. Foram instalados cerca de 30 reservatórios coletivos (Foto: Divulgação/ Prefeitura) Segundo o secretário de Governo, Jiomar Mendes, a primeira solução foi contratar carros-pipa para ajudar no abastecimento do centro e dos cinco distritos da cidade. “Foi uma despesa que a gente não esperava. O município tem apenas um carro-pipa, com capacidade para 2 mil litros, e contratou outros por R$ 500 cada para ajudar no atendimento à população”.>
No dia 26 de fevereiro, às vésperas da folia, o abastecimento foi racionado pela Embasa, na tentativa de atender a todos os moradores. Mas alguns distritos penaram. De acordo com o secretário, tem bairros que estão sem água há mais de 30 dias.>
“Essa é uma questão climática, a gente sabe disso. A barragem que abastece a cidade foi construída na década de 1960 para atender a 20 mil habitantes, hoje temos o dobro de moradores. Ano passado não tivemos muitas chuvas e esse ano praticamente não choveu. Isso, mais o desmatamento, afetaram o abastecimento da barragem”, contou Mendes. Nove carros-pipa estão sendo usados no atendimento à população (Foto: Divulgação/ Prefeitura) Segundo a Embasa, o rio Cachoeirinha, principal manancial da região, também está baixo. A empresa disponibilizou oito carros-pipa para atender à população e entregou cerca de 30 reservatórios coletivos com 5 mil litros, cada, para serem instalados em pontos e bairros estratégicos da cidade.>
A medida ajudou, mas, segundo o município, ainda é insuficiente. Moradores fazem filas enormes para conseguir um balde com água e a situação pode ficar ainda pior se não chover nos próximos 10 dias. Moradores fazem fila para abastecer baldes em carro-pipa (Foto: Divulgação/Prefeitura) Prioridades A água que chega através dos carros-pipa está sendo destinada primeiro para os 12 postos de saúde e para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h). A água usada na limpeza da cidade também foi racionada e os mais de 6,5 mil alunos da Rede Municipal ficaram sem aulas na segunda e terça-feira desta semana, por falta d’água.>
Um decreto publicado no Diário Oficial do Município determinou que as atividades nas escolas só seriam retomadas na próxima semana, mas foi revogado e os estudantes voltaram para as salas de aula na quarta-feira (13). São 49 escolas e 5 creches, sem contar as instituições estudais e particulares.>
O funcionamento das repartições públicas ainda não foi afetado, mas a prefeitura não descarta a possibilidade de ter que ajustar os horários. Por enquanto, os servidores foram orientados a economizarem ao máximo o consumo de água. O município pretende inaugurar ainda este ano uma maternidade, mas está preocupada com a falta d’água. A falta de chuva agravou a situação (Foto: Divulgação/ Prefeitura) A situação está deixando os ânimos exaltados. Esta semana moradores dos distritos de Nagé e Coqueiro fizeram piquetes para obrigar os carros-pipa a abastecerem primeiro os reservatórios da região e, somente depois, segui para o centro da cidade.>
A costureira Elizabete Lima, 65 anos, contou que está usando a água da cisterna de um vizinho para lavar roupa, limpar a casa e tomar banho. Ela contou que desde que a água parou de cair na torneira teve que substituir o filtro pelo garrafão de água mineral, que custa R$ 8 cada. >
"Tem oito dias que a água foi embora e, desde então, é meu vizinho quem está me ajudando. Uso a água da cisterna para fazer as coisas de casa, mas tenho que comprar água mineral para beber, e às vezes até para tomar banho. Nesse calor, a gente consome muita água. O prejuízo está sendo grande", contou. >
A idosa disse que no bairro do Cajá, onde ela mora, não tem reservatório coletivo nem carro-pipa. Quando não é possível usar a cisterna do vizinho a solução é pagar para um rapaz carregar os baldes com água do reservatório mais próximo até a casa dela. "Nunca passei por uma situação dessas", afirmou.>
A prefeita de Margogipe, Vera Lúcia (PR), está em Brasília (DF) discutindo com a bancada baiana no Congresso, entre outras demandas, a situação da estiagem na região. A esperança do Município é de que após a homologação do estado de emergência, ocorrida nesta quinta-feira (14), o processo para contratação da empresa que fará a construção de uma adutora na cidade seja acelerado.>
Já a Embasa informou que a construção será realizada. Está prevista, para os próximos 60 dias, a conclusão da implantação, em caráter emergencial, da adutora. Ela terá 23 quilômetros para levar água da estação de tratamento de Muritiba, também no Recôncavo, até Maragojipe.>
Estado de emergência Maragojipe foi o único município do Recôncavo a decretar estado de emergência por conta da estiagem até o momento, mas outras 189 cidades do estado estão na mesma situação. Alguns, em condição mais grave, já falam de seca.>
Segundo a Superintendência de Proteção e Defesa Civil do Estado (Sudec), o processo de Maragojipe já foi encaminhado para a Defesa Civil Nacional para o Reconhecimento Federal.>
Na terça-feira (12), representantes da Embasa se reuniram com lideranças políticas e comunitárias de Maragojipe depois que os moradores fizeram uma manifestação na porta do órgão, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), em Salvador.>
Em nota, a Embasa informou que ficou acertado que a cobrança de água e esgoto ficará suspensa a partir de 26 de fevereiro, quando começou o racionamento, até a situação ser normalizada.>
“Sobre esta decisão, é importante ressaltar que, nos próximos dias, haverá a entrega das contas relativas ao fornecimento de água pela rede distribuidora antes do dia 26/02 e com vencimento no mês de março”, diz a nota.>