Moradores de Piatã calculam estragos depois de temporal

Chuva provocou alagamentos e destruiu móveis

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  • Gil Santos

Publicado em 11 de maio de 2019 às 22:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Passava das 3h quando o professor universitário Nilton Góes, 69 anos, acordou com o telefonema de um vizinho. Ao sentar na cama, os pés não encontraram o chão, mas uma enchente dentro do quarto. A casa em que ele mora com a esposa fica no Condomínio Santa Bárbara, em Jardim Placaford, Piatã, e foi uma das inundadas durante o temporal que castigou áreas de Salvador e Lauro de Freitas entre a noite dessa sexta-feira (10) e manhã de sábado (11). 

Na sala, sofá e livros encharcados. Na cozinha, armários molhados e alimentos perdidos. O álbum de fotos da família foi parar na garagem, boiando, ao lado de três carros, um Honda Fit, um HB20 e um Captur.    “O vizinho ligou para avisar do alagamento. Quando cheguei no portão, a água estava no meio da canela e todos já estavam acordados. Desliguei a energia da casa, para evitar acidentes, e levei minha esposa para a casa de meu cunhado, que fica aqui perto”, contou, enquanto avaliava os estragos.  Nilton calcula os estragos (Foto: Arisson marinho/ CORREIO) Alguns metros mais à frente, 14 idosos de um asilo ficaram ilhados, assim como outros moradores. O engenheiro civil Roberto Santana, 55, contou que estava preocupado com a mãe que tem 85 anos e precisou se abrigar às pressas no andar de cima do imóvel. "Eu só vejo minha mãe quando ela chega na janela. Não consigo entrar na casa dela e ela não consegue sair", disse. 

A mesma situação foi enfrentada pela assistente acadêmica Andrea Gonzaga, 40, que tem dois pais idosos e um irmão tetraplégico. O rapaz foi resgatado de bote com a ajuda do Salvar, mas o pai e a mãe dela permaneciam ilhados. "Meu marido e eu vamos entrar na água e ver o que podemos fazer. Meu pai me ligou durante a madrugada sem saber o que fazer. A casa inteira foi alagada", contou, enquanto se preparava para enfrentar a enxurrada. 

Os moradores dizem que há 17 anos o condomínio não era alagado e que isso aconteceu depois que a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado (Conder) começou a estreitar as margens do Rio Jaguaribe para uma obra. Procurada, a Conder afirmou que as obras realizadas naquela região não interferem no sistema pluvial da cidade. Confira: 

"A Conder informa que as obras de macrodrenagem realizadas no Rio Jaguaribe em nada interferem no sistema pluvial da cidade. Ao contrário, quando o serviço estiver concluído, vai facilitar o escoamento das águas da chuva. A Conder também esclarece que as obras de macrodrenagem do Rio Jaguaribe estão concentradas em dois trechos: nas imediações do clube Sesc de Piatã e na área adjacente à Avenida Paralela. As ruas mencionadas no bairro Jardim Placaford estão afastadas da área com obras em execução, portanto não tem ligação com as intervenções sob a responsabilidade do Governo do Estado", diz a nota. 

A chuva começou a cair na noite de sexta e seguiu firme durante a madrugada. Em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana, mais 370 pessoas ficaram desalojadas, segundo a prefeitura. Alguns moradores precisaram ser resgatados de jipe e até de barco. O município decretou Situação de Emergência por 90 dias, depois de registrar 206 milímetros de chuva em 72 horas. A ponte que leva ao Litoral Norte foi inundada pelas águas do Rio Ipitanga e o trânsito foi interrompido. 

O fornecimento de energia também foi afeado, tanto em Lauro de Freitas, como em Salvador. Em Portão, moradores disseram às 21h que estavam sem luz a mais de 14h. A Coelba se pronunciou em nota. Confira:

"Com relação à solicitação de informações sobre interrupção no fornecimento de energia no município de Lauro de Freitas, a Coelba informa que em decorrência das fortes chuvas, associadas a ventos de maior intensidade, foi registrado um aumento no número de ocorrências neste sábado (11/05). Em  alguns pontos do município, por causa dos alagamentos, foi necessário o desligamento da rede elétrica a pedido do Corpo de Bombeiros para a realização do trabalho de resgate da população ilhada com segurança. A Coelba reforçou o número de equipes em campo e atua em parceria com diversos órgãos públicos. Em muitos locais houve dificuldade de acesso dos técnicos da Coelba para a recomposição da rede elétrica. A concessionária continua com atuação, durante toda a madrugada, para restabelecer o fornecimento de energia o mais rápido possível".

Entre as 17h da sexta e 5h de sábado, regiões de Salvador como Nova Brasília, Pituaçu e Mussurunga foram as que enfrentaram temporais mais fortes. Nova Brasília, por exemplo, chegou a acumular 130,4 mm no período de 12 horas. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média para todo o mês é de 280 mm.  (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Neste sábado, a Defesa Civil de Salvador registrou 163 ocorrências até as 17h. Entre elas, 65 alagamentos de imóveis, dois alagamentos de área, 13 ameaças de desabamento, sete de deslizamento, duas  de desabamento de muro,  cinco árvore caídas,  cinco desabamentos parciais, 41 deslizamentos de terra, três infiltração e duas orientações  técnicas. Não houve registro de vítimas. Servidores da prefeitura estão acompanhando a situação e o número de desalojados ainda será contabilizado. A previsão é de que o mau tempo siga até quarta.