Moradores denunciam morte de gatos em condomínio de Jaguaribe

Gatos morrem por envenenamento e atropelamento, e Ministério Público é acionado; acordo não estaria sendo cumprido

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  • Wendel de Novais

Publicado em 19 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

Moradores do condomínio Veredas do Sol, em Jaguaribe, denunciam que gatos estão sendo mortos no local. Os felinos sofrem diversas violências que os levam a óbito, sendo que envenenamento, atropelamento e espancamento são as práticas mais comuns. A queixa é que os gestores do condomínio são omissos.

O CORREIO recebeu imagens de gatos mortos no local e procurou a administração, que diz que esse tipo de prática nunca existiu.

O Veredas do Sol já foi acionado na Justiça anteriormente por conta de maus-tratos contra animais. A denúncia foi acolhida pelo Ministério Público (MP) e remetida para juizado especial criminal, mas foi arquivada após uma transação penal que acordava com o condomínio o cumprimento de exigências como o combate à violência contra animais e a instalação de cartazes de conscientização para os moradores. Moradores denunciam supostos ataques a gatos (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Alguns afirmam, no entanto, que esse acordo não foi cumprido pela administração. O MP foi procurado para informar se as exigências estariam sendo cumpridas, mas afirmou que a transação penal referente à denúncia anterior já teria sido homologada e que não poderia falar sobre a nova acusação, já que esta não foi denunciada ao órgão.

Uma das pessoas que fazem a denúncia agora, e que preferiu não se identificar, afirma que, antes, existiam gatos aos montes no local e esse número diminuiu por conta da quantidade de ataques que resultaram na primeira denúncia ao Ministério Público. “É uma história de muito anos, uma prática bem antiga. Já vi muitos gatos mortos através de envenenamento, outros também foram mortos por espancamento e até atropelamentos repetidos aconteciam, o que faz parecer que seja proposital. Como tinha muitos gatos aqui, começaram a exterminar esses animais, sem o combate da administração”, disse. 

“É um problema crônico, acontece há mais de 20 anos. Já houve queixas anteriores, que não foram adiante por não chegar até o MP. Agora, criamos um grupo e a coisa tomou corpo. Nós, além de vermos esses animais depois do óbito, também percebíamos que os muitos gatos iam desaparecendo de maneira repentina e  a administração mandava recolher os mortos e não fazia nada sobre o assunto”, contou outro morador.

Uma vizinha perdeu um animal. “Essa transação penal foi assinada no dia 15 de outubro de 2019 e no dia 23 do mesmo mês foi encontrado um animal morto por envenenamento. E, em janeiro deste ano, o meu gato foi encontrado morto por envenenamento e com uma suspeita de pescoço quebrado”, relatou a fonte, que afirma que seis animais foram encontrados mortos depois da assinatura do acordo.

O advogado e também morador do Veredas do Sol, Sérgio Nogueira, nega qualquer tipo de extermínio e que, durante o período de 25 anos que reside no local, nunca ocorreu nada do tipo. “Não existe. Isso é uma história de terror que não tem nenhum fundo de verdade. Existem algumas pessoas que não têm noção do prejuízo que vai causar para toda comunidade aqui. Essa denúncia é construída para causar um dano à imagem do condomínio e às pessoas que moram aqui”, declarou.

Nogueira confirmou o acordo feito com o MP há pouco mais de um ano que exigiu que posições da administração fossem redefinidas em relação à conduta de proteção aos animais.

“Depois de um ano de processo, o condomínio fez um acordo com o MP. Isso fez com que nós convidássemos uma ONG especializada em cuidar de gatos para fazer castração, houve uma orientação para administração sobre como cuidar dos gatos e foi acertada também a instalação de placas que alertam para o cuidado com os animais. Tudo isso foi feito”, garante. Placas, espalhadas pelo condomínio, orientam respeito aos animais (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Uma moradora afirmou que, apesar de acontecer com menor frequência hoje, o problema ainda é uma realidade. “Os gatos continuam desaparecendo, como antes, mas não sei dizer se todos estão sendo mortos quando desaparecem. Mas, depois da transação penal, eu já vi três ou quatro mortos por aqui. Tem gente que teve gato envenenado depois das medidas deles, então não é algo que acabou”, lembra.

Hostilidade Além das acusações relativas aos ataques aos felinos, as denúncias também relatam uma série de constrangimentos feitos contra quem fez a denúncia junto ao MP. Isso é o que um dos moradores que conversaram com o CORREIO. "As pessoas que participaram do abaixo-assinado e apoiaram a denúncia começaram a ser alvos de ataques, de atitudes hostis. E eles continuam nos agredindo por tentar defender esses animais indefesos. Sofremos todo tipo de constrangimento", informou. Denunciantes relatam hostilidade por parte de moradores (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Uma das fontes ouvidas pelo CORREIO disse que, em determinada situação, ela foi recebida aos gritos por vizinhos quando ia alimentar os gatos no local onde permanecem. "Eu sofro demais. Já sofri hostilidade na frente de outros moradores por estar indo alimentar os gatos com um alimento que eu custeio e, mesmo assim, fui recebida aos gritos e com todos os tipos de tratamento que você possa imaginar porque não queriam que eu desse comida. E olha que eu não estava fazendo isso na porta de ninguém. Tem um espaço onde só ficam gatos", contou.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela e da subchefe Monique Lôbo