Moradores do IAPI vivem sob ameaças de facção criminosa: 'mal podemos falar'

Há quatro meses grupo ocupou a localidade da Rocinha e pichou portões e muros de casas

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  • Bruno Wendel

Publicado em 27 de agosto de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Para onde se olha na Rua Clementino Heitor de Carvalho, as iniciais pichadas nos muros, portas e janelas alertam quem vem ditando as regras na localidade da Rocinha, no bairro do IAPI. Até outro dia, moradores dormiram sob o domínio da facção Ordem e Progresso (OP). Mas há quatro meses, o Bonde do Maluco expulsou os rivais e ocupou a região, demarcando o território com a sua sigla “BDM” ou “Tudo 3”.  Numa tentativa fracassada de recuperar o espaço, um grupo de homens armados da OP invadiu a Rocinha na madrugada desta quinta-feira (26). Houve um intenso confronto com o BDM e um dos integrantes da OP acabou morto numa escadaria da Segunda Travessa da Horta. “Encontramos pelo menos 50 cápsulas de diversos calibres, como pistolas ponto 45, 40 e 380 e revólver calibre 38”, declarou o delegado Sérgio Schlang Júnior do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHHP), que acompanhou o trabalho dos peritos.   Mas esta não foi a única situação de violência recente no bairro. Integrantes do BDM fizeram reféns uma família na noite desta quarta-feira (25). Após negociações com equipes especializadas da Polícia Militar, a as vítimas foram libertadas.Domínio

Até o início da tarde deste quinta o rapaz não tinha sido identificado, mas segundo alguns moradores, que concordaram falar na condição de anonimato, a vítima pertencia à OP, antigo grupo que domina o tráfico local. “O cara morto e os comparsas foram expulsos há quatro meses e ontem voltaram para ocupar novamente, mas não esperavam tanta gente do BDM”, contou um morador. Uma moradora disse que na ocasião que o BDM invadiu a região, houve uma intensa troca de tiros. No dia seguinte a sigla BDM foi colocada nas paredes de várias residências, inclusive a dela. “Já foi dito que a gente não pode tirar, que é ordem pra manter, caso contrário já sabe como é, né?  Termina como o outro, morto”, disse ela.  As siglas da facção estão espalhadas por todo o canto na Rocinha (Foto: Arisso Marinho/CORREIO) As pichações são também encontradas nos portões das garagens, nos postes de iluminação pública, batentes e no chão para delimitar o território e impor medo à população local. “Quero sair daqui, mas ninguém quer comprar a minha casa. Ontem foi tanta bala, que tem marca de tiro para todos os lados”, contou.   Em alguns casos, a sigla BDM vem acompanhada de "Tudo 3" - um código que surgiu no sistema prisional que faz referência à extinta facção Caveira, berço do BDM.  "Eu não faço ideia do significa de cada letra, mas sei que coisa boa não é", disse uma moradora, dona de um salão de beleza no bairro.  

Com a chagada do BDM à Rocinha, o tráfico de drogas ficou fortalecido. “Antes, os traficantes daqui a gente conhecia e não mexia com a gente. Hoje, são pessoas que ameaçam os próprios moradores, andam armados a qualquer hora e vendem droga a todo instante. A gente nem pode falar muito por aqui”, disse um morador, antes de fechar a janela. 

Reféns

Uma família foi mantida refém por uma quadrilha, na noite desta quarta-feira (25) na localidade da Divinéia no IAPI, em Salvador. Após negociações com equipes especializadas da Polícia Militar, a família foi libertada. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, a ocorrência foi iniciada às 20h, quando guarnições do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto) da 37a CIPM (Liberdade) flagraram um grupo armado. Durante cerca de 2h, os criminosos divulgaram vídeos nas redes sociais. Os homens apareciam armados. E afirmavam que queriam sair do local vivos. Nas imagens é possível ver uma mulher e uma criança, além de um homem ensanguentado. Em outro vídeo compartilhado por aplicativos de mensagens, um homem mostra um refém e filma dois policiais na entrada do local. Um dos reféns teve um ferimento leve na testa e os outros dois saíram ilesos. Na casa, os PMs apreenderam uma submetralhadora calibre 9mm, duas pistolas calibre 380, carregadores, munições e uma placa balística frontal, em aramida.