Moraes Moreira relembra época de ouro da Praça Castro Alves

Primeiro cantor de trio estava acompanhado do filho Davi Moraes: "Eu sou praticamente o dono dessa praça"

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  • Tailane Muniz

Publicado em 5 de março de 2019 às 21:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto/Evandro Veiga

Aos olhos de Castro Alves, em um entardecer que, dessa vez, chegou com o sol se pondo tímido, o Carnaval do Centro Histórico mostrou, nesta terça-feira (5), último dia de festa, que a Bahia é de todos os sons, todas as cores e, também, de tempo de relembrar folias que tiveram seu auge aos pés do poeta.

Quem deu o recado foi Moraes Moreira, assim que subiu no trio, ao lembrar de um Carnaval que deixou saudades. "Eu sou praticamente o dono dessa praça. Tô aqui desde que Dodô e Osmar promoviam o encontro dos trios. Aqui, um espaço que há alguns anos estava abandonado, a alegria se faz desse jeito", afirmou, ao cantar sucessos como Chame Gente.

Do Pelourinho à Castro Alves, os foliões esbanjaram irreverência e satisfação por mais um ano de festa que abriu espaço para todos os públicos e agradou a muitos pelo resgate de uma festa que começou ali, há cinco décadas, com os anfitriões Dodô e Osmar.

Acompanhado do filho Davi Moraes, Moreira dividiu o espaço com um trio de respeito. No comando do projeto Elas por Elas, as cantoras Kátia Guimma, Márcia Short e Elaine Fernandes mostraram que o Carnaval de Salvador é um espaço democrático e também das mulheres.

Com o dia ainda claro, as meninas iniciaram os trabalhos ao som da música Eva. Os versos da canção, que fala sobre um dia em que o sol não apareceu, até parecia refletir o momento. O sol se pôs sem nem dar tchau.  As linhas seguintes - "o nosso amor na última astronave, Eva", então, poderiam legendar a foto de um casal de branco - ele de Gandhy -, que se encarava com o olhar apaixonado entre uma canção e outra.

 Ela, a nutricionista Iata Ramos, caloura na folia soteropolitana, disse que é a maior festa que já viu. "Eu acho importante o resgate da cultura, da tradição da festa no Centro. Estou amando cada detalhe", disse. Seu par, o personal Bruno França, 35, mora em Salvador, mas já não frequentava a festa.

"Fiquei seis anos sem curtir, porque, pra mim, isso aqui é o que vale. A gente chegou a acreditar que o Carnaval do Centro ia acabar, é muito bom ver que está tudo aí, firme e organizado", comemorou, ao lado de sua Eva.

Carnaval de verdade Há pelo menos 20 carnavais atrás, a empresária Andréa Garrido, 48 anos, já curtia a festa no Centro. Moradora da Barra, no Circuito Dodô, comentou que sempre preferiu a folia na região central: "Eu amo tanto tudo isso aqui, que cheguei a chorar com o repertório. Algo que me traz saudade de um tempo que pode ser resgatado, só depende de nós. Quando não havia violência e o Carnaval era sinônimo de paz e amor. E ainda pode ser assim".

Acompanhada da amiga, a aeroviária Cláudia Maia, 51, a empresária caiu na folia e se divertiu com um repertório recheado de canções que, de tão decorada, o público canta até de trás pra frente. "Pra gente é muito importante que haja esse resgate da nossa cultura de uma rua com pessoas felizes, fantasiadas, de todas as cores, classes, Carnaval é isso", resumiu.

Clássicos como Bloco do Prazer, Festa do Interior e o Caminhão da Alegria foram acompanhadas, em coro, por um público que pulou como se amanhã, Quarta-feira de Cinzas, ainda fosse Carnaval. Mas não é, lembrou Moraes: "Quanto tudo começou aqui, em Salvador, com os Novos Baianos, nós éramos um grupo de jovens e a gente queria ser feliz. Só queríamos ser feliz, e fomos e fizemos muita gente feliz. Sejam felizes, aproveitem esse momento hoje, agora", completou.

Quem foi à Praça Castro Alves presenciou um baile que encheria de orgulho até mesmo o poeta baiano que, dali já assistiu a tantos outros encontros memoráveis.