Morte de artista: família diz confiar na PM, que promete concluir inquérito em 40 dias

Parentes, políticos e comando da PM discutiram caso; policiais foram afastados

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  • Milena Hildete

Publicado em 24 de abril de 2018 às 17:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Anselmo Brandão, comandante da PM, abraça familiares de artista plástico (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) “A gente ainda não chorou a dor do luto, porque estamos na luta para provar que nosso pai é inocente”. A afirmação é de Maraísa Marinho, filha do artista plástico Arnaldo Filho, 61 anos, baleado duas vezes durante uma ação da Polícia Militar, no município de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador.

Na manhã desta terça-feira (24), ela e dois dos quatro irmãos, Manoel Marinho e Márcia Cristina Marinho, foram até o Quartel da PM, no Largo dos Aflitos, para cobrar celeridade na investigação da morte de Arnaldo, conhecido como Nadinho. Arnaldo Filho foi morto por PMs em seu ateliê no sábado (Foto: Reprodução) Os irmãos se reuniram com o coronel Anselmo Brandão, comandante da Polícia Militar, com o prefeito da cidade, Pitágoras Alves da Silva Ibiapina, e com 16 vereadores do município. O encontro começou às 10h e, segundo os familiares da vítima, teve resultado "positivo"."A gente saiu daqui confiante, acreditando que a justiça vai ser feita. O comandante disse que ia apurar o que aconteceu com meu pai e nos deu certeza de que o crime não ia ficar impune. Ele nos deu a palavra dele e nós confiamos na Polícia", afirmou Márcia Cristina.A irmã Maraísa reforça o desejo de elucidar a morte. "É uma dor muito grande. A gente não aceita perder nosso pai desse jeito. Painho viveu a vida inteira com integridade para na hora da morte dele a gente precisar ficar provando que ele não é criminoso", comentou.

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O coronel disse que durante o encontro foi discutido com a família questões da investigação do assassinato da vítima. 

"Foi uma reunião triste. Hoje eu me reuni com os familiares, com o prefeito e com os vereadores de Candeias pra dizer que estamos buscando a verdade dos fatos. Já abrimos inquérito pra apurar. Bom lembrar aqui que nós, quando noticiamos a nota, divulgada pela PM, nós falamos de uma versão, uma versão de um policial", afirmou Brandão, referindo-se ao primeiro comunicado divulgado pelo Departamento de Comunicação Social (DCS) da corporação."Em nenhum momento atribuímos a figura do artesão como criminoso. Até porque, não podemos emitir nenhum opinativo. Vamos esclarecer esses fatos", completou. O prefeito de Candeias disse que a cidade pede "por justiça". "Não sabemos o que fez a Polícia Militar realizar esses disparos contra esse homem de bem. Ele sempre teve caráter. No domingo, o município amanheceu de luto. Nós queremos celeridade na investigação", afirmou Pitágoras.

De acordo com o vereador Edmilson Amaral, o comandante deu um prazo de 40 dias para concluir o inquérito. "Nós estamos aqui em nome do clamor de uma cidade que não entende a morte de um homem de bem. Acreditamos no trabalho da polícia e vamos esperar", disse. Ainda segundo Amaral, apenas um vereador não esteve no encontro, por questões de saúde.

Entenda o caso O artista plástico Arnaldo Filho, conhecido como Nadinho, morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar dentro de seu ateliê, na noite de sábado (21), em Candeias. Segundo os familiares da vítima, PMs entraram no imóvel e já chegaram atirando no homem, que estaria desarmado e desenhando.

Em nota, a PM afirmou, inicialmente, que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática de Candeias receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.

A PM informou que duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três policiais militares. "Entretanto, apenas uma estava no momento da abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois", destacou a corporação. Foto: Reprodução/Facebook "Ao chegarem no endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax", afirmou a PM, em nota.  

A família negou que isso tenha ocorrido. "Eles entraram na casa e plantaram uma arma. Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno", complementa o sobrinho que, junto à outros familiares, pretende denunciar a ação policial. 

Na última segunda (23), familares do artesão fizeram um protesto na frente da delegacia de Candeias, pedindo a prisão dos policiais envolvidos na operação. Também nesta segunda, três dos seis policiais militares envolvidos no caso foram afastados das atividades operacionais. De acordo com a PM, eles foram afastados para serem acompanhados por uma equipe de psicologia do Departamento de Promoção Social (DPS) da Corporação, contudo responderão em paralelo ao Inquérito Policial Militar instaurado.