Motoristas de app devem evitar Mata Escura e Santo Inácio, diz sindicato

Depois de travar a cidade em protesto nesta sexta, eles programaram uma nova manifestação para segunda (16)

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  • Gil Santos

Publicado em 13 de dezembro de 2019 às 20:06

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Gil Santos/CORREIO

Depois que quatro motorista de aplicativo foram assassinados no bairro da Mata Escura nesta sexta-feira (13), o sindicato que representa a categoria está orientando os trabalhadores a evitarem essa região. A medida foi estendida também para o bairro de Santo Inácio, vizinho ao que houve o crime. 

Durante a tarde, a categoria saiu em carreta pela cidade e o trânsito deu um nó. O horário mais crítico foi por volta das 17h, quando o grupo estava em três locais Avenida Tancredo Neves, Piedade, e região do Iguatemi.

Duas faixas foram bloqueadas pelos manifestantes na região do Iguatemi. Colegas de profissão que passavam no momento do protesto eram parados e os carros tinham a palavra 'Luto' pintada pelos manifestantes nos vidros traseiro e lateral do veículo. Um buzinaço também tentou chamar a atenção para o problema. Alguns motoristas até tentaram furar o bloqueio, mas foram cercados e reduziram a marcha. 

O presidente do sindicato, Atila Santana, disse que participou de uma reunião com o delegado geral na sede da Polícia Civil, na Piedade, e que houve avanços na investigação. 

"Não podemos comentar para não atrapalhar a investigação, mas alguns dos criminosos já foram identificados. Isso aconteceu por falta de segurança, mas não podemos excluir as empresas da responsabilidade. Para a gente entrar no sistema é feita uma série de exigência, enquanto qualquer um pode ser passageiro. Precisamos de mais segurança para poder trabalhar e as empresas não podem ignorar isso", disse.  (Foto: Gil Santos/CORREIO) Ele afirmou que a orientação do sindicato é que os motoristas deixem de frequentar os bairros da Mata Escura e Santo Inácio até que o caso seja esclarecido. "São bairros em que a violência é grande, mas nunca esperamos que isso pudesse acontecer. Essa monstruosidade", afirmou.

Com faixas pretas presas nos carros e nos braços, eles cobraram mais segurança. A concentração no Iguatemi começou por volta da 16h30 e seguiu até às 19h30, quando eles saíram em carreta até se dispensar nas imediações do Salvador Shopping. Uma nova manifestação está agendada para às 9h de segunda-feira (16), na porta da Governadoria, no Centro Administrativo da Bahia (CAB).

Chacina

Mais cedo, Cláudio Roberto Sena, diretor de comunicação da Associação dos Motoristas Profissionais de Aplicativos da Bahia, disse que a categoria está chocada. Os mortos foram identificados como Alison Silva Damascena dos Santos, de 27 anos, Sávio da Silva Dias, 23, Daniel Santos da Silva, 31 e Genivaldo da Silva Félix, 48.

"Dois deles eu conhecia, Alisson e Daniel. Daniel inclusive ficava muito Aeroporto. A gente está chocado com a coisa, sem conseguir entender tamanha crueldade. Acabei de ouvir áudios de um parente de Alisson relatando o que aconteceu depois do crime com o testemunho do sobrevivente, que está sem condição de falar", diz Cláudio, lamentando as mortes.

Para Cláudio, o crime bárbaro poderia ser ainda maior. "As informações que chegaram para a gente é de que eles foram atraídos através de chamada de aplicativo. Não tá confirmado qual. Soubemos que foram chamado um a um e o quinto escapou. Aparentemente, o propósito era fazer uma chacina bem maior. Como esse conseguiu escapar e a policia chegou, o negócio acabou", acredita.

O dirigente explica que as duas empresas, Uber e 99, estão dando apoio à investigação. Em meio às incertezas, muitos boatos estão se espalhando nos grupos que reúnem os motoristas em aplicativos de mensagens. "Tem muito disse me disse a respeito do que seria a motivação do crime. Chegou até nós que seria represália do chefe do trafico em função do bairro não ser atendido por motoristas, que evitam a área justamente por receio da violência", afirma.

Procurada, a 99 informou que está apurando o caso. Através de nota, a empresa lamentou profundamente a situação e diz que se solidariza com as famílias das vítimas. "A plataforma reitera que repudia veemente esse tipo de violência e está disponível para colaborar com as investigações da polícia", afirmou. Apesar do comunicado, a 99 não confirmou se os condutores faziam parte do banco de motoristas do aplicativo. A reportagem ainda não conseguiu contato com a Uber.

Crime Os quatro motoristas de aplicativo achados mortos nesta sexta-feira (13) de manhã na Mata Escura foram torturados antes de serem executados. Os corpos foram achados depois que um quinto motorista conseguiu fugir e acionou a polícia. No barraco onde aconteceu o crime, na comunidade Paz e Vida, foi achado um gambá morto em cima de uma cama.

Segundo as primeiras informações, os motoristas foram atraídos para o local por chamadas feitas por duas travestis, que acabaram se provando uma emboscada. Ao chegar na comunidade, os motoristas eram rendidos por um trio ainda não identificado. 

“Ele escapou depois de conseguir se livrar de um dos assassinos e se jogar num matagal. Ele chegou a ser perseguido, mas não conseguiram pegá-lo", diz um agente do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) que estava na cena do crime hoje pela manhã.

Depois que o motorista fugiu, ele encontrou policiais do Batalhão de Guardas do Presídio da Mata Escura e contou que tinha sofrido um ataque. Afirmou ainda que seu carro havia sido abandonado na localidade. Policiais da 48ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Sussuarana) foram então até lá averiguar a denúncia.

Lá, encontraram uma cena de crime maior do que esperavam - e mais macabra. Quatro corpos estavam em sacos. Além do carro do motorista que escapou, acharam outro veículo abandonado próximo. Um rastro de sangue levava para um barraco próximo. Um gambá estava morto em cima de uma cama nos fundos do imóvel. Várias poças de sangue estavam espalhadas no local. “Foi aqui que eles foram torturados e mortos”, afirma o perito médico Marcos Mousinho, do Departamento de Polícia Técnica (DPT). 

A polícia acredita que as vítimas foram mortas de maneira separada. "Eram quatro corpos enrolados em lonas e todos apresentavam golpes de facão. A informação que chegou à Polícia Civil é que todas as vítimas eram motoristas de aplicativo, que foram atraídos para o local, colocados em cativeiro por algumas horas, torturados, e executados separadamente", explica Mousinho.

Procurada, a 99 informou que está apurando o caso. Através de nota, a empresa lamentou profundamente a situação e diz que se solidariza com as famílias das vítimas. "A plataforma reitera que repudia veemente esse tipo de violência e está disponível para colaborar com as investigações da polícia", afirmou. Apesar do comunicado, a 99 não confirmou se os condutores faziam parte do banco de motoristas do aplicativo. 

A assessoria da Uber confirmou que alguns dos motoristas faziam parte da plataforma, mas não deu dados individuais. A empresa afirmou em nota que também está ajudando as autoridades policiais na apuração do caso. "A Uber lamenta profundamente o crime brutal e chocante ocorrido em Salvador e se solidariza com os familiares e entes queridos das vítimas nesse momento de consternação", diz o pronunciamento. (Foto: Bruno Wendel/CORREIO) Carros Quatro dos cinco carros das vítimas, incluindo a que sobreviveu, foram achadas pela polícia. Um deles estava abandonado no Centro Industrial de Aratu (Cia). Os demais estavam ainda na comunidade Vida e Paz – dois deles, o Renault Sandero vermelho (PJU-2880), e o Hyundai HB20 (PKL 5B28) estavam próximos de um matagal. Já o Fiat Uno (OVA 9B99) estava estacionado dentro de uma garagem de um barraco vazio – a polícia está à procura também do proprietário da moradia. 

Apesar das informações de que se tratam de motoristas de aplicativo, a polícia diz que ainda está em contato com a Uber e a 99 para confirmar que as vítimas estavam nos cadastros dessas empresas, que ainda não se manifestaram publicamente. "A informação preliminar é que todas as vítimas são motoristas de aplicativo. Já conversamos com alguns parentes, mas estamos confirmando com as empresas Uber e Pop", declarou o delegado Jesus Barbosa, responsável pelo levantamento cadavérico. (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)