Motoristas de transporte escolar pedem linha de crédito e isenção de IPVA

Sem renda após fechamento das escolas, motoristas fizeram protesto em frente ao prédio da Governadoria do Estado

Publicado em 25 de novembro de 2020 às 20:44

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Parados desde o início da pandemia e fora da linha de auxílio emergencial do Governo Federal por terem renda acima dos R$ 28 mil, os motoristas de transporte escolar da Bahia ficaram sem renda durante a crise do coronavírus e o fechamento das escolas. Com dívidas, os motoristas formaram o Movimento SOS Transporte Escolar da Bahia, que protestou, nesta quarta-feira (25), em frente à Governadoria do Estado da Bahia para pedir aprovação de uma linha de crédito para classe, a isenção do IPVA de 2021 e a dilatação do tempo de uso de veículos usados por eles, que, hoje, está em 15 anos.

De acordo com a comissão do movimento, a aprovação da linha de crédito vai ajudar motoristas a pagar as parcelas de despesas com os veículos que estão atrasadas há meses, já que a maioria da classe trabalha com carros financiados, e os bancos continuam efetuando a cobrança dos vencimentos. A isenção do IPVA 2021 é cobrada pelo movimento por entender que a situação dos motoristas de transporte escolar é parecida com as dos ubers, taxistas e mototaxistas, que obtiveram a isenção. Já a dilatação do tempo de uso dos veículos com mais de 15 anos por um ano seria feita para que os motoristas, em 2021, conseguissem reunir o valor para comprar o veículo novo, coisa que não conseguiram fazem em 2020 com a pandemia. Manifestantes ficaram na frente da Governadoria por toda a manhã (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Simone França, representante da Comissão do Movimento SOS Transporte Escolar da Bahia, fez um apelo por políticas públicas direcionadas para a classe. "Nós estamos com muita dificuldade. Não recebemos nenhum tipo de auxílio ou amparo do governo ou da prefeitura. Somos uma categoria tão antiga, que paga seus impostos e cumpre com suas obrigações todos anos, e que, em um momento como esse, não recebeu qualquer ajuda das autoridades responsáveis", reclama.

Renda no zero A falta de políticas que levassem auxílio para os motoristas que trabalham com o transporte escolar fez com que esses trabalhadores fossem ainda mais afetados pelas consequências da pandemia do novo coronavírus.

Tereza Cristina Nascimento, 53, motorista de transporte escolar, por exemplo, precisou vender o veículo com que trabalhava para quitar prestações e pagar as contas básicas de casa."São quase 9 meses sem trabalho, sem renda. A gente vivia do transporte escolar. Sem ele, como é que paga financiamento, água, luz e feira? Não tem como. Comigo, a situação foi tão complicada que, infelizmente, tive que vender o veículo que servia para o meu trabalho só para pagar as contas e quitar as prestações do financiamento", relata a motorista que vive do transporte escolar há anos. Cristina precisou vender veículo para quitar dívidas (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Outra que foi diretamente afetada pelo fechamento das escolas e a ausência de demanda de transporte escolar foi Ilsemary Rios, 53, que é motorista há 26 anos. Ela afirma que até tentou outras formas de se manter, mas não conseguiu. "Eu comecei a vender quentinha para pagar as contas. No começo, até que consegui. Depois, os alimentos ficaram mais caros e o negócio ficou inviável. Nunca passei por uma situação tão complicada", afirma. Ilsemary passa por dificuldade na pandemia (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Quem também perdeu toda renda foi  Eduardo Fonseca, 39, que há meses não encontra formas de voltar a pagar as contas e depende da ajuda de conhecidos. "Durante esse tempo, não tive renda de maneira nenhuma. Tô com o carro parado e sem encontrar emprego. O que me salvou mesmo foi a ajuda da família, de amigos, vizinhos. Se não fosse por eles, a situação estaria bem pior", diz.

Além de não ter renda no momento, Fonseca vive com outra preocupação. O carro que possui é de 2005, e ele faria a troca em 2020, já que veículos escolares só podem realizar o transporte por 15 anos. Porém, a pandemia acabou com os seus planos. "Eu tenho dinheiro que mal dá para pagar as contas básicas que me ajudam a me manter. Trocar o meu carro ficou completamente inviável. O dinheiro que eu ganharia esse ano seria importante pra eu fazer isso, mas ele deixou de existir no meu planejamento quando tudo parou", conta o motorista que pede para que o prazo de circulação dos veículos seja estendido por um ano de maneira excepcional. Eduardo pede que Governo amplie prazo de circulação de veículos de 2005 (Foto: Wendel de Novais/CORREIO) Resposta dos órgãos A Secretaria da Fazenda do Estado da Bahia (Sefaz) afirmou que já existe uma linha de crédito para a classe e descartou a isenção do IPVA de 2021, reafirmando a ação de adiamento do de 2020.

"A Desenbahia já oferece aos prestadores de serviços de transporte escolar linha de crédito para financiamento da aquisição de veículos, cujos prazos de pagamento já foram suspensos até o final de 2020 em função da pandemia. A Secretaria da Fazenda, por sua vez, já atendeu ao pleito inicial relacionado ao IPVA, adiando para o segundo semestre de 2021 o pagamento do imposto de 2020, e seguirá acompanhando a situação da categoria", diz a nota.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo