MPT abre inquérito sobre caso da babá que pulou de prédio no Imbuí

O Ministério ainda acompanha de perto os depoimentos à polícia para apurar denúncia de maus-tratos

  • D
  • Da Redação

Publicado em 26 de agosto de 2021 às 19:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO e Divulgação

O Ministério Público do Trabalho (MPT) anunciou a abertura de um inquérito sobre o caso da babá que se jogou do terceiro andar de um prédio no bairro do Imbuí, em Salvador, na tarde desta quarta-feira (25). O órgão ainda informou que está acompanhando os depoimentos à polícia.

A jovem Raiane Ribeiro, de 25 anos, que acusa a empregadora de agressão e cárcere privado, foi ouvida na 9ª Delegacia da Polícia Civil (9ª DT/Boca do Rio), na manhã desta quinta-feira (26). A procuradora Manuella Gedeon, do MPT, esteve presente na delegacia durante todo o dia e ouviu os relatos tanto da babá, quanto da empregadora - que foi ouvida pela tarde.

Em nota, o MPT informou que “a empregadora declarou que Raiane se jogou do basculante do banheiro, onde se trancou depois de se descontrolar e entrar em luta com a patroa, que teria ligado para a central de polícia minutos antes da queda.”

Como parte do inquérito, o MPT solicitou imagens das câmeras de segurança do apartamento, que já estão com a Polícia Civil. Um laudo também será elaborado pela auditoria-fiscal do trabalho. A responsabilidade de análise dos documentos e das evidências sobre os detalhes da relação e condições de trabalho ficará a cargo da Superintendência Regional do Trabalho da Bahia (SRT-BA).

Manuella Gedeon ainda informou que também ouvirá outras testemunhas, entre elas, uma outra empregada que estava no imóvel no momento da queda. Outras ex-funcionárias que alegam terem sofrido maus-tratos semelhantes também serão ouvidas.

“Os fatos narrados nos depoimentos são extremamente graves, mas não vamos nos precipitar em formar um juízo antes de ouvir todos os envolvidos e colher as provas disponíveis. No curso do inquérito, essas declarações serão verificadas e os fatos serão analisados para que possamos decidir que providências na esfera trabalhista deverão ser adotadas”, concluiu a procuradora.

Relembre o caso

Raiane Ribeiro trabalhava cuidando de crianças em um apartamento no Edifício Residencial Absolutto quando caiu do terceiro andar. Socorrida para o Hospital Geral do Estado, ela prestou depoimento no posto policial da unidade e disse que pulou da janela para fugir da patroa.

Segundo a funcionária, ela foi agredida e trancada em um cômodo da casa, após ter seu celular tomado pela patroa. Tudo teria começado quando ela avisou que queria deixar o emprego após uma semana de contratada.

Raiane conversou com o CORREIO na noite desta quarta-feira (25) e relatou os momentos traumáticos que viveu. Natural do município de Itanagra, a 120 km de Salvador, ela disse que viu o anúncio de emprego em um site e decidiu se candidatar. Após contato com a anunciante, a babá trocou informações e após algumas chamadas de vídeo foi contratada para trabalhar.

"Depois que eu vi o anúncio, entrei em contato, e o acordo era trabalhar integral e folgar a cada 15 dias", disse Raiane.

No entanto, após iniciar o trabalho, Raiane conta que recebeu nova proposta de emprego e que após comunicar à patroa, passou a ser ameaçada. "Quando eu pedi para sair do trabalho, ela respondeu: 'eu quero ver se você vai embora. Eu não sou vagabunda. Você não vai embora", disse a mulher.

Segundo Raiane, essa ameaça teria ocorrido na terça-feira (24). A babá teria pedido socorro à irmã, pelo telefone. A irmã de Raiane então entrou em contato com uma tia que mora em Salvador. Após o contato, um homem teria ido até o prédio onde Raiane trabalha, mas após fazer contato pelo interfone, a patroa disse que Raiane não estava no local.

Nesta quarta-feira (25), uma pessoa voltou no prédio a pedido da tia de Raiane para procurar a jovem, segundo ela, desta vez, a patroa arrancou a fiação do interfone para evitar o contato. Sem contato externo, Raiane diz que foi trancada no banheiro. Desesperada, ela tentou fugir pelo basculante.

"Ela me trancou no banheiro, ai vi o basculante e decidi fugir para alcançar a janela do apartamento do lado e lá pedir ajuda, mas aí não consegui e fiquei pendurada. Aí depois, eu caí", conta.

Ela caiu dentro de um apartamento localizado no primeiro andar e foi socorrida. Raiane fraturou o calcanhar, e levou pontos na testa, além de ter ficado com alguns hematomas no corpo. Ela teve alta no mesmo dia.

O CORREIO não conseguiu contato com a patroa de Raiane.