'Muita emoção', diz autônoma ao confirmar por DNA que bebê é sua neta

Mutirão das defensorias públicas aconteceu neste sábado (12)

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  • Bruno Wendel

Publicado em 12 de março de 2022 às 13:00

- Atualizado há um ano

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Momentos antes de o envelope ser aberto, a autônoma Rosana Viana Gonçalves, 45 anos, estava a uma certa distância da nora e do bebê recém-nascido que ela carregava no colo. Mas ao saber da defensora pública que criança é sua neta, ela imediatamente agarrou a menina e não mais desgrudou. Rosana segurava um pedacinho do filho dela, morto no ano passado. "É muita emoção", declarou ela,  durante o mutirão da Defensoria Pública da Bahia para o reconhecimento de paternidade. 

Além de entrega de resultados, a ação, que ocorreu neste sábado (12) pelas Defensorias públicas de todo o país,  realizou gratuitamente exames de DNA para reconhecimento de paternidade. O evento  é chamado 'Dia D' e foi realizado em Salvador, no  Estacionamento E da Arena Fonte Nova e  outras 19 cidades baianas. Outro mutirão está previsto para o mês de agosto.

"Quando morreu, meu filho já tinha registrado o filho mais velho, um menino um ano e oito meses. Mas infelizmente não teve como fazer a mesma coisa com a menina. Agora, a documentação vai para a mão do juiz colocar o sobrenome do pai. Hoje, os meus netos que vão preencher o vazio deixando pelo meu filho", declarou ela emocionada. 

A dona de casa Jaqueline Alves Daltro, 47,  tinha na certidão de nascimento o sobrenome do pai, mas não tinha o nome dele no documento. Foram anos de angústia. "Contando ninguém acredita. O cartório errou e depois disso meu pai foi embora para Itabuna por uma questão de saúde e não mais voltou. Já tinha perdido a esperança, quando ele me achou e  pediu para registar eu e minha irmã. Então, procuramos a defensoria e hoje pegamos o resultado do DNA. Somos oficialmente pai e filha", disse ela, ao lado do aposentado Emanuel Pereira Daltro, 72. 

E na manhã deste sábado, muita gente foi em busca da realização gratuita do exame de DNA. Primeiro as pessoas passavam por uma triagem, para ver se estavam com todas as documentações e se estavam aptos para fazer o exame.  Em seguida, passavam por uma rápida entrevista e depois aguardavam ser chamadas para a coleta do material, neste caso uma amostra do sangue - o resultado sai entre dois e três meses. Ente as pessoas que aguardavam para fazer o procedimento gratuito era a  autônoma Priscila Santos Reis, 36, que estava ao lado da filha de 11 anos. Ela precisou entrar na justiça para obrigar o ex-companheiro a fazer o exame. "Ele não queria fazer de jeito nenhum, mas agora, veio hoje e está por aqui", disse ela. O rapaz não quis falar com a nossa equipe.

Mas homem que é homem assume as responsabilidades e foi o que o eletrotécnico Anderson Silva, 23, fez. "Foi uma decisão nossa e achamos melhor aproveitar essa oportunidade. Esse ato é muito importante. Se a criança for minha mesmo, vou assumir', declarou ele, ao lado da moça que segurava um bebê de seis meses. Quem também aguardava para fazer o teste era  a dona de casa  Shirlene de Jesus Nascimento, 36.  Com a filha de oito meses, ela esperava  debaixo de uma tenda da Defensoria a chegada do ex-companheiro. "Já me chamaram duas vezes. Ele disse que está chegando. Há dez dias, íamos fazer também pela Defensoria, mas ele não levou a documentação completa. Mas desta vez vai", relatou ela, otimista.

Segundo a Defensoria Pública da Bahia, um levantamento realizado no ano passado apontou que cerca de 100 mil crianças nascidas no país em 2021 não tiveram o nome do pai no registro de nascimento. A campanha "Meu Pai Tem Nome" surgiu com o objetivo de incentivar o reconhecimento da paternidade e garantir aos filhos o direito de terem a filiação completa. A iniciativa é do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos Gerais (Condege). Vamos cobrir o evento e focar nas histórias de pais e filhos.

"O ato é importante para dar mais visibilidade ao trabalho feito o ano todo da Defensoria. Isso faz com que as pessoas saibam dos serviços que estão à disposição delas através da Defensoria", declarou a defensora Cristina Ulm, coordenadora do núcleo de Integração da Defensoria. Na manhã deste sábado, 150 pessoas foram atendidas, das quais 100 mães com crianças para exame gratuito de DNA.