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Bruno Wendel
Publicado em 26 de julho de 2019 às 12:56
- Atualizado há 2 anos
O alarme foi falso, mas o pânico bem verdadeiro. "O povo todo saiu correndo, carregando o que podia. Muita gente só saiu com a roupa do corpo e com as crianças no colo. Idosos eram carregados nos braços. Todo mundo correu para o Extra (Paralela) pensando que ia morrer", declarou Islan Pereira dos Santos, 31, funcionário de um lava jato na comunidade de Bate-Facho. Moradores da localidade, no bairro do Imbuí, foram despertados e deixaram as casas na madrugada desta sexta-feira (26) com o barulho das sirenes do sistema de segurança da barragem de Pituaçu, construída há cerca de 100 anos. Só depois foram informados que não havia problema nenhum e que o alarme teria sido disparado acidentalmente. Aproximadamente 1.200 famílias vivem no entorno da represa. >
Morador da comunidade há 30 anos, o pedreiro Daniel Silva, 44, tem a casa mais perto do caminho que dá acesso a pé à barragem. "Onde estou é distante da sirene que disparou, mas fui acordado por gente batendo em minha porta, dizendo que a barragem tinha acabado de romper. Na mesma hora, peguei a minha mulher e seguimos juntos com os demais para o Extra", relatou.>
Segundo os moradores, os primeiros sinais de que a madrugada seria atípica começou por volta das 15h desta quinta-feira (25). Uma das sirenes do equipamento recém instalado, que fica na via principal da localidade, começou a disparar. "Ia e voltava e era um barulho fraco. Quase meia hora depois parou. Quando foi 3h voltou a soar e mais forte e intermitente", contou o ajudante de carpintaria Flávio Soares Barbosa, 25. Morador do Bate-Facho, Flávio conta que o alarme começou a soar na tarde de quinta-feira (25), mas baixo (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O pânico levou as pessoas a invadirem a casas de outras pessoas para retirar idosos e pessoas doentes. "Devido a aflição de uma senhora que estava sozinha em casa, a vizinha quebrou a janela e teve acesso ao imóvel para levar a velhinha para o Extra, onde tudo mundo estava reunido", contou o estudante Ezequiel dos Santos Silva, 19. >
A cozinheira Lúcia Vieira, 53, disse que, apesar do pânico generalizado, teve gente que não saiu de casa. "Algumas pessoas ficaram em estado de choque e não tiveram outra reação que não fosse ficar estáticas em suas residências. Em outros casos, algumas pessoas não acordaram, pois, por algum motivo particular, não escutaram a agonia de quem estava do lado de fora e continuou a dormir. Se a barragem tivesse rompido de verdade, estariam mortos", disse Vieira.>
Em nota, a Embasa informou que técnicos da empresa estão verificando o que pode ter ocorrido com os equipamentos que acionam as sirenes. O sistema de segurança da barragem de Pituaçu ainda não foi completamente implantado e está em fase de testes. Ainda de acordo com a Embasal os moradores do Bate-Facho, há cerca de um ano, vêm sendo orientados sobre a existência desse sistema e como ele vai funcionar.>
O diretor geral da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macêdo, informou que os moradores da comunidade começaram a acionar o órgão por volta das 4h da manhã. "Foi orientado que as pessoas saíssem das casas, porque quando há o acionamento de sirenes, o protocolo remete a evacuação imediata. Nosso plantonista veio aqui às 5h, acompanhou a situação e, ao conversar com a equipe da Embasa, foi informado que houve esse acionamento, que não houve problema, que as pessoas não precisavam sair das suas residências", explicou o diretor da Codesal.>
Mesmo sabendo que teria sido um disparo acidental, Macêdo decidiu ir ao local com outros técnicos do órgão para acompanhar a situação. "Estamos fazendo uma inspeção visual e aparentemente não há problemas. Embora quem tem a tutela e a responsabilidade de fazer vistoria e os estudos mais profundos para afirmar a segurança dessa barragem é a Embasa", ressaltou.>
Embasa diz que barragem de Pituaçu não apresenta riscos estruturais A Embasa informou que a barragem de Pituaçu se encontra íntegra e sem riscos estruturais. Ainda de acordo com a empresa, os níveis da barragem são monitorados diariamente pelos técnicos da empresa e, no momento, não há risco de enchente. A barragem conta com um sistema de segurança com quatro sirenes em fase de implantação há três meses.>
"A barragem está em perfeito estado. Fizemos nela uma obra ampla há dois anos. O equipamento instalado é para detectar uma emergência. No entanto, ele não está em funcionamento, o que nos leva a crer na falha no próprio equipamento", explicou o gerente da unidade socioambiental da Embasa, Thiago Horoshi. >
Após o episódio, um treinamento será dado aos moradores. "A intenção é dar a eles mais conhecimento de como agir numa situação real. Em relação à medida adotada neste madrugada, de saírem de suas casas, foi correta. Nesse treinamento iremos focar nas rotas de fuga", declarou Sosthenes Macêdo. >