Mural pintado no Dique usa tinta que purifica o ar; entenda

Cada um dos 250m² equivale a uma árvore plantada

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  • Wendel de Novais

Publicado em 18 de junho de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

A experiência de quem passa no trecho da Avenida Vasco da Gama, que contorna o Dique do Tororó em direção à Fonte Nova, se transformou há algumas semanas. É que, agora, ao invés de ficarem presos apenas à beleza do Dique e de suas águas, motoristas e pedestres também viajam em um mural de 250 m², cheio de cores, que fica próximo ao Habib’s, e explora o afrofuturismo ao homenagear a cantora, compositora e atriz Larissa Luz.

O grafite não impacta só visualmente. A obra dá ao espaço um ar mais limpo porque a tinta utilizada dá o mesmo impacto que o plantio de 250 árvores na região.

Parece até milagre, mas não é. A tinta tem a capacidade de purificar o ar por ser composta por dióxido de titânio (TiO2), que é eficiente para realizar o processo de fotocatálise (reação química causada pela absorção de fótons de luz ultravioleta por compostos de catalisação). No dióxido, há ainda propriedades de limpeza que reduzem a quantidade de óxidos de nitrogênio (NOx) presentes no ar.

A chegada do mural ao Dique é parte do projeto Converse City Forests, que espalhou painéis como esse em outras 26 cidades do mundo, incluindo São Paulo, onde homenageou os povos originários da capital paulista, e Rio de Janeiro, onde exaltou o amor afrocentrado e lideranças negras no bairro de Santo Amaro. Por aqui, a iniciativa esteve sob a batuta e curadoria de Pedro Batalha e Hisan Silva, diretores executivos da marca baiana Dendezeiro, que escolheram as grafiteiras Nila Carneiro e Andressa Monique para produzir a obra. 

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Colore e purifica Andressa foi duplamente contemplada ao ser chamada para participar do projeto. Grávida, ela pôde fazer parte do processo sem muitos prejuízos mesmo com oito meses de gestação porque a tinta usada não a prejudicava e nem fazia mal para o bebê.

“Trabalhar com esse tipo de material foi muito significativo. Eu trabalho muito com spray e é muito tóxico, você estando grávida ou não, tem que usar máscara, Com essa tinta, eu me senti supertranquila, não tem odor, não tem incômodo, é segura. E tem uma ótima cobertura, qualidade de rendimento”, conta Monique, que afirma que, no início, pelo tamanho das latas, pensou que não haveria tinta o suficiente para pintar o painel, mas se surpreendeu no fim quando sobrou material.

A artista e grafiteira Nila Carneiro, que foi dupla de Andressa na empreitada, concorda sobre a boa experiência com a tinta e acrescenta que o material deu ainda mais suporte para fazer da obra um mural que fizesse jus à figura de Larissa Luz. 

“Nunca tinha trabalhado com essa tinta e ela tem uma cobertura excelente mesmo. Foi um ótimo suporte para um trabalho que faz homenagem à Larissa e tem a intenção de trazer a figura dela em um grande portal sonoro no painel porque, através da música, ela dissemina uma mensagem antirracista usando elementos do afrofuturismo que também estão no mural”, explica Nila, fazendo referência a elementos presentes na obra como as ondas sonoras e o universo ali representados. 

O mural também foi aprovado pelos moradores da área “É muito bom quando a gente faz um projeto que dá tudo certo, é bom ver os moradores também entusiasmados. Eles acompanharam todo o projeto, ter o feedback deles foi muito importante. Em experiências assim, você acaba deixando um pedaço seu lá também. Fiz várias amizades lá. Estar ali, ao lado do Dique, que tem várias imagens dos orixás. O mural é um presente também para os orixás que estão ali do lado”, diz Andressa. 

Escolha difícil O resultado que alegrou os moradores também deixou Hisan e Pedro felizes. Condutores do projeto, eles revelaram que a escolha pela figura de Larissa não foi uma missão fácil. Pedro afirma que o processo foi difícil por Salvador ser recheada de personagens femininas e negras que casariam com a proposta da Converse em relação ao afrofuturismo. 

“Tivemos dificuldade, se pudéssemos, colocaríamos um batalhão de mulheres negras. Eu acho que Salvador é uma grande potência em criatividade, movimentação e, principalmente, nos temas que a Converse queria falar que eram o afrofuturismo, a mulher negra. Aqui, esses temas são muito potentes, tem uma grande frente de mulheres negras que são essas potências e, dentre tantas, tem essa mulher que é Larissa Luz”, fala.  A cantora, compositora e atriz Larissa Luz (Foto: Divulgação) Ao falar sobre a homenageada, Hisan salienta que a cantora tem tudo a ver com a proposta da Converse, além de ser potência quando se fala em autoestima na capital baiana.

“A gente acredita que ela tem uma comunicação em sintonia com a Converse, ela tem um trabalho relevante na autoestima da pessoa negra aqui em Salvador. Tem uma identidade e personalidade que representam muito o que a Converse queria passar, como ela vê o futuro, a partir de um viés jovem, de um viés de militância, ela foi muito assertiva por ter uma identidade muito próxima à identidade da marca”, declara ele. A escolha pelo Dique não foi à toa porque se trata de um ponto importante por ter os orixás e por estar próximo do Engenho Velho de Brotas, onde há uma predominância de pessoas negras.

*Sob supervisão da subchefe de reportagem Monique Lôbo