Museu ao ar livre: Jardim Botânico está com 60% da obra de revitalização concluída

Espaço localizado em São Marcos deve ficar pronto no começo de novembro

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  • Da Redação

Publicado em 6 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: foto/Arisson Marinho

Se você gosta de visitar o Parque da Cidade, no Itaigara, saiba que logo logo Salvador vai ter mais uma área verde completamente repaginada. Localizado em São Marcos, o Jardim Botânico está com 60% das obras de revitalização concluídas e deve ser entregue no começo de novembro. O espaço renovado vai unir a contemplação da Mata Atlântica nativa com atividades de estudo e pesquisa - o local possui um herbário com 61 mil espécies vegetais catalogadas em uma área de 160 mil m².

O Jardim Botânico é um museu vivo da Mata Atlântica que antes era muito mais expressiva em Salvador, aponta o Professor Doutor Jeferson Coutinho, que é biólogo e leciona no Instituto Federal da Bahia (Ifba), campus de Salvador. De acordo com ele, a capital baiana já perdeu cerca de 80% da cobertura original de Mata Atlântica.

“As plantas têm um papel multifuncional, que vai desde a liberação na atmosfera do oxigênio que respiramos, passando pelo papel medicinal e ornamental de muitas espécies, estabilização do solo, regulação climática, dentre vários outros. O Jardim Botânico informa e educa a população para a importância dessas espécies [da Mata Atlântica], onde muitos representantes já não se encontram no ambiente natural. Manter um jardim botânico é manter o patrimônio natural e cultural desse Bioma tão ameaçado”, afirma o professor doutor.

O espaço é antigo, mas boa parte dos soteropolitanos não conheciam o Jardim Botânico de Salvador. O Secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, João Resch, aponta que apenas algumas escolas municipais tinham o costume de visitar o local.

“Aquilo é um resquício de Mata Atlântica. A estrutura do local era precária, agora, ela está sendo requalificada e estará à disposição da sociedade. Essa também é uma ação de preservação da mata, com a visita, o cidadão percebe o bioma em que ele vive”, afirma o secretário da Secis, pasta que administra o local.

O pensamento é compartilhado pelo professor doutor Jeferson Coutinho, que aponta que o maior conhecimento sobre os benefícios das plantas faz com que a população se envolva nas discussões de preservação da Mata Atlântica. Ele ressalta que o bioma possui redes complexas de interação, nas quais as plantas têm papel fundamental.

“É das plantas que vem o oxigênio que respiramos, o solo fértil que permite o plantio dos nossos alimentos depende de macro e micronutrientes que são reciclados pela presença das plantas, a conservação de uma água de qualidade depende de uma floresta em pé, protegendo o leito dos rios, dentre vários outros benefícios. O conhecimento dessa rede de benefícios pode nos levar a um patamar de uma sociedade soteropolitana mais consciente do papel funcional da Mata Atlântica em nossa qualidade de vida, nas mais diversas dimensões”, diz o biólogo.

Preservar é preciso, mas reflorestar também. “Se gostamos do conforto térmico e não desejamos continuar vendo deslizamentos pela cidade, precisamos investir no refloraestamento desse Bioma já tão agredido”, ressalta o professor doutor.

Pesquisa A Secis espera poder fechar parcerias para que várias instituições possam utilizar o herbário como fonte de pesquisa. Na obra, a estrutura foi ampliada para se tornar um centro de referência na pesquisa da Mata Atlântica.

Coutinho cita o estudo genético e a manutenção de um banco de sementes como duas das várias possibilidades de pesquisas com os exemplares presentes no herbário. O professor doutor menciona ainda que as plantas são “minas de biomoléculas” que podem ter potencial farmacológico, o que “contribui de forma expressiva para o desenvolvimento de tratamentos para inúmeras doenças”.

“Podemos compreender melhor como as espécies estão mantendo ou não certas características genéticas que ajudaram em seus processos de adaptação, que contam a sua história evolutiva pra gente, dentre outras. O banco de sementes pode nos dar a chance de recuperar áreas degradadas e contribuir para a restauração de ambientes que tenham passado por um processo de desmatamento”, comenta o biólogo sobre algumas possibilidades de pesquisa no herbário. Com a obra quase pronta, o público pode visitar o espaço a partir de novembro (foto/Arisson Marinho) Obra O projeto de revitalização do Jardim Botânico foi elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e teve as obras coordenadas pela Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra). Reformulados, os prédios do espaço são conectados por uma trilha elevada em um percurso de 795 metros de extensão pela mata. 

Foram investidos quase R$ 8 milhões nas obras do local, provenientes de financiamento junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF), por meio do Programa de Requalificação Urbana de Salvador (Proquali). 

O projeto ampliou a antiga estrutura do Jardim Botânico. As obras começaram em setembro de 2019, informa o secretário Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas, Luciano Sandes. O prazo inicial para conclusão da obra era de 12 meses, mas a pandemia atrasou um pouco os trabalhos. “Ocorreu a desaceleração da obra por conta da pandemia. Mesmo com os atrasos, apenas passamos cerca de um mês do prazo”, ressalta Sandes.

De acordo com o titular da Secis, João Resch, as ações de paisagismo devem ser iniciadas pela sua pasta, em meados de outubro, ao fim da etapa de construção civil. Como parte do paisagismo, a Secis vai complementar o gramado, fazer um jardim em frente ao equipamento, colocar um teto verde na edificação e estuda a possibilidade de inserir paredes verdes no prédio.

O edifício principal possui uma área total construída de 2.219,45 m², dividido em dois pavimentos, um subsolo e uma cobertura aberta a visitas, tem 62% das obras concluídas. O projeto de requalificação do Jardim Botânico propõe outras intervenções, como a construção de um pavilhão de observação da natureza e viveiros. 

O Jardim Botânico terá ainda espaços expositivos digitais para a educação ambiental, um auditório para 50 pessoas, que será conectado com um foyer e uma área semi-coberta para atividades em grupo. Com a requalificação, o local será uma das referências de área verde preservada no Brasil, aponta a prefeitura. 

Outros parques Além do Jardim Botânico, a prefeitura de Salvador entregou outros parques. No começo de setembro, foi entregue a requalificação do Parque da Lagoa dos Pássaros. O local ganhou deques, espaço para contemplação, trilha em concreto, área para capoeira, parque infantil e academia. 

As obras no Parque da Lagoa dos Pássaros, assim como o Jardim Botânico e demais parques da cidade está inserido no Plano de Desenvolvimento Urbano de Salvador (PDDU) e que as intervenções realizadas fizeram parte das políticas de preservação ao meio ambiente. A prefeitura ainda realiza obras no Parque da Pedra de Xangô, em Cajazeiras.

O secretário da Seinfra ressalta que uma das diretrizes da prefeitura é desenvolver espaços para os cidadãos. “Nós temos ações em espaços públicos e os parques não poderiam ficar de fora. Eles tinham que ser incorporados nessa pauta para que os cidadãos possam desfrutar destes locais”, afirma o dirigente da pasta, que cita a requalificação do Parque da Cidade como uma das obras da gestão.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela