Mutirão vai atrás de alunos faltosos da rede municipal de ensino

São 51.440 estudantes (34,7% do total) que faltaram, pelo menos, duas vezes consecutivas sem comunicar a escola

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  • Bruno Wendel

Publicado em 17 de março de 2022 às 18:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Ali mesmo, do portão de casa no bairro do Uruguai, seu José Raimundo Oliveira, 58 anos, deu a justificativa: "Ele faltou porque pegou uma virose e depois ficou com uma inflamação no olho", disse ele, ainda meio sem jeito, sobre os seis dias que o neto de 7 anos não foi à escola. "Mas ele vai amanhã", garantiu o avô às agentes de educação, durante o mutirão de visita domiciliar, realizado nesta quinta-feira (17).  Desde a retomada das aulas presenciais, no dia 3 de fevereiro, até o último dia 15, dos 148.272 alunos matriculados na rede municipal, 51.440 (34,7%) faltaram, pelo menos, duas vezes consecutivas sem comunicar a escola. A ação faz parte do Programa Agente da Educação do Parque Social, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (Smed). O mutirão, chamado de "Dia V! Agente visita, o aluno volta”, teve como objetivo visitar 651 famílias de alunos faltosos, identificando os motivos da ausência e estimulando a volta dos estudantes à escola. São mais de 215 agentes (estudantes de Pedagogia), que percorreram as 10 gerências regionais de educação de Salvador, onde estão as 436 escolas municipais.

"Esse trabalho dos agentes é feito diariamente, mas hoje fizemos essa ação especial. A ausência dos alunos se dá por motivos diversos. Por causa da pandemia, muitos têm dificuldade de voltar à rotina, de dormir cedo e acordar cedo. Outros não vêm por problema de saúde. Tivemos um caso de um menino que estava cheio de feridas no corpo e não ia para aula também porque os colegas ficavam abusando. A agente que o levou a um posto de saúde e, após tratamento de pele, ele voltou a frequentar a sala de aula", declarou a diretora do Parque Social, Sandra Paranhos. O neto de José Raimundo está há seis dias sem ir para escola por questões de saúde (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)  Morador da Rua Luiz Régis Pacheco, José Raimundo cria dois dos quatro netos - uma  menina de 2 anos e Fabrício Oliveira Miranda, de 7. Ele classificou o trabalhos dos agentes de "extrema importância". "Esse acompanhamento faz a família se envolver mais, incentivar a permanência da criança na escola, pois só a educação salva. Ele (Fabrício) ficou bom rápido da virose, mas só não foi esses dias, porque chegou a ficar internado na UPA por causa do olho inchado", disse ele aos agentes de educação, 

Mãe de seis filhos, Aneilda Almeida de Oliveira, 34, esteve pela manhã na Escola Municipal Carmelitana 25 de Agosto, no Uruguai. Sua menina de seis anos até hoje não foi à escola. "Ela teve covid e depois só quis ficar em casa", disse Aneilda, após ter sido chamada pela direção.

"Muitos pais alegam que os filhos não foram vacinados (contra covid). Outros dizem que não têm dinheiro para o transporte. Em outros casos, eles ou os responsáveis, como parentes, adoecem e não tem quem traga essas crianças. Há situações de alunos de pais separados, que faltam porque a casa que passam um período é distante da escola", relatou a diretora Anilda Dórea.

Entre 2015 e 2019 foram 701.202 matriculados, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (SME). Desse universo, segundo o Parque Social, 219.850 alunos estavam com a frequência irregular, dos quais 111.845 normalizaram a situação logo na primeira visita dos agentes de educação - os demais casos foram regularizados gradativamente com a intensificação das visitas.  Aneilda foi chamada à escola e garantiu que a filha retorna nesta sexta (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Durante o mutirão desta quinta, os agentes da educação visitaram os pais e responsáveis pelos alunos faltosos para orientá-los no encaminhamentos e resolução de problemas como a frequência irregular, evasão, abandono escolar, entre outros.

"Nosso trabalho também é retornar aos lares que passamos e agradecer o retorno das crianças às aulas. A gente mostra com isso que não estamos ali só para cobrar. Queremos que eles entendam o quanto é importante para a criança estar num ambiente escolar. Estivemos em duas casas onde um menino morava com a mãe, e o irmão vivia com a tia. Os dois já estavam dias sem ir por vários motivos, entre eles descuido mesmo dos adultos", declarou Eliene Cardoso dos Santos, agente de educação e estudante de Pedagogia. O resultado desse levantamento será divulgado na próxima semana.