Nadinho, o Yashin de uniforme cinza

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  • Da Redação

Publicado em 24 de janeiro de 2022 às 10:28

- Atualizado há um ano

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Os mais novos, que não o viram jogar, podem imaginar um certo exagero nesta comparação. Mas quem teve a oportunidade de acompanhar a longa carreira de quase 21 anos de Leonardo Conceição Cardoso, no Vitória, Bangu, Bahia e Seleção Brasileira, sabe do que estou falando. Líder como Lev Ivanovich Yashin, famoso goleiro do Dínamo de Moscou e da então Seleção Soviética, o ‘Macho’, aos gritos, embora sem ser desrespeitoso, impunha autoridade, orientando a defesa e exigindo empenho dos companheiros. Não foi escolhido o melhor goleiro do século XX nem recebeu a Bola de Ouro da conhecida revista France Football, como o notável ‘Aranha Negra’, simplesmente por jogar no Brasil e, sequer, se interessar em permanecer no futebol carioca, o grande centro futebolístico do país, ao lado de São Paulo, no final dos anos 50. Ao contrário dos arqueiros da época, que mal abandonavam a pequena área, Nadinho se destacava por sair bem do gol para interceptar cruzamentos e pela coragem e determinação de lançar-se sobre a bola nos pés de impetuosos adversários. Além disso, era frio, possuía um posicionamento extraordinário e, como poucos, sabia fechar o ângulo dos atacantes que se aproximavam do seu reduto. Negociado pelo Vitória – onde fora campeão baiano em 1953 e 1955 – para o Bangu, chegou, merecidamente, em 1956, à Seleção Brasileira, conquistando a Copa Oswaldo Cruz, em Assunção, diante do Paraguai. E, assim como Yashin, passava a ter também o status de ídolo nacional. Voltou para Salvador no final de 1957 e teve o passe comprado, por Cr$ 150 mil, pelo Bahia, onde atuou por 10 anos, fazendo 339 jogos e sofrendo 316 gols, menos de um por partida. Da mesma forma que Yashin no Dínamo, Nadinho foi multicampeão no tricolor baiano. Além do título nacional de 1959, conquistou o tricampeonato do Norte/Nordeste, em 1959, 1961 e 1963, e o pentacampeonato estadual, de 1958 a 1962. Em 1965, durante férias no Rio, treinando na Gávea, com a camisa do Flamengo, o ‘Aranha Negra’ não tinha a menor ideia de que, na região Nordeste daquele país que visitava, existia um goleiro tão bom quanto ele e que, àquela altura, já planejava trocar a bola pelos livros jurídicos e os gramados pelos tribunais de justiça, transformando-se no advogado Leonardo Cardoso, especialista em Direito do Trabalho e Direito Civil. Sem nunca ter jogado de luvas e, muito menos, usado boné em dias de sol, como habitualmente fazia Yashin, o ‘Macho’ preferia um discreto uniforme cinza, em vez do negro do arqueiro soviético. Nadinho residia ultimamente num abrigo de idosos em Salvador e foi sepultado na última sexta-feira, no Memorial Osab, em Alagoinhas, cidade onde nascera há 91 anos. Tivera uma parada cardiorrespiratória, por conta da covid-19. Sofria de Alzheimer e tinha sequela na mão esquerda, causada por um AVC.

Antônio Matos, jornalista e delegado de Polícia, é autor do livro ‘Heróis de 59’, que narra a conquista da I Taça Brasil pelo Bahia