'Não entendo por que fizeram isso', desabafa pai de garota de 10 anos encontrada morta

Maria Elaine foi encontrada morta na última quinta-feira (17) a cerca de 100m da casa onde morava

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 18 de janeiro de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Vinícius Nascimento/CORREIO

O olhar do pedreiro João dos Santos Cortes, 47 anos, estava perdido. Apesar disso, ele ainda conseguia falar e transmitir uma série de sentimentos: dor, horror, saudade, desespero, angústia. Tudo isso ainda parece pouco perto do sentimento do homem que, após enterrar a esposa, há dois anos, agora se despede da filha de apenas 10 anos. Maria Elaine Sobral Cortes foi encontrada morta na quinta-feira (17). Familiares colaram foto no caixão, que estava com tampa fechada (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) A Polícia Civil investiga o caso e aguarda perícia para identificar a causa da morte. O prazo legal para a entrega do laudo é de 10 dias úteis, podendo haver prorrogação para mais 15 dias, a depender da necessidade dos peritos.

No início da tarde desta sexta-feira (18) aconteceu o sepultamento de Maria. Mais de 150 pessoas foram ao Cemitério Municipal de Plataforma, no Subúrbio Ferroviário, para dar um último adeus à criança, que ficou desaparecida por três dias antes de ser encontrada em um terreno a pouco menos de 100m da casa onde morava com o pai, a madrasta e dois irmãos, em Alto de Coutos.“Eu ainda não consigo entender por que fizeram isso com minha filha. Ela era uma criança tão bondosa”, desabafou o pai.Conhecido como Jó, o pai de Maria quase não conseguiu ir ao cemitério. Ele não sabia se suportaria a dor de ver sua filha ser enterrada. Religioso e fiel da Igreja Assembleia de Deus, ele contou à reportagem do CORREIO que foi confortado por Jesus horas antes do início o velório e, depois disso, reuniu forças para se despedir da menina. Enterro de Maria Elaine foi m arcado por dor de familiares e amigos (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Embora tenha comparecido, não conseguiu acompanhar o pequeno cortejo que carregou o caixão branco, de tampa fechada, devido ao estado de decomposição do corpo, que saiu da entrada do cemitério e foi até a pequena cova marcada com o número E-124. “Hoje eu fico feliz porque ela foi encontrar Jesus, sei que está em um lugar melhor. Mas fico triste porque ela tinha muito a viver e fazer aqui na terra. Era uma menina sonhadora, eu fazia tudo por ela e por meus filhos”, contou o pai, emocionado.Muita gente fez questão de prestar solidariedade à família. Fizeram vaquinha, alugaram dois ônibus e garantiram que amigos, coleguinhas, antigas professoras e familiares de Maria Elaine estariam presentes e fariam homenagens à menina.

Pastor da igreja que Maria Elaine frequentava com a família, Edson Batista contou que a criança tinha uma rotina bem definida e era muito protegida pelo pai. Ele explicou que a garota costumava sair de casa até a escola, voltava para casa e, no máximo, ia até a Igreja.“Ele [o pai] fazia tudo por ela e pelos outros filhos. É difícil até imaginar a dor que esse pai está sentindo”, contou o pastor após o sepultamento.Justiça Entre tantas coisas que o olhar de João Cortes dizia, uma das mais claras era o desejo de justiça. Uma vontade que ele tirou do olhar e transformou em palavras por diversas vezes durante o enterro.

Assim como João, outros familiares acreditam que o crime foi cometido por alguém próximo à família. A desconfiança da família surgiu devido ao suposto trajeto que a menina percorreu antes de desaparecer. O corpo dela estava com a blusa suspensa e short na altura da virilha.

Filho da madrasta de Maria Elaine e irmão de consideração da menina, o estudante Anderson Silva, 18, foi uma das pessoas a ajudar na busca da garota quando ela estava desaparecida. Foi ele quem recebeu a notícia de uma vizinha que sentiu “um cheiro estranho perto de casa” e saiu com outros moradores na esperança de encontrar o corpo.

Ainda que não tenha um laço sanguíneo com a criança, ele conta que tinha Maria Elaine como sua irmã. Por conta do sofrimento que seu padrasto e sua mãe enfrentam, ele diz que está mantendo uma pose mais forte, mas não consegue negar a dor.“É muito difícil ser forte no meio de tanto sofrimento. Mas não vamos parar até achar o culpado”, desabafa o irmão.O pai da criança se transformava sempre que falava na busca por justiça. Ele acredita que o crime não deve ser difícil de ser esclarecido, já que não há muitas pessoas morando e circulando na rua onde tudo aconteceu.“Se a polícia quiser, acha. E eu sei que vão achar quem fez isso com minha filha”, afirmou o pai durante entrevista.

Corpo O corpo de Elaine foi localizado por vizinhos no final da manhã desta quinta-feira (17), na Travessa 15 de Novembro, e, de acordo com amigos da família, com marcas de violência. A menina estava sozinha em casa quando desapareceu. O pai saiu para trabalhar e a madrasta foi ao hospital, onde a irmã caçula da vítima, de dois anos, está internada desde dezembro. 

Durante entrevista ao CORREIO, a madrasta de Elaine, Josenildes disse que cuidava da enteada como se fosse uma filha.“Estou tão arrasada quanto o pai. A tinha como uma filha. Era uma menina bondosa, que respeitava a todos, uma menina serva de Deus, uma menina que nos orgulhava”, disse ela.A mãe de Maria Elaine, ex-esposa de João dos Santos Cortes, morreu há dois anos. Além disso, o pai da vítima ainda enfrenta o drama de ter uma filha de apenas dois anos de idade internada. Ela foi diagnosticada com um cisto no cérebro. Garota foi homenageada durante seu velório (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Investigação Em nota, a Polícia Civil informou que ainda não existem atualizações sobre o caso e o órgão está aguardando o resultado da perícia para saber a causa da morte de Maria Elaine.

Ainda na quinta-feira (17), uma vizinha da jovem comentou que policiais encontraram um vidro de chumbinho perto do corpo, mas a polícia disse que nenhum material do tipo foi encontrado no local.

O pai da vítima esclareceu a situação e informou que um vizinho comprou o produto para “se livrar de um problema com cupins” e, depois de resolver a situação com as pragas, "descartou a garrafa de qualquer jeito" e elas caíram no terreno onde o corpo foi encontrado.