Negócios: Como sair fortalecido da pandemia

Empresários e especialistas falam sobre as perspectivas de futuro e destacam as lições capazes de impulsionar os negócios 

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 6 de setembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock/reprodução

Quase dois anos de medidas sanitárias, mudanças significativas nos hábitos de consumo, na forma de fazer negócios e no mercado de trabalho. Quem quiser sair forte desse período de pandemia, precisa estar atento às mudanças e tendências dos novos tempos. 

A líder da operação da Amcham Brasil em Salvador, Lilian Marins afirma que a pandemia trouxe muitos aprendizados e, sem dúvida alguma, um dos maiores deles foi mostrar o quanto os empresários estavam focados apenas no tático dos seus negócios e dedicando muito pouco tempo para o estratégico das operações.  Lilian Marins afirma que a retomada exigirá uma visão muito mais estratégica do negócio e um comportamento que não enfatize apenas aspectos táticos (Foto: Divulgação) “Todos os empresários que não negligenciaram seus números e dedicaram tempo para entender os dados, conseguiram tomar decisões de forma muito mais assertiva e alcançaram o próximo nível”, diz. 

A educadora financeira e criadora do método Bora Financeirar, Raquel Santos diz que o período deixou evidente a necessidade dos negócios serem saudáveis financeiramente e de se ter reservas que permitam a sobrevivência por um longo período num cenário de baixas entradas financeiras. “Montar as reservas deve ser prioridade nessa retomada”, ensina.

Do ponto de vista prático, ela defende que o empreendedor precisa mergulhar profundamente no seu negócio, evitando erros básicos, como a precificação errada dos produtos e serviços. “ A criação de uma marca forte faz com que os clientes acreditem no valor e paguem mais caro para resolver um problema ou realizar um sonho”, ressalta.

Mundo híbrido

O CEO do Conselho Virtual Thiago Oliveira defende que apesar das transformações, não significa que o antigo deva ser eliminado, especialmente no mundo dos negócios. “O online não vai acabar com o presencial, muito pelo contrário, eles vão se complementar. O PME precisa entender que o hibrido é para todo mundo, independetende do tamanho dos negócios”, defende. Thiago Oliveira reforça a crença num mundo híbrido onde o antigo e o novo permanecerão convivendo harmonicamente e onde os negócio poderão ganhar com os dois mundos (Foto: Divulgação) Com uma postura próxima, Vinicius Motta, CEO da Minha Casa Financiada as pessoas continuam vivendo, existindo, tendo problemas e necessitando de soluções. A única coisa que aconteceu foi que o formato dessas soluções mudou. 

“Como exemplo destaco o fim da Blockbuster e o surgimento da Netflix para suprir a mesma necessidade: o entretenimento audiovisual. O que a gente entende é que novos padrões são criados a todo instante. As micro e pequenas empresas devem pensar, em primeiro lugar, se a sua empresa é escalável? Ele vai para frente hoje, com esse padrão de sociedade e uso de tecnologia?”, provoca. Vinicius Motta ressalta que as necessidades permanecem as mesmas, mas que as soluções oferecidas é que mudaram durante a pandemia, daí a necessidade de olhar as pessoas (Foto: Divulgação) Motta acredita que o primeiro ponto para retomar as atividades de um negócio é fazer ele crescer novamente. “Gestão, vendas e growth. São coisas que, as vezes deixamos de lado, por estarmos olhando para os problemas e não paramos para pensar nisso. Mas são importantíssimos para quem quer escalar seus negócios durante a pandemia”.

Criatividade e inovação

Lilian é enfática em sugerir que a crise é o momento para criar, mas ela lembra que o processo criativo só acontece com a expansão de repertório. “Esse empresário precisa começar a pensar em outras possibilidades e formas de fazer negócio, para isso, muitas vezes, ele precisa sair da ‘bolha’ que está inserido, como, por exemplo, conhecer novas indústrias, se aproximar de outros setores e dialogar com grupos de negócios”, sugere.

Ela diz que esses meses mostrou o quanto o empresário brasileiro é criativo e capaz. “Muitos negócios foram reinventados e mesmo diante todo desafio conseguiram descobrir competências e talentos desconhecidos”, completa. 

Entre essas descobertas, ela cita a economia colaborativa, que mostrou que não há mais possibilidades de crescer sozinho e achar que lucratividade é a única coisa que importa. “O comportamento do consumidor mudou e os modelos de negócios precisaram ser repensados.  O empresário baiano precisa trabalhar com clareza nos três níveis de todo negócio, o operacional, tático e estratégico e para isso precisa desenvolver o principal ativo da empresa, capital intelectual e humano, a começar por ele”, complementa. 

Conselheiro em diversas empresas, Thiago destaca que a maior lição que a pandemia trouxe é que estabilidade não existe. “As empresas devem buscar a melhora constante. Hoje, empresas pequenas e médias concorrerem com as gigantes. Temos startups, que são na casa das pessoas, competindo com grandes corporações. Então a pandemia trouxe uma competição muito maior para o mercado, que vai nivelar o sistema”, reflete.

10 passos para a retomada

1.    Conhecer a empresa por completo é essencial. O conselho passa pela necessidade de conhecer todos os seus custos fixos e variáveis, calculando a média dos custos a cada três meses e avaliar a continuidade e a descontinuidade de alguns alinhado a operação da empresa.

2.    A empresa precisa se preparar para a retomada da economia com planos de contingência, emergências e sustentabilidade do negócio, pois a retomada será lenta e a depender do setor econômico, poderá exigir mudanças drásticas no modelo de atividades e/ou na forma de desenvolver o operacional da empresa.

3.    A empresa deverá investir em comunicação, bem-estar e em liderança a fim de motivar os colaboradores, uma vez que quanto mais a empresa estiver focada, melhores serão os resultados.

4.    Controle das finanças é indispensável. Redução de gastos e estratégias para aumento de receita deverá ser evidenciada a todo instante com o intuito de maximizar os resultados, pois o cenário não será favorável e um planejamento financeiro precisa constar no plano de retomada com metas e acompanhamentos na execução a fim de evitar surpresas.

5.    Não se pode negligenciar a prática do orçamento empresarial e a aplicabilidade da projeção de caixa e resultados. O Orçamento lhe trará uma realidade concreta do que será capaz e as projeções ajudará no acompanhamento para minimizar as distorções no percurso da execução.

6.    Faz-se necessário, desde agora,  olhar para dentro da empresa e trabalhar com redução de custos, processos, pessoas e relacionamentos. No ano seguinte, os investimentos serão de baixo risco e para isso, a empresa precisa ter mais segurança interna nos momentos decisórios.

7.    Não se pode esquecer da necessidade de consolidação das receitas e exploração de novas formas de agregar clientes e promover a sua fidelização.

8.    Toda empresa precisa evitar dívidas sem que haja necessidade ou que seja calculada a viabilidade de pagamento da mesma. 

9.    O negócio terá que ficar atento as armadilhas financeiras que as taxas de juros vão evidenciar nesse momento delicado da economia e da política do país. As formas de créditos precisam ser analisadas com cautela e buscar muita clareza de todo o contrato para evitar surpresas desagradáveis. 

10.    Se tem dívida, tentar trocar uma dívida mais cara por outra mais barata no que tange aos juros da operação financeira. Observar que a busca por receita precisa ser constantemente e o negócio tem que se adaptar à realidade do cliente para conquistar e fidelizar com a empresa. Por fim, reavaliar todos os contratos da empresa.

(Fonte: André Luís Barbosa dos Santos, vice-presidente do Conselho Regional de Contabilidade da Bahia - CRCBA).