Negros ainda são minoria entre os que concluem o ensino médio

Pesquisa do IBGE também mostra que aumentou o número de pretos e pardos na universidade

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 14 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/ Arquivo CORREIO

Apesar de toda a desigualdade que coloca os negros e negras entre os mais pobres do país, um dado positivo chamou atenção no estudo lançado nessa quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na universidade pública, a presença de estudantes que se declaram pretos e pardos é maior. São 50,3% de pretos e pardos nas instituições de ensino contra 48.2% de brancos, e 1,5% de indígenas e amarelos. O número apresentou um crescimento se comparado com o mesmo índice referente a 2017. Naquele ano, pretos e pardos eram 49%.

Apesar do avanço, os negros ainda são minoria entre os que concluem o ensino médio (61,8% dos pretos e pardos, contra 76,8% do total de brancos). A presença e continuidade na vida acadêmica acaba, então, se tornando um desafio.    Para a professora Denise Carrascosa, da Ufba, o aumento da presença desse grupo de alunos tem motivo certo: a política de ações afirmativas e reserva de cotas para os alunos negros. A professora aponta, contudo, que ainda há muito o que melhorar.“Na universidade temos tido um gradativo enegrecimento do corpo discente a partir da política de cotas. Mas nos  cursos considerados de maior prestígio, como medicina e direito,  tem uma maior dificuldade por conta das fraudes ao sistema. A universidade se enegrece, mas de forma irregular”, explica a professora, que ensina literatura no Instituto de Letras e faz parte de uma comissão de verificação para aplicação das cotas. Essa é uma das medidas para barrar as fraudes ao sistema de reserva de vagas. Apesar de estarem nas universidades, os alunos ainda lutam para se manter estudando. “Na universidade, temos um órgão que é responsável por esse suporte, mas há, ainda, grandes problemas estruturais. As moradias, por exemplo, ainda tem uma infra insuficiente e precária. A estrutura que teria que se organizar para manter o aluno, acaba expulsando”, avalia a professora.   Uma das alunas que diariamente enfrenta esse desafio, Laiz Menezes, 19, vive hoje justamente na residência universitária para  conseguir se manter frequentando as aulas. “Quando vim de Itaberaba para Salvador para começar o curso, fiquei na casa da minha irmã, mas não podia ficar lá porque ela não tinha condições de me sustentar. Tentei auxílio residência e consegui, tô na residência desde então.  Mas o meu maior desafio é financeiro. A residência te oferece o auxílio de R$ 230 por mês, mas quem não tem ajuda de mãe nem pai continua precisando de dinheiro", narra.

Ela diz ainda que estar na universidade é um desafio. "No início desse semestre eu não comprei nada de material, por exemplo, mesmo precisando, porque não tinha como”, descreve.