Nem tudo nem nada

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  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 22 de fevereiro de 2022 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Da forma como tradicionalmente o conhecemos, o hedge é um mecanismo utilizado para proteger operações financeiras, sobretudo quando sujeitas a uma alta taxa de volatilidade. As operações de hedge não objetivam o lucro, mas a redução ou eliminação da possibilidade de prejuízo. O que em geral não é considerado, é que é possível identificar outras situações em nossas vidas nas quais a atitude de não objetivar o ganho máximo pode mitigar possíveis prejuízos, sejam eles financeiros ou não.

Os sites de apostas vêm ganhando espaço entre os apaixonados pelos esportes. Hoje em dia, a mesma empresa permite que o apostador se arrisque em jogos de futebol, basquete, vôlei, tênis, corridas de Fórmula 1 e nas mais diversas lutas. Um tipo de aposta que é muito frequente é aquela que envolve o time de coração do apostador. Nesses casos, o otimismo predomina e raramente este apostador faz uma aposta que o contraria na condição de torcedor. No caso de vitória, a satisfação com a performance do clube se acumula com o ganho financeiro proporcionado. No caso de derrota, porém, amarga-se o prejuízo financeiro acumulado com a decepção esportiva.

Às vésperas das eleições presidenciais, a volatilidade do mercado de ações aumenta. Com muita frequência, as bolsas se movem de acordo com gostos e preferências determinadas pelo liberalismo. A vitória de um candidato mais intervencionista e mais favorável à ampliação dos deveres do Estado deprecia o índice geral e o valor da maioria das ações, enquanto que a de um candidato mais liberal é geralmente associada a boas expectativas econômicas pelo mercado. 

Na perspectiva de mitigar possíveis prejuízos e obter compensações pelas suas escolhas, o torcedor fanático deveria apostar contra o seu time, estipulando um valor de aposta, dentro das suas posses, compatível com o nível de satisfação que a vitória lhe traria. Em jogos importantes, cujos sucessos são mais capazes de lhe trazer satisfação, a aposta deve ser mais alta para que haja uma recompensa financeira compatível com o dissabor da eventual derrota. Da mesma forma, o eleitor desenvolvimentista e favorável à maior intervenção do Estado deveria investir na bolsa nos meses que antecedem as eleições, compensando financeiramente eventual decepção política, enquanto que o liberal deveria investir em moeda estrangeira, sempre valorizada quando o mercado se vê contrariado.

As tomadas de decisão no caso de apostas obedecem aos mais diversos critérios. Há alguns que agem na vida baseando-se na lógica do tudo ou nada. Outros, mais cautelosos, procuram sempre evitar as grandes perdas. Assim como os juros, metaforizado no comportamento individual da relativização entre os valores do hoje e do amanhã, já brilhantemente abordado pelo economista Eduardo Gianetti, a sensibilidade à ideia de hedge diz muito sobre os nossos processos de escolha e, não menos, sobre nós mesmos. 

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado da Escola de Administração da UFBA