Neto acredita que compilar conteúdo é opção para retomada do ano letivo

Prefeito e governador se reúnem hoje para debater

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  • Da Redação

Publicado em 21 de outubro de 2020 às 13:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ Arquivo CORREIO

Quando 2020 começou ninguém poderia imaginar que uma pandemia iria alterar o calendário escolar e que, em outubro, a Prefeitura e o Governo do Estado ainda estariam decidindo quando o ano letivo iria começar, mas é isso o que vai acontecer nesta quarta-feira (21). ACM Neto (DEM) e Rui Costa (PT) vão participar de uma reunião à tarde para discutir, entre outros assuntos, a questão da educação.

Mas nem adianta se animar. Na manhã desta quarta-feira, durante coletiva virtual para apresentar as regras da Maratona Salvador, o prefeito contou que a pauta será discutida no encontro, mas que não necessariamente uma decisão será tomada. Neto voltou a dizer que está analisando o cenário da pandemia, que precisa considerar diversos fatores, e que as decisões serão tomadas em conjunto com o governador. Além disso, o gestor colocou a compilação de conteúdos como uma boa saída para a retomada das aulas.

“Não quero criar nenhum tipo de expectativa de volta às aulas, ou de calendário que vai ser definido, por exemplo, nessa conversa. Nós vamos analisar o quadro, examinar o cenário, e vamos especular sobre quais são as hipóteses. Tudo isso vai ser tratado, mas não significa dizer que decisões serão tomadas ou que um cronograma será apresentado”, afirmou.

Questionado se a prefeitura está pensando em reprovar ou talvez aprovar todos os estudantes deste ano, ele disse que nenhuma das duas hipóteses será aplicada. “Não haverá nem aprovação nem reprovação automática. Eu acho que é um absurdo quando a gente adota esse tipo de medida”, afirmou.

O prefeito disse ser a favor de uma política nacional de compilação dos conteúdos didáticos, mas disse que isso teria que partir do governo federal e que seria preciso montar um novo calendário letivo, com férias diferentes dos modelos tradicionais e com aulas aos fins de semana.

“O que eu defendo é que a gente pegue todo conteúdo de 2020 que não foi dado aos alunos, some ao conteúdo de 2021, e que a gente faça um compilado, uma junção de 2020 com 2021, a partir do momento em que o retorno das aulas for possível”, disse.

O governador Rui Costa também comentou o assunto. Durante visita a uma obra na Nova Constituinte, nesta quarta-feira, ele disse que a reunião ele e o prefeito farão um balanço da pandemia, sobre a taxa de ocupação de leitos e do avanço da doença, além de outros assuntos relacionados ao novo coronavírus.

"Existe possibilidade de voltar e nós queremos retornar [às aulas presenciais]. Arrisco a dizer que, se não fosse as aglomerações de festa de paredão e atividades de campanha, a gente já teria retornado às aulas. Isso porque os números do vírus vinham caindo de maneira acelerada e percebemos uma estabilização disso. Estamos monitorando o número de óbitos que é um sintoma muito claro da doença pra definir o retorno. Se os óbitos continuarem em 26 e 27 [por dia], significa que a doença ainda continua em situação preocupante", afirmou.  

Cenário As aulas estão suspensas em Salvador desde 18 de março. Naquela mesma semana, o governador interrompeu as atividades, primeiro nos municípios que tinham registrado casos do novo coronavírus, e dois dias depois, em todas as 417 cidades do estado. Desde então, esses decretos foram sendo renovados a cada mês ou a cada 15 dias.

Para o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira, esse ainda não é o momento para retomar as aulas. Ele citou a segunda onde de infecções que está acontecendo na Europa, disse que as escolas não apresentam segurança para os professores e os estudantes, e afirmou que a compilação de conteúdos dos dois anos, sugerida pelo prefeito, pode ser uma solução plausível.

“O que nós queremos é discutir com o governo do estado e o governo municipal quais são as medidas de segurança para retomar as aulas no próximo ano. Esse ano não tem a mínima condição de obrigar as pessoas a irem para as escolas, e se for necessário faremos uma greve em defesa da vida. Sobre o conteúdo compilado, é possível desde que haja uma preparação, o que poderia estar sendo feito agora”, disse.

O coordenador-geral defende que a Bahia siga a mesma linha de outros estados brasileiros. “O platô ainda está alto no Brasil. O Rio de Janeiro acaba de anunciar que aulas presenciais apenas no ano que vem. Acre, Piauí, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, e Goiás também só retomam as aulas no próximo ano. É preciso responsabilidade”, disse.

O Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino da Bahia (Sinepe-BA) defende que já é hora das escolas particulares voltarem a ter aulas presenciais. Segundo o diretor da entidade, Jorge Tadeu, os pais também pressionam para o retorno.

“As escolas particulares precisam retornar rapidamente. Em geral, a escola particular atende a classe média, que está informada com dados da pandemia e quer sair desse movimento de letargia. Entendemos que essas pessoas querem retornar pois estão cobrando dos diretores de escolas que eles voltem desde que isso seja feito com segurança”, afirma o Tadeu, que diz que as escolas privadas estão prontas para receber os estudantes.

Para o representante do Grupo de Valorização da Educação (GVE), Wilson Abdon, a retomada das aulas presenciais não tem apenas um foco educacional, mas também uma preocupação com o lado emocional das crianças. De acordo com ele, as escolas se preparam há 7 meses para a retomada segura das atividades.

O grupo vê com estranheza a abertura de estabelecimentos de lazer, como shoppings e praias, enquanto se mantém a suspensão das aulas presenciais.

“A educação vem sofrendo muito com a falta de definição por parte dos governantes. Entendo a dificuldade da decisão, mas não existe um diálogo com as escolas, que possuem protocolos rígidos de saúde e estão prontas para receber os alunos”, garante Abdon. “O conteúdo está garantido nas escolas particulares. A situação das crianças é preocupante pois elas estão com situações emocionais sérias, sentindo falta das escolas e do convívio”, afirma o representante do GVE.

O diretor do sindicato alega não entender a manutenção da suspensão das aulas presenciais. De acordo com ele, a educação plena é a presencial. “Queremos entregar a educação presencial e plena para as famílias. Nós já temos capacidade de fazer isso. Tenho uma expectativa muito grande de que ACM Neto autorize o retorno das escolas particulares”, pontua. 

Apesar de ser contrário à compilação dos conteúdos didáticos, como defendeu o prefeito, Jorge Tadeu parabeniza Neto pela fala por acreditar que a atitude demonstra preocupação com a educação. Entretanto, o diretor do sindicato afirma que a solução não é tão simples e que anos diferentes da escola possuem propósitos distintos.

“Entendo que o prefeito não possui conhecimento técnico da área pedagógica, fazer essa adição dos conteúdos nos anos seguintes  é complicado. Cada série tem ações e objetivos distintos. Sugiro que sejam realizadas discussões com coordenadores pedagógicos do município para formular uma estratégia para esse retorno”, indica o diretor do Sinepe.

Sobre o apoio à compilação do conteúdo, Abdon acredita que o prefeito analisa a situação com base na realidade das escolas públicas. De acordo com ele, as instituições privadas cumprem com o calendário, o conteúdo e a carga horária necessária para o ano de 2020.

A proposta da rede particular é que as escolas privadas possam voltar com 50% dos estudantes ainda em novembro. Ainda é indicado que a instituição debata a possibilidade de volta com a comunidade escolar, afinal, nem todas as unidades podem desejar voltar presencialmente em 2020.

“O que desejamos é que seja feita uma previsão de retorno de forma facultativa e escalonada para que as famílias possam decidir se os filhos devem ir ao não às escolas.Pedimos ainda que os governantes nos entreguem um protocolo para analisarmos se já atendermos todas as regras”, pontua Abdon, que pede ainda que os funcionários possam ir até as escolas para receber treinamentos conforme as regras de funcionamento das instituições.

Pais e estudantes estão divididos. Para uns é preciso retornar o quanto antes, e outros defendem que seria mais seguro esperar um pouco mais.