Neto: ‘Ocupação em 84%, eu abro tudo, colapsa o sistema e o culpado vai ser quem?’

Prefeito de Salvador diz que manterá restrições para preservar vidas e garante não temer pressões: ‘Só vamos abrir o comércio quando for possível’

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  • Da Redação

Publicado em 1 de julho de 2020 às 16:46

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marcela Villar/CORREIO

Foto: Marcela Villar/CORREIO O prefeito ACM Neto deu declarações fortes, na tarde desta quarta-feira (1º), contra quem pressiona para que as atividades comerciais voltem ao normal em Salvador mesmo em meio à pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 60 mil pessoas em todo o país.

As declarações foram dadas durante a entrega do módulo gripário da UPA de Paripe, quando ele disse que não cederá à pressão de parte do empresariado soteropolitano e reforçou que só irá reabrir o comércio quando houver segurança para a população.

“Só vamos abrir o comércio quando for possível abrir. Não vou ceder à pressão. (...) As decisões serão tomadas pensando no cuidado com a vida das pessoas. Podem pressionar o quanto quiser. Podem fazer buzinaço na frente de minha casa, nada disso vai impedir de tomar as decisões”, afirmou ele em conversa com jornalistas.

Ele lembrou que também tem sido prejudicado. “Eu sou empresário, meu padrão de vida vem do setor privado. Vocês acham que eu gostaria de sacrificar meus negócios, empresas da minha própria família? Só vamos abrir o comércio quando for possível abrir. Não vou ceder à pressão”, reforçou.

Ainda nesse embalo, refletiu sobre os níveis desiguais de vulnerabilidade que envolveriam uma retomada no meio da pandemia. “Quem tem dinheiro se defende mais fácil. Quem tem dinheiro vai bater na porta do hospital e vai conseguir mais facilmente o internamento. E quem não tem? Estamos falando de vidas. Não vou permitir que famílias, principalmente do Subúrbio, batam na porta e não tenha leito. Ontem nós tínhamos 84% de ocupação dos leitos de UTI. E aí, abre tudo, colapsa o sistema de saúde e o culpado por isso vai ser quem? O prefeito”, declarou.

Recursos e flexibilização O prefeito também comentou que esteve em Brasília, nessa terça, onde foi “dialogar com algumas autoridades sobre temas principalmente pra buscar recursos para Salvador”. “Estamos sofrendo muito com a redução da atividade econômica. Vejo as pessoas questionarem nossas medidas por causa dos impactos na economia. Todos estão sofrendo, a prefeitura também”, continuou. 

Apesar disso, haverá retomada em alguns setores, o que será anunciado nos próximos dias, juntamente com o governo do estado. “Se eu tomei a decisão de não anunciar sozinho, para que essa decisão fosse fruto de um entendimento com o governo, é obvio que não posso antecipar o que vai abrir primeiro ou quando o setor vai retomar. É coisa de dois, três dias para fazermos o anúncio juntos”, adiantou.

“Existem coisas que serão anunciadas em comum, que dizem respeito ao critério da retomada das atividades, aos critérios pros avanços das fases, porque a retomada não será de uma vez só, mas tem coisas que não serão em comum, como o plano do setor econômico. A prefeitura terá a dela e o governo o dele”, antecipou o prefeito, que já explicou que o plano da prefeitura está “pronto com mais de 50 questões, inclusive tributárias”.“Tenho espírito público e não espírito de porco, porque não olho pro meu próprio umbigo, estou preocupado com o que vai acontecer na casa dos 3 milhões de habitantes que moram em Salvador”, complementou, durante a coletiva de inauguração do novo gripário.Este é o segundo equipamento do tipo, dedicado ao atendimento de pessoas com síndromes gripais implantado pela Prefeitura - o primeiro foi na UPA do Vale dos Barris. 

O módulo terá atendimento 24 horas, todos os dias da semana, com estrutura de dez leitos de observação, dois de estabilização e uma sala de aplicação de medicamentos. Serão 75 profissionais em atividade no local, sendo 14 médicos intensivistas, 2 diaristas, 12 enfermeiros e 1 enfermeiro supervisor. O investimento é de R$ 3,3 milhões.

O vice-prefeito Bruno Reis e o secretário de Saúde, Leo Prates, também participaram da entrega do espaço que será gerido pela Organização Instituto de Gestão e Humanização (IGH), entidade que já atua na gestão da UPA de Paripe desde maio do ano passado.

Assista a trechos de declarações do prefeito durante a coletiva.