Ninguém pega na mão de ninguém: suspeita de coronavírus muda costumes nas missas

Arquidiocese de Salvador enviou comunicado nesta sexta-feira (28)

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 29 de fevereiro de 2020 às 04:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Mesmo que nenhum caso de coronavírus tenha sido confirmado em Salvador, o medo da doença já causa mudanças até nas missas da cidade. A partir de agora, durante celebrações, ninguém pega na mão de ninguém. Orientações para que o contato físico entre os fiéis sejam evitado foram feitas nesta sexta-feira (28) pelo arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.

A Arquidiocese de Salvador orientou os sacerdotes, diáconos e ministros da comunhão que suspendam os abraços da paz nas celebrações, peçam aos fiéis para não darem as mãos durante a oração do Pai Nosso e distribuam a comunhão na mão e não mais na boca, como costumava ocorrer. A medida visa evitar a difusão do coronavírus. A Bahia monitora cinco casos suspeitos. Em São Paulo, pesquisadores conseguiram sequenciar o genoma do vírus.

Nas primeiras missas depois do comunicado, os fiéis dividiram opiniões quanto à real necessidade das mudanças. “As pessoas já vivem tão afastadas umas das outras. Às vezes, você vem à missa precisando desse conforto, do abraço de um irmão. Eu acho que proibir é só criar mais pânico”, opina a economista Miraci Ariana, 43 anos, que nestes dias de Quaresma - entre o Carnaval e a Páscoa - tem ido à missa diariamente para a comunhão na Igreja de São Pedro, na Praça da Piedade.“Se a pessoa entra nessa onde de desespero, de pânico, achando que tudo vai gerar contaminação, isso atrai. Acho desnecessário”, acredita a técnica de enfermagem Olivia Araújo, 31, na missa das 12h.  Recomendação é não entregar mais a hóstia na boca, e sim nas mãos do fiel (Foto: Marina Silva/CORREIO) Já a cuidadora de idosos Jandiara Santos, 61, anos é do time que apoia as mudanças. “É super válido, tem que tomar todos os cuidados mesmo. Eu mesma sempre ando com álcool na bolsa, e na hora de receber a hóstia prefiro receber na mão”, explicou.

”Se a gente tivesse a garantia que as pessoas estão tomando todos os cuidados de higiene, se precavendo... Mas, como não é possível garantir, acho que tomar medidas como essa são um caminho”, acredita o motorista Gerson Bastos, 54, também frequentador da Igreja de São Pedro.

Paz sem abraço A orientação oficializada pela Arquidiocese já vinham sendo colocada em prática há um tempo em algumas paróquias. É o caso da de Sant’Ana, no Rio Vermelho, onde os abraços não estavam acontecendo já nos últimos meses. “Não foi uma medida por conta de coronavírus, mas já visando a época de Carnaval, que já é um período propício à viroses”, explicou Padre Abel, responsável pela Igreja. 

O pároco esclarece, ainda, que as mudanças estabelecidas pela orientação de Dom Murilo não alteram as normas comuns da Igreja.“O costume de rezar o Pai Nosso de mãos dadas é algo que é cultural da América Latina, não é uma norma  mundial da Igreja. Da mesma forma, o abraço pode ou não acontecer”, explica. Na hora do Pai Nosso, nada de segurar a mão do fiel ao lado (Foto: Marina Silva/CORREIO) Segundo Abel, os fiéis entenderam perfeitamente as orientações e não houve qualquer tipo de confusão ou reclamação frente às mudanças: “Todos precisam se adaptar, não só as igrejas, mas as casas, famílias, ambientes de trabalho. Se proteger para evitar um possível contágio”, acredita o religioso. 

Já o padre Emílio, que é responsável pela paróquia do subúrbio, ainda não havia suspendido os abraços.  “A nossa proxima missa será ainda nesse domingo e eu passarei as orientações. Tenho certeza que será tranquilo. Ainda não tinha feito nenhuma mudança porque essa orientação só veio agora. Não tinha porque suspender abraços em época de Carnaval, que tem muito mais contato”, acredita ele.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro