No primeiro dia de imunização, 1.397 pessoas são vacinadas contra a covid-19 em Salvador

Outras 20 mil doses serão aplicadas nos próximos dias

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 15:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A data 19 de janeiro de 2020 será lembrada para sempre pelos baianos como o dia em que a vacina contra a covid-19 começou a imunizar a população baiana. Desde as 7h que diversos baianos foram vacinados em diversos locais da cidade. No total, só na capital Salvador, foram 1.397 pessoas vacinadas nesse primeiro dia, segundo dados inseridos no vacinômetro da Prefeitura, até às 20h. A vacinação ocorreu em sete locais diferentes: Obras Sociais Irmã Dulce, a central de regulação do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o Hospital Municipal, o abrigo Dom Pedro II e as Unidades de Pronto-Atendimentos e gripários de Pirajá, Barris e Brotas.  

No santuário de Santa Dulce dos Pobres apenas quatro pessoas foram vacinadas, em uma cerimônia simbólica com a presença de autoridades políticas, que se iniciou às 7h. A enfermeira Maria Angélica de Carvalho, 53 anos, do Hospital Instituto Couto Maia foi a primeira vacinada do estado, seguida pela idosa Lícia Pereira Santos, 86 anos, assistida pelas Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), o médico socorrista do Samu Uenderson Barbosa, 30 anos, e a enfermeira indígena Deysianne Tuxá. 

Logo depois, às 8h30, a vacinação se iniciou nos pontos para os profissionais da saúde que estão na linha de frente no combate à covid-19 e os idosos que vivem em abrigos. Na central de regulação do Samu, às 7h30, quando o local de vacinação ainda estava trancado de cadeado, já tinha gente na fila aguardando o momento de ser vacinado. Era a técnica de enfermagem Odilia Damasceno, 57 anos, que há 13 é concursada da instituição.  "É uma mistura de pânico e nervosismo que essa doença nos causa. Se eu pudesse, iria levar as doses para meus filhos também. Eu tive duas colegas bem próximas que faleceram de covid-19 num intervalo de três dias. Tudo isso é muito triste e agora temos essa esperança", disse a profissional, antes de ser vacinada. Em seguida, foi a vez do enfermeiro do Samu André Menezes, 37 anos, cujos familiares viviam um misto de alegria e preocupação. Alegria, pois ele foi o primeiro da família a ser vacinado contra a covid-19. Preocupação, pois foi nessa madrugada que o cunhado de André teve que ser internado com 50% do pulmão comprometido pela covid-19.  

"Ele mora em frente da minha casa. Estamos nas orações para que ele responda bem. Mas um sentimento de frustação, pois se ele já tivesse sido vacinado, não iria passar por isso", lamenta André, que tem certeza da mensagem que as pessoas devem aprender com o seu exemplo: "Continuem se cuidando, fiquem em casa. Com a chegada da vacina, estamos mais próximos de ficarmos livres da covid-19 e não é bom ser contaminado logo nessa reta final, ainda mais se esse caso evoluir para algo mais grave", diz.  

Sobre a parte alegre do dia, aquela em que André foi vacinado, o sorriso no rosto não era escondido pela máscara de proteção. "Todo o medo e preocupação que nos acompanhou durante esse ano será reduzido agora. A gente que está na linha de frente fica muito preocupado, pois estamos expostos e temos medo de levar o vírus para casa", aponta. 

Cerimônia  Quando deu 8h30, as cadeiras distanciadas do auditório da central de regulação do Samu já estavam todas preenchidas de funcionários. Antes do início da vacinação, o prefeito Bruno Reis, a vice Ana Paula e o secretário da Saúde Léo Prates estiveram no local e discursaram para os presentes. "Ninguém aqui quer receber a vacina, né?", questionou Prates, em tom de brincadeira. "Se bem que vocês foram muito bem representados por um 'samuzeiro' que estava na cerimónia principal", finalizou. Nessa terça, 338 profissionais do Samu tinham foram vacinados (337 na central de regulação e 1 na Osid).“Esse dia é histórico e eu agradeço a vocês do Samu por todo esforço que estão fazendo durante a pandemia. Vocês são atores principais desse processo de vacinação, estão na linha de frente. Nós conseguimos ampliar o funcionamento do Samu durante a pandemia e isso só foi possível, pois vocês trabalharam e atuaram com muito amor. Não estamos livres da pandemia, ainda precisamos muito de vocês”, discursou o prefeito Bruno Reis. A coordenadora de enfermagem do Samu Raquel Pechir chorou durante a vacinação. O motivo ela explicou com dados: dos cerca de mil profissionais que atuam na instituição, segundo Raquel, 263 foram contaminados pelo vírus. Dentre estes, 101 técnicos de enfermagem, 64 condutores, 44 médicos e 36 enfermeiros. “Eu vi os meus profissionais atuando de maneira corajosa e ver eles sendo vacinados me dá um alívio de que eles vão atuar de forma mais segura”, aponta. 

Mesmo com o recebimento da vacina, as medidas de segurança entre os profissionais ainda vão continuar. Na Upa dos Barris, onde a médica Joaci Costa de Oliveira, 29 anos, trabalha e foi vacinada, explica que os cuidados permanecerão os mesmos. “Ainda não é liberdade, mas é uma segurança. Muita segurança, na verdade. Eu não tive covid-19 e nenhum sintoma gripal, então tomar a vacina agora é espetacular. É uma vitória”, descreveu.  

A colega de trabalho Priscila de Matos, 28 anos, também médica, trabalhou na linha de frente da covid-19 no gripário dos Barris e no Hospital Espanhol. “Esse é um sonho sendo realizado. O mais difícil dessa pandemia foi ver tantos familiares chorando a perda de seus entes queridos por causa dessa doença e a chegada da vacina é um sinal de que isso vai acabar”, apontou.  

Abrigo  Já na manhã dessa terça-feira, todos os 51 idosos do abrigo municipal Dom Pedro II tinham tomado a primeira dose da vacina contra a covid-19. A última senhora a ser vacinada no local foi Ana Maria de Jesus, mais conhecida como Dona Aninha, que garante ter 66 anos, embora os funcionários admitam que todo ano ela diz essa resposta quando alguém a pergunta, pois não lembra com exatidão a sua idade. A aplicação do imunizante aconteceu às 10h30.  

"Doeu, tô aqui com o braço doendo, mas eu gostei mesmo foi por isso. Não chorei não", disse a senhora, que não recebe mais visitas de familiares. De todos os idosos, dona Aninha foi a que mais teve medo de tomar a vacina, por isso foi a última. 

"Ela estava com medo e resistência. Já dizia que tinha tomado. Mas a gente foi e conversou, explicou que ela precisava tomar", conta a psicóloga Ana Flávia, uma das responsáveis por convencer a idosa a receber o imunizante. "Desde o começo da pandemia a gente tem ensinado para eles sobre os cuidados com a covid-19 e eles entendem. Todos aqui têm consciência do que é a pandemia, até por causa dos decretos que foram estabelecidos. Esse momento da vacina é muito importante para nós", explicou Ana Flávia. 

A dona Lúcia Maria da Conceição Peçanha, 73 anos, vive há 14 anos no abrigo, que mudou completamente durante a pandemia. Ela mesmo teve covid-19 mas conseguiu se recuperar sem precisar ir ao hospital. “Tive dor de cabeça e febre. Não foi nada legal. Então pedi a Deus para que essa vacina chegasse logo em Salvador e graças a ele que chegou”, comemorou a idosa, que não pretende diminuir os cuidados: “eu gostei de usar a máscara e vou continuar com ela”, garantiu.   

No interior  Também nessa terça-feira (19) que diversas cidades do interior iniciaram a vacinação contra a covid-19. Em Itabuna foi às 11h50 que Rogério Araújo, 48 anos, condutor do Samu, se tornou o primeiro imunizado da cidade. Lá cerca de 2,2 mil doses foram recebidas para atender os profissionais de saúde, idosos que vivem em abrigos e indígenas que moram em aldeias.   

Em Barreiras, às 14h, dona Ana Maria dos Santos, 81 anos, foi a primeira vacinada. Ela é residente do abrigo dos idosos São João Batista. Logo depois, os profissionais de saúde que atuam na linha de frente começaram a receber as primeiras das vacinas destinadas à cidade.  

Já para Juazeiro foram destinadas 2,5 mil doses de vacinas. A primeira dose foi aplicada num profissional de saúde na sala de vacina do Centro de Saúde III, no bairro do Angary, às 15h. O nome do primeiro vacinado não tinha sido divulgado pela prefeitura.  

Em Vitória da Conquista, mais de 4 mil doses foram disponibilizadas, que serão utilizas inicialmente apenas nos profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à covid-19. Lá a vacinação começou às 14h, mas também não tinha sido divulgado a identidade do primeiro imunizado. 

Ao contrário de Feira de Santana, cuja enfermeira Layse Bastos, que trabalha no Hospital Clériston Andrade, foi a primeira pessoa a ser vacinada contra a Clovid-19 no município. Ela chorou de emoção durante a aplicação da dose. A cidade recebeu cerca de 9 mil doses às 7h30. 

* Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo