Nordeste de Amaralina recebe festival virtual de luz e pagodão

Ferramenta de mapeamento de vídeo foi utilizada para a projeção na primeira edição do Festival Mete Dança, pioneiro do gênero na periferia

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  • Luana Lisboa

Publicado em 16 de junho de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos de Paula Fróes
Evento é o primeiro video mapping em grande escala realizado na periferia de Salvador por foto de Paula Fróes

Janelas, varandas e lajes da comunidade do Nordeste de Amaralina foram ocupados por curiosos e apreciadores do pagodão baiano na noite desta terça-feira. Isso porque das suas casas, os moradores puderam assistir um show de luz e dança da primeira edição do Festival Mete Dança. As paredes viraram tela para performances de dança mapeadas (em projeção) ao som do grupo Trapfunk&Alivio e coreografias do Coletivo Bote Fé, através da tecnologia do video mapping (mapeamento de vídeo). 

"Como morador, a gente se sente homenageado. Isso traz alegria para uma área que é muito violenta. A impressão que fica é que isso colore e traz um momento de paz", opinou o morador Jefferson Borges. E era mesmo essa a intenção do idealizador Ismael Fagundes quando tirou o projeto do papel. "O mapping entra como um recurso para levar arte para a periferia, até para as pessoas que não têm internet em casa. Aqui a ideia é fazer do gueto uma plateia para essa festa, respeitando as irregularidades arquitetônicas e lidando como se fosse um paredão digital", explicou Fagundes.

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O Mete Dança Digital é o primeiro projeto que o produtor cultural conseguiu idealizar e produzir, em 12 anos de profissão. Ele foi contemplado pelo Prêmio Anselmo Serrat de Linguagens Artísticas, da Fundação Gregório de Matos, e pela Prefeitura Municipal de Salvador, através da Lei Aldir Blanc. Já a direção artística ficou por conta de Rafael Ramos, que já havia dirigido dois clipes do Trapfunk&Alivio. "Quando surgiu a oportunidade de fazer um projeto num bairro popular, o grupo foi o primeiro que eu pensei, por ter uma música que abrange gêneros de Salvador e dialogar com tudo que a gente está criando", afirmou Ramos.

O grupo é composto dos DJs Alex, mano Lipe e Mc Sagat, originais da comunidade. Já o coletivo de dança é formado por Janaina Candeias, do Alto do Peru, e Larissa Victoria, de Cajazeiras. “Começamos o coletivo em 2017 e Ismael chegou a nós procurando o trabalho de mulheres pretas no pagode, e a gente se entregou ao projeto. Trabalhamos com a cultura preta, popular e periférica, tendo como foco o pagode baiano. Aceitamos porque entendemos a importância do projeto, de ter o primeiro mapping dentro de uma periferia soteropolitana”, explicou Janaína.

Esse não é o primeiro projeto em Salvador que trabalha com projeção de vídeos em grande escala. De acordo com o diretor artístico, o festival mais conhecido pela técnica é o Salvador Mapping, que já teve duas edições. Mas, o Mete Dança é o primeiro a trazer o mapeamento para a periferia. Tudo foi gravado em fevereiro e pensado para ser projetado em abril, no chão do Campo do Areal. Mas, sem a chegada das vacinas, o projeto foi adiado para junho, e o local da projeção foi alterado para evitar aglomerações.

Atraída pelo som, uma das moradoras que saiu de casa para assistir foi Loide Souza, que ficou triste ao saber que só era um dia de evento. “Devia ter em outros dias, por que não?”, questionou. Mas Ismael Fagundes tranquilizou ela: “Pretendo realizar outra projeção em julho, dessa vez no chão. Esse não foi o fim do Festival Mete Dança Digital. A trilha sonora será lançada nas plataformas digitais junto com um clipe do projeto, em meados de agosto”.

*Com orientação de Monique Feitosa