'Nós estimamos uma queda na arrecadação de 40%', diz prefeito de Serrinha

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Publicado em 9 de julho de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Após um “boom” nos casos de coronavírus no começo de junho, Serrinha conseguiu estabilizar o avanço da pandemia e tem, hoje, 74% das pessoas infectadas já recuperadas. Contudo, o prefeito Adriano Lima diz que o momento ainda é de alerta. No município, o comércio funciona de forma alternada: semana abre, na outra fecha.

Neste momento, a cidade tem dez leitos de UTI, com oito deles ocupados. Além disso, ganhou o reforço de 20 novos respiradores do Ministério da Saúde, o que vai permitir a ampliação do atendimento. E o momento preocupa o prefeito, devido ao aumento dos casos em Feira de Santana, o que pode levar pacientes de municípios menores da região para Serrinha. Antes, eles teriam Feira como referência.

O prefeito estima prejuízo de 40% na arrecadação e projeta um 2021 muito difícil para as prefeituras, uma vez que o governo federal não terá condições manter a ajuda a estados e municípios no longo prazo. Lima ainda afirma que a decisão de adiar as eleições foi prudente, mas diz que o ponto negativo é que a transição da gestão, antes feita em três meses, agora será em apenas 30 dias. Confira a entrevista feita ontem em parceria pelo site Alô Alô Bahia e Jornal CORREIO.

Serrinha tem até esta quarta-feira (8) 396 casos confirmados, sendo que, deste total, 289 pessoas curadas. Ou seja: 74% das pessoas que tiveram covid-19 já superaram a doença. O senhor acredita que a situação no município está confortável? Na verdade, muitas vezes estes números deixam uma sensação ilusória. Ainda não estamos confortáveis e precisamos nos manter muito ligados. Neste sentido, estamos testando muito. Nós já adquirimos 5 mil testes rápidos para ampliar essa testagem e vamos adquirir mais 5 mil. Quando nós fazemos isso, a pessoa respeita mais o isolamento, porque, quando sabe que está ou o vizinho foi infectado, ela fica mais ligada, cumpre o isolamento, atende às medidas. Então, ao fazer essa testagem em massa nós conseguimos rastrear os casos, isolar as pessoas infectadas e aquelas com que elas tiveram contato, e fazer este acompanhamento pela equipe da Saúde. Isso ajuda a não disseminar tanto.

O funcionamento do comércio foi flexibilizado. Como está essa situação hoje? Eu tinha flexibilizado num período, depois voltei a restringir o funcionamento. Hoje eu mantenho uma semana fechada e outra aberta. Essa semana, por exemplo, está aberto, funciona até sexta só. Final de semana não abre, somente os serviços essenciais podem funcionar. Na próxima semana, fica fechado. Então, estamos utilizando essa estratégia de fazer uma abertura alternada. Na capital não tem muito isso, mas no interior, culturalmente, quando a pessoa fala ‘vou para a rua’, ela acha que é para passear. Por exemplo, vai fazer mercado e leva três pessoas da família, passa por vários lugares. Estou tentando frear esse período de contaminação e evitar um aumento descontrolado para não sobrecarregar os leitos de UTI.

O fato de Serrinha ser uma cidade polo deixa o alerta ainda mais ligado? Nós temos pessoas de outras cidades que vêm para cá para o comércio, fazer compras. Além disso, estamos na margem da BR-116, que é uma das mais movimentadas do Brasil. Essa característica geográfica da nossa cidade acaba, neste momento da pandemia, sendo uma coisa negativa. Para controlar isso, fizemos barreiras sanitárias. Temos barreiras nos dois pontos de acesso da BR-116 e em uma rodovia estadual. Agora, em uma barreira sanitária a eficácia termina não sendo tão grande. A equipe afere a temperatura, pergunta de onde está vindo e para onde está indo. Não há um controle tão grande. Tanto que o governo do estado não faz mais. E ainda tem um problema que é de EPI, que é necessário e que neste momento, além de escasso, está caro. Não posso deixar faltar EPI no hospital para deixar nas barreiras. Além disso, nós estamos com um drone com câmera térmica. Ele identifica pessoas que estão com temperatura elevada, nós vamos e aferimos novamente para acompanhar os casos. Contratamos esse serviço, que tem funcionado como espião. Colocamos no período do São João para identificar fogueiras.

No começo de junho, Serrinha teve um grande aumento que teve como pico, segundo o senhor próprio, uma mineradora. Como controlou essa situação? A maior parte dos funcionários desta mineradora mora em Serrinha. Então, estes funcionários acabaram infectando familiares, amigos. Chegamos a ter 56% dos casos confirmados em Serrinha de pessoas relacionadas à mineradora. Aconteceu o mesmo em outras cidades, como Teofilândia, Araci. Tivemos que isolar estas pessoas e aumentar as restrições para controlar.

O senhor falou do funcionamento alternado do comércio. Como está o diálogo com os empresários? Eles aprovam este plano? Há uma compreensão, eles estão vendo que estamos tentando auxiliar. Mas os comerciantes querem que deixe aberto, mas sabem que não podemos liberar tudo. Na verdade, não vejo ninguém gostar (do funcionamento alternado). Em que local o comerciante está satisfeito? Tem ramos aberto, como os essenciais, os supermercados estão faturando muito, farmácias também. Estamos nos esforçando para proteger as pessoas. Temos um bom diálogo com a CDL (Câmara dos Dirigentes Lojistas), que quer uma alternativa para deixar aberto todos os dias. O correto é fechar mesmo. Todo lugar que teve bons resultados foi agressivo nessa questão do comércio.

Como está a estrutura de saúde do município para anteder aos casos de covid-19? Abrimos dez leitos de UTI. Estou com 8 pessoas internadas (em UTI), sendo um suspeito e quatro confirmados para coronavírus e três com outros problemas. Consegui mais 20 respiradores com o Ministério da Saúde e vamos ampliar o atendimento no hospital municipal. Uma preocupação que temos aqui é com o aumento dos casos em Feira de Santana, porque a sobrecarga lá vai nos sobrecarregar aqui. As pessoas de outras cidades próximas que antes iriam para Feira agora vão passar a vir para cá. Nós temos uma UTI móvel e estou montando uma segunda, e inclusive já estamos emprestando a prefeitos da região. Além disso, fizemos uma separação do hospital e transformamos em duas áreas. Pegamos as urgências e transferimos para uma entidade filantrópica. O hospital ficou para problema respiratório e emergências, como acidentes. Os 19 postos de saúde da família estão funcionando diariamente, o hospital está 24 horas.

Qual o impacto da pandemia na arrecadação? Nós estimamos uma queda na arrecadação de 40%. A sorte são essas recomposições do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) que estão sendo feitas pelo governo federal. As perdas que estamos tendo estão sendo recomposta, com 70%, 80% de recomposição. Agora, mesmo assim, já há impacto. Antes, por exemplo, eu pagava uma parcela do 13º aos servidores em junho. Esse ano não paguei ainda. Vou pagar agora em julho com o recurso do 1% do FPM (recurso extra que deve ser pago neste mês). Eu acredito que o maior impacto vai ser no ano que vem. O governo federal vai ficar complementando a arrecadação no ano que vem? Não vai. E a arrecadação não vai ser a mesma, vai reduzir bastante. Como é que vai ficar? Todos vão ter dificuldade. Vai ser uma dificuldade muito grande.

Neste sentido, qual a solução para os municípios? O futuro é cortar despesas. Vai aumentar o desemprego, porque as prefeituras vão demitir. Em cidades como Feira de Santana, Salvador, não temos muito isso, mas na maioria das cidades as prefeituras são grandes empregadoras. Serrinha por exemplo já é. O número de funcionários que a prefeitura tem, nenhuma grande empresa tem. E tem outro ponto, que é o limite de 54% de índice de pessoal. Uma prefeitura que arrecada R$ 100 milhões e gasta R$ 54 milhões com folha de pagamento, está tranquila. Mas se a arrecadação caiu 30%, você continua com a mesma folha de R$ 54 milhões. Então, vamos ter prefeito que vai responder na justiça, com conta reprovada. A maioria vai quebrar. Não tem hoje uma solução mesmo de médio e longo prazo.

A tradicional vaquejada de Serrinha, que movimenta milhões de reais na cidade, não vai acontecer por conta da pandemia. Qual o impacto? Antes da vaquejada, já teve o São João. No ano passado, o São João movimentou muito o setor hoteleiro, o entretenimento, inclusive a movimentação foi maior do que a vaquejada. Tivemos um show com Xand Avião com 60 mil pessoas. A vaquejada é uma festa particular, não é pública. Os organizadores já falaram que não tem como fazer. Então, claro que teremos um impacto muito grande. Foram dois baques pesados, o São João e a vaquejada.

Há uma proposta do deputado estadual Tiago Correia para que as vaquejadas acontecessem com transmissão online, sem público. O senhor acha viável? Tenho visto que estão fazendo provas de turfe sem público, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. No caso de vaquejada não sei se é possível. Não sei se os donos dos estabelecimentos estão querer. Tenho dúvidas se tem viabilidade. Se chegar lá uma fiscalização e disser que tem aglomeração, é o dono do estabelecimento que vai responder. Fora que tem toda a movimentação. Na pior das hipóteses, vão ser 500, 600 caminhões. Como é que não aglomera? Não tem como.

Qual sua opinião sobre o adiamento das eleições? Foi uma decisão prudente. Não acredito que outubro tivesse segurança. Agora, para quem está na gestão será ruim, por causa da transição. Antes, você tinha outubro novembro e dezembro para arrumar o mandato, fechar as contas. Como é que vai fechar o ciclo em 30 dias, quando antes fazia em 90 dias? Vamos ter que montar uma verdadeira força-tarefa. De três meses para fechar tudo, agora será só um. E, sinceramente, não sei nem se vai ter eleição. E se a pandemia continuar avançando, será que vão manter? Eu tinha concurso marcado para abril, mas já disse que só vamos fazer depois da eleição. Vamos observar a experiência da eleição.