Nós, o plástico e os oceanos

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Publicado em 25 de setembro de 2019 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Estudo encomendado pelo Fórum Econômico Mundial relata a existência de 150 milhões de toneladas métricas de plásticos nos oceanos. Caso o consumo do material siga no mesmo ritmo, cientistas preveem que haverá mais plástico do que peixes até 2050 nos mares. Entre 4,8 milhões e 12,7 milhões de toneladas de plástico chegam aos oceanos todos os anos.

Por ano, se consome entre 500 bilhões e 1 trilhão de sacolas plásticas mundialmente. No Brasil, cerca de 1,5 milhão de sacolinhas são distribuídas por hora. São gratuitas, práticas e onipresentes no comércio. Mas possuem um alto custo ambiental: são produzidas a partir de recursos naturais não renováveis (petróleo ou gás natural), geralmente são descartadas de maneira incorreta após um único uso e levam até 450 anos para se decompor.

Nesse tempo, prejudicam os sistemas de drenagem, aumentam a poluição e vão parar em matas, rios e oceanos, sendo confundidas por animais que as engolem e morrem sufocados ou presos nelas. Estima-se que cada ser humano coma 50 mil partículas de plástico por ano. Uma pequena, ínfima parte, chega a ser reciclada.

Canudos plásticos descartáveis representam outra ameaça. Só nos EUA, mais de 500 milhões de canudos são utilizados diariamente, e já há um movimento global para abolir seu uso. Um exemplo é a rede mundial de cafeterias Starbucks que anunciou que vai deixar de usar canudos de plástico em lojas de todo o mundo até 2020.

Leis restritivas as sacolas plásticas e canudos já vigoram em 20 das 27 capitais brasileiras. A medida também foi adotada em dezenas de países pelo mundo. Na China, por exemplo, onde cerca de 3 bilhões de sacolas eram consumidas por dia, a distribuição gratuita foi proibida.

Nos últimos dias, milhares de pessoas se uniram para limpar praias ao redor do mundo. Em Salvador, centenas de grupos também promoveram mutirões. A cidade avança e se une ao movimento global pela redução no consumo e descarte de sacolas e canudos plásticos. Neste sentido, o prefeito ACM Neto declarou durante a Semana do Clima da ONU que promoverá uma legislação com esse objetivo.

O plástico só é um vilão quando se une ao nosso déficit de cidadania e desrespeito com o planeta. A produção de peças e equipamentos plásticos foi, e é, importante para a humanidade na redução do peso de equipamentos, tornando-os mais eficientes, dando flexibilidade a produtos e ferramentas, proporcionando evolução de maneira geral. Por outro lado, a raiz do problema está na forma como o consumimos e somos incentivados a consumir, assim como o descartamos.

O setor privado tem especial papel na solução. Já existem normas técnicas para a produção de sacolas em qualidade que ajudem a reduzir o consumo, mas o próprio setor não as segue. Ademais, quem produz, distribui e vende precisa assumir sua parte, fazendo da responsabilidade compartilhada e da logística reversa uma realidade, e não um princípio bonito previsto em mais uma lei que não pegou.

André Fraga é engenheiro ambiental e secretário de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência de Salvador

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