Nossa casa, nosso país: conheça os domicílios na Bahia em época de quarentena

Em Salvador, três em cada dez pessoas vivem em apartamento; CORREIO preparou raio-X com dados do IBGE

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  • Thais Borges

Publicado em 5 de abril de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/CORREIO

De repente, o espaço para circular ficou menor. Do mundo de cores e transformações da rua para um canto menor, conhecido e cheio de lembranças. Em tempos de quarentena pelo coronavírus, baianos têm visto suas próprias casas se tornarem tudo: mais do que residência, viraram local de trabalho, de lazer, de reflexão e até de protesto como nunca antes foi visto.

Mas essas mais de 5 milhões de casas na Bahia - ou melhor, de domicílios, para não confundir o tipo de moradia - são diferentes entre si. Algumas são mesmo casas, outras são verticalizadas na forma de apartamento. Enquanto umas têm geladeira, máquina de lavar, internet e celular, outras têm apenas cimento no piso.

O isolamento pode ser o mesmo para todos, mas não quer dizer que ele seja vivido da mesma forma. Para mostrar essa realidade, o CORREIO foi atrás de todos os principais dados disponíveis sobre as moradias no estado. Aqui, reunimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)*, para trazer um raio-X do nosso cantinho. 

Um retrato das casas baianas 

Existem 5 milhões de domicílios na Bahia. Desses, pouco mais de 1 milhão fica em Salvador. Ou seja, uma em cada cinco residências baianas fica na capital. É um reflexo da própria população, já que Salvador concentra cerca de 20% dos habitantes do estado. 

Em média, três pessoas vivem nesses domicílios. Mesmo assim, em mais de 30% das residências baianas, há quatro moradores ou mais.

Mas é casa mesmo? 

De fato, a maioria dos baianos pode dizer que está vivendo a quarentena em casa - "casa" mesmo, no sentido mais literal da palavra. Esse é o tipo de domicílio de 90% dos moradores da Bahia. Apenas 10% dos baianos vivem em apartamento. 

Por outro lado, Salvador, com um processo de verticalização bem mais antigo, tem uma presença maior de moradores em prédios e edifícios: três em cada dez pessoas vivem em apartamentos. 

O sonho da casa própria já é realidade para 76% dos baianos, que já quitaram qualquer dívida sobre a própria casa. Outros 3,3% estão terminando de pagar, mas já vivem em uma residência própria. 

Os aluguéis representam uma parcela maior em Salvador do que na Bahia: um em cada cinco domicílios soteropolitanos é alugado. No estado, o percentual é de 12%.

De que essas casas são feitas? 

A maior parte dos baianos (92,4%) vive em casas de alvenaria ou de taipa com revestimento. Em Salvador, o número é um pouco maior, chegando a 94,2%. As de alvenaria ou taipa sem revestimento são 6,5% e 5,8% no estado e na cidade, respectivamente. 

O piso da maioria das residências baianas é de cerâmica, lajota e pedra - 76,7%. No entanto, dois em cada dez domicílios têm piso com apenas cimento na Bahia. 

Em Salvador, essa proporção é menor: 90% das casas têm piso de cerâmica, lajota ou pedra. Os que são feitos de cimento são pouco mais de 6%. 

Era uma casa muito engraçada, mas tinha teto... 

Sabe aquele desenho da casinha com telhas que costuma ser associado à imagem de uma residência? Pois é mais provável que ele seja realmente visto no interior do estado: na Bahia, 68,6% das casas têm apenas telhas, sem laje de concreto. Outros 13,3% têm telhas e laje de concreto. Apenas 16,3% têm cobertura apenas com laje de concreto. 

Mas em Salvador, porém, a situação é oposta: seis em cada dez domicílios têm apenas laje. As telhas - com laje ou não - só podem ser vistas em pouco mais de 30% das moradias. 

Toda casa tem o essencial? 

Quase todo mundo tem um botijão de gás ou gás encanado em casa - os percentuais beiram a 100%. Na Bahia, porém, esse combustível para preparar alimentos divide espaço com a lenha ou carvão em 23% dos domicílios. Em Salvador, a lenha só aparece em 1% das casas, mas a energia elétrica chama atenção - 41,5% das pessoas já vivem em casas que também usam a energia para preparar comida. 

A energia elétrica está presente na maioria das casas: 98,3% da Bahia e 99,5% em Salvador. Na capital, acontece a mesma coisa com o lixo, que é sempre coletado - seja diretamente por serviço de limpeza (69,9%), seja por caçamba de serviço de limpeza (30,1%). No estado como um todo, isso também acontece, mas há um percentual relevante - 15% - que queima o lixo na própria propriedade. 

A água também chega pela rede geral de distribuição à quase totalidade dos habitantes de Salvador (99,8%). Na Bahia, porém, dois em cada dez moradores têm que recorrer a outras alternativas, como poços artesianos, freáticos, fontes ou nascentes. 

E dentro de casa?

Dentro de casa, a maioria dos moradores tem geladeira - 96% e 98,8% na Bahia e em Salvador, respectivamente. Máquina de lavar, porém, só está presente na casa de três em cada dez baianos. Entre os soteropolitanos, a proporção sobe para seis em cada dez. 

Na garagem de 40% dos soteropolitanos, há pelo menos um carro. No resto do estado, esse índice divide espaço com motocicletas - cerca de 30% têm carro e praticamente o mesmo percentual tem moto. 

Banheiro: em Salvador, 99,7% das pessoas moram em imóveis que têm banheiro próprio, feito exclusivamente para o uso dos moradores. Na Bahia, o índice é de 95,9%. 

Quem chefia? 

As mulheres respondem pela chefia de quase metade dos domicílios em Salvador (49,6%). Na Bahia, o número é um pouco menor: 45,8% das mulheres são chefes de família.  Mulheres chefiam praticamente metade das casas em Salvador (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) E elas são de fato a maioria das que vivem sozinhas em Salvador: 52,6% da população. Na Bahia, ainda são os homens os que mais moram sozinhos - 54,77%. 

Telas e telinhas 

Nesses tempos de isolamento social, com opções de lazer e diversão reduzidas, muita gente tem recorrido ao entretenimento através de telas - televisão, computador, celular. 

Mas por mais conectada que seja a sociedade hoje, a televisão ainda é o meio mais democrático. Ela é que está em 94,7% dos lares baianos. Mesmo assim, já é seguida de perto pelos celulares: nove em cada dez residências do estado já têm, pelo menos, algum morador que possua o aparelho.

Além disso, nem todas as casas têm acesso à internet - o número é de 66,2% no estado. Em locais como o Distrito Federal, por exemplo, mais de 90% das residências têm internet. 

Os computadores e tablets, assim como os telefones fixos, não são tão populares: 33,4% e 16,5% respectivamente. 

Um ou dois cômodos

O isolamento pode ser ainda mais difícil em casas menores - como naquelas em que há somente um ou dois cômodos. De acordo com o último Censo, na Bahia, cinco cidades tinham mais de 10% da população vivendo em imóveis assim: Luís Eduardo Magalhães - 13,48% Porto Seguro - 11,02% Wenceslau Guimarães - 10,78%  Santa Cruz Cabrália - 10,68% Itacaré - 10,38%  Apenas duas dessas cidades ficavam entre os 50 municípios baianos com maior índice de pessoas vivendo sozinhas: Itacaré, na 37ª posição (1,1 mil moradores), e Santa Cruz Cabrália, na 48ª (1,2 mil pessoas). 

Salvador, na época do Censo, ficava na 104ª colocação - com 3,87% da população vivendo em casas com um ou dois cômodos. Ainda assim, era maior do que a média da Bahia, de 3,61%. 

* Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2017 e 2018 e Censo 2010