Nova orla de Amaralina faz homenagem a baianas, pescadores e mestre de capoeira

Prefeito entregou trecho da orla na manhã de hoje (7)

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  • Marcela Vilar

Publicado em 7 de agosto de 2020 às 11:04

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Mesmo ainda sem poderem desfrutar completamente do espaço por conta das praias estarem fechadas, os soteropolitanos têm agora uma nova orla de Amaralina, pelo menos parte dela. Debaixo de toró e aglomeração - principalmente pelos curiosos que moram no Nordeste - o prefeito ACM Neto entregou, na manhã desta sexta-feira (7), o primeiro trecho da requalificação da orla da região. As mudanças foram feitas no um quilômetro de extensão entre o quartel de Amaralina e o Largo das Baianas.

“Não posso esconder a minha emoção de estar entregando a requalificação da orla de Amaralina a partir, exatamente, do seu ponto mais importante: o Largo das Baianas. Quem passa por aqui hoje fica impressionado com o capricho dessa obra e quero agradecer à toda minha equipe, que superou as dificuldades de conviver com a pandemia, e que trabalhou nessa obra nesses últimos meses”, agradeceu o prefeito ACM Neto durante a inauguração.

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O prefeito “deu uma dura” e só começou a coletiva após a aglomeração ter sido dispersa. Estavam ali mais de 100 pessoas, entre moradores do Nordeste, baianas de acarajé, pescadores e mestres de capoeira, além da equipe da Prefeitura. “Peço, por favor, que não se aglomerem. A população tem o direito de sair de casa e a vontade de ver de perto, principalmente os moradores do Nordeste de Amaralina, mas a saúde pública em primeiro lugar”, reclamou o prefeito. 

Baianas de Acarajé As baianas, que ganharam recentemente o monumento em homenagem à elas feito pelo artista baiano Bel Borba de 4 metros de altura e 16 toneladas, agora têm o Largo totalmente requalificado para vender seus acarajés e outras comida típicas. O piso tem pedras portuguesas nas cores vermelha, branca e preta. No local, também foram implantados parque infantil, equipamentos para academia de ginástica e quiosques para a comercialização de coco. Foto: Nara Gentil/Arquivo CORREIO “Uma felicidade só”, disse Rita Santos, presidente da ABAM (Associação das Baianas de Acarajé e de Mingau), ao admirar o espaço. Há mais de quatro décadas que as baianas se estabeleceram ali. Naquela época, eram 40 no total, mas só 10 continuaram a tradição, que serão acomodados nos quiosques implantados. “Elas são o símbolo da resistência da baiana do acarajé, pois se mantiveram nesse espaço, que estava decaído, faça chuva ou faça sol”.   Uma delas foi Dora Silva, de 55 anos, que começou os trabalhos por ali aos 9 anos de idade. O prefeito não economizou palavras ao falar das que estavam presentes no evento. “É um presente para Salvador, mas um presente muito especial para as baianas de acarajé que são um dos símbolos mais marcantes da nossa cultura, da nossa história e das nossas tradições”, comentou Neto. 

Novas praças  Além do Largo e da orla, que tem agora iluminação em LED, novos semáforos, rampas, acessos à praia em todos os pontos de ônibus, a Prefeitura reconstruiu duas praças que ficam neste trecho: a João Amaral, mais conhecida como Budião, e a Praça Mestre Bozó Preto, em homenagem ao mestre de capoeira de mesmo nome, que é inclusive discípulo de Mestre Bimba. 

“Me sinto honrado, porque homenagem se faz assim, em vida. Essa praça não é só de Mestre Bozó, é de todos os mestres e capoeiristas do Nordeste”, disse Mestre Bozó, 62 anos, que começou a lutar capoeira aos 4 anos de idade e desde 1978 que faz rodas de capoeira ali em Amaralina, sempre aos domingos. Mesmo sendo grupo de risco, ele disse que não podia ficar ter ficado dentro de casa no dia de hoje. “Com uma homenagem dessa, a gente tem que tá aqui, mas já tô indo pra casa”, preveniu Bozó. São ao todo 22 grupos de capoeira no Nordeste de Amaralina, que somam 2 mil integrantes, coordenados pela Nucama (Núcleo de Capoeira do Nordeste de Amaralina).

Na praça Budião, há agora parque infantil, quiosques de coco e acarajé, equipamentos de ginástica e uma quadra poliesportiva, que foi solicitada pelos moradores da comunidade por meio de um abaixo assinado com mais 2 mil assinaturas. Esse espaço para esportes levo o nome do enfermeiro e morador do Nordeste Antônio César Pita (Cesinha), que incentivou a prática de esporte no bairro através da criação de campeonatos de futebol, entre outros. Infelizmente, ele não sobreviveu para ver o tributo, pois foi o primeiro profissional de saúde a falecer pela covid-19 na Bahia, em abril deste ano.

A mãe dele, dona Augusta Maria Pitta, que estava na inauguração, se emocionou ao ver o legado do filho. “Só tenho a agradecer”, disse, com lágrimas nos olhos. A Prefeitura implantou ainda uma Colônia de Pescadores de Amaralina, com 87 metros quadrados, para dar suporte a 20 pescadores que atuam no local. Além disso, o piso foi todo modificado para o uso intertravado, como tem sido usado em outras obras municipais, a fim de valorizar o pedestre e circulação de pessoas. 

A coordenação do projeto, que integra o Programa de Requalificação Urbanística (Proquali), foi mais uma vez da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF). Para isso, foi necessário um investimento de R$17,6 milhões. Já o total da revitalização da orla da Pituba é de R$ 38,8 milhões, tudo com financiamento do Corporação Andina de Fomento (CAF). Ou seja, não há verba municipal envolvida. A segunda e última etapa, que vai do Largo das Baianas até a Vila Jardim dos Namorados, será concluída até outubro. Este é o 23º trecho da orla de Salvador que é requalificado.

Requalificação da orla O prefeito lembrou de todas as mudanças que já fez na região litorânea na cidade durante sua gestão. “Como é que uma cidade litorânea, que está vocacionada ao turismo de sol e praia poderia ter uma orla tão mal cuidada como a nossa? Essa era a realidade de 2013. Mas nós qualificamos 23 trechos de orla na capital”, lembrou o prefeito. 

Trechos já requalificados: 2013 – Boca do Rio 2014 – Barra, São Tomé de Paripe e Tubarão 2015 – Barra II, Ribeira, Piatã, Itapuã, Jardim de Alah, Praça Orugan em Ondina 2016 – Rio Vermelho I e II 2017 – Boca do Rio II e Rio Vermelho III 2018 – Rua Almeida Brandão, Farol de Itapuã e Pituba (Praça Wilson Lins) 2019 – Ondina e Farol de Itapuã II 2020 – Ondina II e Amaralina

Em andamento: Prainha do Lobato Boa Viagem Amaralina II Stella Maris - Praia do Flamengo

O CORREIO faz uma campanha para ajudar as baianas de acarajé em meio à pandemia. Veja como participar.

*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro