Novas formas de leitura: a renovação dos audiobooks

Plataformas de streaming apostam em renovação no hábito de ler

  • Foto do(a) author(a) Vinicius Harfush
  • Vinicius Harfush

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: Morgana Lima / CORREIO

O entretenimento em formato de áudio não é uma novidade. Mas o que se reinventou nas últimas décadas foi a forma com que as pessoas acessam esses conteúdos, afinal, as transmissões de rádio-novelas e programas ao vivo em ondas AM e FM agora dividem espaço com o que é produzido nos canais de streaming.

Hoje, é  quase uma exigência usufruir esses conteúdos de forma instantânea. E nesse universo, onde as séries e filmes também figuram, os livros têm seu espaço. E o seu formato audível, conhecido como audiobooks, vem passando por um período de renovação.

Um dos exemplos dessa adaptação a essas novas tecnologias é a plataforma sueca Storytel. Criada em 2005, a empresa implantou um conceito que chegou ao Brasil há poucos meses: consumir livros online a qualquer momento e em qualquer dispositivo. André Palme é o representante da Storytel no Brasil (Foto: Gui Ruiz/Divulgação) Para acessar os mais de 300 mil conteúdos disponíveis no programa em todo o mundo, que se dividem entre os próprios audiobooks e podcasts, é necessário fazer uma assinatura, que custa R$ 27,90 por mês. Aqui no Brasil, é possível acessar conteúdos em inglês e português. Para André Palme, representante da Storytel no aqui no país, o áudio surge como uma alternativa de levar informação e entretenimento para os assinantes: “O fato do áudio permitir que seu consumo seja realizado praticamente em qualquer momento, e de qualquer forma, como os smartphones, faz com que haja, cada vez mais, espaço para o crescimento deste segmento. Além disso, trata-se de uma oportunidade para consumo de conteúdos facilmente inseridos ao longo da jornada diária”.

A ideia é colocar o hábito da leitura em dia, facilitando para aqueles que, por diversos motivos, não encontram tempo para ler. Palme explica que o público que se associa à plataforma já mantém uma relação mais intensa com a tecnologia, e tem um perfil menos conservador quando o assunto é leitura. Afinal, não é todo mundo que se adapta em trocar um livro físico por essa experiência de ouvir histórias em momentos rotineiros, como no trânsito ou enquanto está em casa.

Mas, ao contrário daqueles que dão exclusividade ao formato físico, André não enxerga a relação da tecnologia e literatura como complementar, e não excludente. “A tecnologia não vem para substituir formatos, mas sim para completar e somar. Ou seja, ela propicia que o consumidor conheça e tenha acesso a conteúdos de uma nova maneira. O áudio vem para agregar, para ser mais uma maneira de acesso às obras já conhecidas e também às novas”, afirma.

 Vozes especiais

E sobre os títulos encontrados dentro da plataforma, é necessário dizer que tem de tudo. Em um mercado onde existem pouquíssimas opções para consumir os audiobooks desta forma, as “prateleiras” da biblioteca virtual agradam todos os gostos. Clássicos da literatura nacional, a exemplo de Os Sertões, de Euclides da Cunha, Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, e o sempre controverso e aclamado Dom Casmurro, de Machado de Assis, se juntam a outros nomes famosos em todo o mundo, como o mundo encantado em O Magnífico Mágico de Oz, por L. Frank Baum, e O Pequeno Príncipe, escrito na década de 40 por Antoine de Saint Exupéry.

Este último ganha ainda mais relevância dentro da plataforma, já que para algumas obras foram convidadas vozes marcantes para dar vida às páginas do livro. No caso do registro de Antoine, quem narra o enredo é o jornalista, apresentador e escritor Marcelo Tas, enquanto o suspense Assassinato no Expresso Oriente, de Agatha Christie, é interpretado pelo dublador Mauro Ramos. Para quem não o conhece, Mauro marcou a história da dublagem no Brasil, principalmente em desenhos animados, por papéis como Pumba, em o Rei Leão, Sullivan, de Monstros S.A, e por ter substituído Bussunda, após sua morte, na voz do ogro Sherek.

Este talvez seja o grande “up” que a tecnologia incorpora. Ao invés de se limitar o espaço da literatura, alternativas apresentadas com esse boom do universo online só atraem cada vez mais pessoas e, consequentemente, estimulam o hábito da leitura quase diária. “Sempre dizemos que voz e texto são o primeiro casamento que fazemos e por isso vamos sempre atrás das melhores vozes para cada tipo de conteúdo em áudio. Cada projeto é pensado de forma única para chegarmos ao melhor resultado para o ouvinte”, comenta André, que vê essa narração como um atrativo para aquém assina a plataforma.  

Booktuber

A tecnologia também se tornou uma importante parceira no trabalho da booktuber baiana Barbara Sá. Através do YouTube, a influencer de livros se tornou uma referência nesse meio, quando começou a usar o universo online para falar de sua experiência com a literatura. Primeiro com um blog e agora com um canal na plataforma, que tem mais de 40 mil inscritos.

Bárbara também enxerga esse movimento de forma positiva: “Na verdade a internet democratizou o acesso à leitura. Todos os dias você tem um livro gratuito que pode ser baixado ou comprado, e em seguida compartilhado”, lembra. Outro fator positivo destacado por ela é a facilidade em ter o livro, até porque “menos é mais”, disse a escritora ao contar de sua experiência com o Kindle, marca de um leitor de livros digital, desenvolvida pela Amazon. A booktuber Bárbara Sá trabalha há oito anos com seu blog, e agora com o canal no YouTube (Foto: Divulgação) O surgimento dessas vertentes dentro da literatura não apresentou apenas um novo mundo para os leitores, mas também para quem produz conteúdo. No caso do blog de Bárbara, batizado de Segredo Entre Amigas, os usuários têm a oportunidade de conhecer novas obras, principalmente de autores considerados independentes, ou seja, sem editora. “Se tornou mais barato lançar um livro. Facilitou para todos aqueles que não têm condições de publicar um livro por uma editora”, completou Bárbara, reforçando o discurso da democratização.  

* Com orientação da editora Ana Cristina Pereira