Novos passos: Setor produtivo debate principais desafios do agronegócio

Primeira edição do Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade reúne produtores e setor público para discutir estratégias sustentáveis

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  • Priscila Natividade

Publicado em 25 de outubro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

O agronegócio baiano deu um passo a mais em direção ao aumento da sua capacidade competitiva. O debate em torno de estratégias inovadoras e sustentáveis para o campo dominou o centro das discussões durante a primeira edição do Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade, que aconteceu ontem, no Senai Cimatec, no bairro de Piatã. 

O evento reuniu autoridades, produtores rurais e entidades representativas do setor que responde por 30% dos postos de trabalho na Bahia e gerou, só no primeiro semestre deste ano, 23,4% da riqueza do estado. A abertura foi feita pelo vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), João Baptista. “Eventos como este, incentivam o desenvolvimento local e fazem a inovação acontecer, quando conecta diversos segmentos para debater o tema [proposto]”, afirmou.

Em seguida, o diretor do Senai Cimatec, Leone Andrade, reforçou a importância deste tipo de reunião. “Desde o início, nós abraçamos a ideia porque trabalhamos diariamente em prol do desenvolvimento da indústria”, disse.

Alinhamento

Os desafios de inovar, e, ao mesmo tempo, produzir com eficiência foram outros pontos que entraram na pauta do encontro, como apontou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb) e do Conselho Administrativo do Senar, Humberto Miranda. Para ele, é preciso pensar na redução do impacto ambiental enquanto uma ação integrada e em cadeia. “É necessário buscar o diálogo, convergir os setores, sentar-se à mesa para construir consensos e pontes. A sustentabilidade tem que ser tratada por todos”.

Presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), Luiz Curi ressaltou ainda que é interesse do conselho mobilizar este tipo de iniciativa. “É essencial que na formação, seja de qual disciplina for, todas elas devem conter o tema sustentabilidade como padrão. Inovação depende de ambiente, de cultura nacional e, sobretudo, de perspectivas sustentáveis”.

Estímulo ao debate

E a preocupação com a sustentabilidade está cada vez mais presente na produção baiana, como demonstram os números da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), só na Região Oeste da Bahia, o investimento dos agricultores foi da ordem de R$ 11 bilhões para preservar 35% do bioma do cerrado em suas propriedades. 

“Reunir players com casos concretos como o exemplo de Barreiras mostra o que realmente está acontecendo no nosso estado, quando muitas vezes o agronegócio acaba sendo mal interpretado. Ver o investimento da iniciativa privada nesta preservação mostra, na prática, o quanto o setor contribui para o desenvolvimento da Bahia”, afirmou o deputado Paulo Câmara, que assistiu às palestras do Fórum. 

A empresária e presidente da Fundação Baía Viva, Isabela Suarez, concordou. “Vi aqui hoje (ontem) um debate inédito entre as instituições presentes. O recado é claro: é cada vez mais necessário alinhar sustentabilidade e inovação enquanto um caminho para novas oportunidades de negócio”. 

Em meio à  plateia formada por mais de 300 participantes, Maria de Lourdes Carvalho teve sua atenção despertada pela  ligação entre sustentabilidade e competitividade. “A maneira como a gente enxerga a sustentabilidade  deixa sempre uma ‘pulga atrás na orelha’, e por isso foi muito interessante ver a sustentabilidade sendo tratada enquanto vantagem competitiva”, analisou. 

O I Fórum de Inovação e Sustentabilidade para a Competitividade  é uma realização do jornal CORREIO, Ibama e WWI, com o patrocínio da ABAPA, Fazenda Progresso e Suzano S.A, apoio da Fundação Baía Viva e apoio institucional da FIEB e FAEB/SENAR.

PRÁTICAS INOVADORAS PARA O AGRONEGÓCIO BAIANO

Drones nas lavouras, robô cuidando de horta, maquinário autoprogramável e biotecnologia transformando  produtos - como por exemplo, um nugget com cheiro e sabor de frango sem, necessariamente, ser de frango. “Para chegar a esta inovação é necessário leis claras, desburocratização, infraestrutura e mão de obra qualificada. Todas as tecnologias contempladas pela indústria 4.0 podem ser cada vez mais aproveitadas para ganhos de competitividade diante deste mercado cada vez mais alinhado com a sustentabilidade”, defende o especialista em Desenvolvimento Industrial da Diretoria de Inovação da Confederação Nacional de Indústrias (CNI), Rafael Monaco.  Monaco exibe caso de nugget feito sem frango (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Para ele, sustentabilidade e inovação caminham juntos. A CNI coordena o Fórum de Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), que reúne  universidades, governos e representantes das 300 maiores empresas do  país. “Estamos vendo o quanto aumentou a presença de energias limpas em plantas industriais, o que acaba valorizando toda a linha de produção. Não dá para se competitivo sem este investimento”, aponta.

Caminhos para inovar 

. Construir um marco regulatório capaz de estimular o alinhamento entre inovação e sustentabilidade.

. Ampliar  e pulverizar os tipos de financiamento.

. Inserir  globalmente e buscar inspiração nas boas práticas  que estão nas fronteiras do conhecimento. 

. Monitorar  políticas públicas que já estão em vigor e adequá-las conforme seja necessário.

'ECO-NOMIA' VAI ALÉM DA PREOCUPAÇÃO COM O MEIO AMBIENTE

Por muito tempo o tema sustentabilidade era apenas associado à redução do impacto ambiental. No entanto, para o diretor do WWI Brasil, Eduardo Athayde, este pensamento mudou: “O Acordo de Paris quebrou a palavra economia no meio. Com isso nós temos que estabelecer novas regras de sobrevivência. A Bahia já tem vários setores articulando esta tendência”.  Para Athayde, 'inovação é o novo mundo' (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Entre as experiências, Athayde cita o potencial econômico da Baía de Todos os Santos como capital da Amazônia Azul. “A Associação Comercial da Bahia declarou a Baía de Todos os Santos como sede da Amazônia Azul em 2014. Então quando você faz isso, atrai para aqui os debates sobre a economia do mar. E isso não é oceanografia nem ecologia marinha, é sobre quanto vale, o que traz para mim esse mar que está na minha  frente", diz. "Como eu posso garantir a sustentabilidade gerando riqueza com a isso?”, completa. Inovação, é abraçar estas oportunidades, afirma. “Estamos pensando aberto para o futuro. Esse é o novo mundo”, garante. 

IBAMA DA BAHIA LISTA TENDÊNCIAS E DESAFIOS DO ÓRGÃO

Os casos recentes de vazamento de óleo no Litoral do Nordeste, que já atingiu cerca de 40 pontos na Bahia reforçam a importância da fiscalização ambiental para fomentar atitudes sustentáveis. Segundo o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis na Bahia (Ibama-BA), Rodrigo Alves, o esforço deve ser nacional: “a gente está falando de um desastre que não se sabe a origem.  Quem deveria estar respondendo aqui é o poluidor. Nós estamos aqui em um esforço conjunto para tentar conter estes efeitos”.  Superintendente do Ibama participou do Fórum (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Alves defende ainda que a postura das empresas frente à sustentabilidade precisa se preocupar em construir uma cadeia de informações que chegue até o consumidor. “A demanda vem, a preocupação com o meio ambiente está sendo trazida por esta demanda. O maior desafio não é falta de recurso. Porque o recurso existe para bons projetos. Você tem um órgão regulador dizendo que vai  fiscalizar e punir, mas quem está fazendo certo eu vou lhe ajudar a dar voz para amplificar isso”.   

SUSTENTABILIDADE AGREGA VALOR ÀS EMPRESAS E AO NEGÓCIO

Um dos consensos entre os setores público e o privado é de que sustentabilidade agrega valor competitivo à produção. Durante o painel Um Mundo em Mutação: Novas Regras nos Negócios - mediado pelo editor do CORREIO, Donaldson Gomes - o superintendente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama-BA), Rodrigo Alves, o especialista em Desenvolvimento Industrial da Diretoria de Inovação da Confederação Nacional de Indústrias (CNI), Rafael Monaco e o diretor da WWI Brasil, Eduardo Athayde, defenderam que ninguém se torna sustentável ou inova sozinho. 

“A indústria 4.0 estimula o foco em sustentabilidade. O que falta na verdade é a gente fortalecer o nosso ecossistema com parcerias entre o setor industrial, o governo e a academia. Não se constrói inovação da noite para o dia. Ela está ai para  ajudar a sustentabilidade”, afirmou o  especialista de Desenvolvimento Industrial da Diretoria de Inovação da CNI, Rafael Monaco. 

A estratégia, para ele, está neste compartilhamento de melhores práticas que possam fortalecer esta integração: “O caminho é de mão dupla. Você se preocupou com a cadeia interna do seu produto? Usa isso como valor agregado que você sai na frente (na briga pelo consumidor)”, destacou o superintendente do Ibama-BA Rodrigo Alves.

Diretor do WWI Brasil, Eduardo Athayde, concordou: “É necessário alinhar o pensamento para desenhar o futuro e entender a velocidade que isso está chegando até nós. Sustentabilidade e inovação trazem a garantia de uma inteligência nova para garantir competitividade. Esse é o novo mundo. A consciência de como a gente começa a fazer as coisas também precisa chegar na indústria. Está tudo disponível. É só querer fazer”.