Número de casos e mortes por covid reduzem quase 40% na Bahia em julho 

Epidemiologista e secretarias de saúde atribuem melhora ao avanço da vacinação 

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  • Marcela Vilar

Publicado em 3 de agosto de 2021 às 05:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO
Número de casos ativos na Bahia reduziu 60,1% em julho por Reprodução/PortalGeocovid-19

A pandemia da covid-19 está menos agressiva na Bahia. No estado, houve redução de quase 40% no número de óbitos e casos confirmados, no mês de julho, em comparação a junho de 2021. A queda no número de óbitos foi de 39,3% e de 37,3% no número de casos confirmados, segundo levantamento do CORREIO a partir de dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). 

O número de casos ativos também reduziu - eram 15.234 no primeiro dia do mês junino contra 6.075 no dia 31 de julho. Ou seja, uma baixa de 60,1%. Os casos graves da doença, que precisam de internamento, reduziram a quase metade. No mesmo período, a Bahia saiu de uma ocupação de 1.365 pessoas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para 753. A taxa de ocupação de UTI caiu de 84% para 53%. Nesta terça-feira (02), ela ficou em 52%.  

Por conta disso, leitos de UTI foram desativados, já que não estão em uso, explica o secretário da saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas. Em todo o estado, 211 leitos de UTI foram fechados, entre junho e julho. São 1.434 leitos de UTI ativos no momento - o máximo tinha sido em 29 de junho, quando esse número estava em 1.644.  

“Iniciamos um processo de desativação de alguns leitos, transferindo leitos covid para o atendimento de outras finalidades como cirurgias eletivas e ortotrauma”, informa. Outras estruturas, como a tenda do Hospital do Subúrbio, em Salvador, estão programadas para serem fechadas. Nada impede que elas sejam reativadas. “Vamos acompanhando o número de casos e, se houver necessidade de reabrir, nós iremos reabrir os leitos”, tranquila Vilas-Boas.  

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Casos zerados  As regiões da Bahia com menores índices de ocupação de UTI são o Nordeste, com 38%, e Centro-norte, com 40%. Existem cidades que chegaram a zerar o número de casos, como Wanderley, no Extremo-oeste, São José do Jacuípe, no Centro-norte, e Euclides da Cunha.  

Na cidade de Gentio do Ouro, a cerca de 600 quilômetros de Salvador, não há registro de mortes desde o dia 1 de julho, segundo a prefeitura. O número de casos suspeitos, que estava em 21, no dia 1 de junho, está em zero desde 28 de junho. O número de casos ativos saiu de 47 para 9 na cidade, nos últimos dois meses.  

Já em Campo Formoso, no Centro-norte baiano, a taxa de ocupação de UTI reduziu de 86% para 40%, no mesmo período. Em São José do Jacuípe, na mesma região, e onde ainda não há óbitos por covid-19, julho se iniciou com 15 casos ativos, zerou, e o mês terminou com três casos – uma diminuição de 80%. Em Euclides da Cunha, no Extremo-oeste, junho foi o mês com maior número de casos, chegando a 581 confirmados. Já julho teve o menor número do ano, em comparação aos outros meses, com 178 confirmados. 

Para Ipirá, no Centro-norte, julho foi o melhor mês da pandemia até agora, quando o vírus começou a dar uma trégua. A cidade, que tem pouco mais de 60 mil habitantes, estava com 202 casos ativos em junho, além de 407 suspeitos e 609 em monitoramento. Já no final de julho, esses mesmos números estavam em 12, 44 e 56, respectivamente.  

“O município de Ipirá viveu dias muito difíceis, em maio e junho, quando tivemos o ápice da covid. Chegamos a ter 18 pacientes na Unidade de Tratamento de Covid (UTC), todos graves, e, agora, temos apenas dois, com previsão de alta em 48h”, conta a secretária da saúde de Ipirá, Mirian Caldas.   Ipirá instalou barreira sanitária, entre maio e junho, para conter a covid-19 (Foto: divulgação) Ela pensava que, após o período das festas juninas, os casos iriam aumentar no município. “No São João, as pessoas se resguardaram. A gente imaginava que, depois de oito a 10 dias, teríamos um colapso, o que não aconteceu”, confessa Mirian. Para que houvesse controle da doença, a secretaria da saúde apostou em ações educativas, barreira sanitária por 45 dias, testagem em massa e aplicação da vacina contra o novo coronavírus no menor tempo possível. 

Além disso, as medidas restritivas se endureceram: o toque de recolher chegou a ser às 16h, com restrições para o comércio, bares e restaurantes. Salvo alguns casos isolados, de jovens que insistem em paredões e aglomeração, a pandemia está sob controle. “A covid não foi embora ainda, estamos vigilantes, mas Ipirá conseguiu sair mais forte”, completa a secretária de saúde.  

Em Euclides da Cunha, onde os casos confirmados reduziram em 69,3% e as mortes em 80%, a receita para a melhora dos índices epidemiológicos foi o endurecimento da fiscalização. “Suspendemos todos os eventos coletivos no território municipal nesse período. Intensificamos a fiscalização em possíveis pontos de aglomeração, trabalhando junto com a Polícia Militar, a Guarda Municipal, os agentes de trânsito e a vigilância epidemiológica”, explica o secretário de saúde de Euclides da Cunha, Anderson França.  

O toque de recolher foi ampliado, de 22h para 20h, para evitar o fluxo de pessoas. A prefeitura da cidade também apostou em campanhas educativas, chamando a atenção para o cumprimento dos protocolos sanitários e o perigo das novas cepas do vírus.  

Em Irecê, no Centro-norte, somente 8 pessoas estão internadas nas UTIs, número que chegou a 37, em junho. A queda foi de 78,3%. Os casos ativos caíram quase dois terços - saíram de 105 para 31, no mesmo período. Para a secretária da saúde, Tarcila Miranda, o motivo foi o avanço da vacinação.  

“Já vacinamos mais de 50% da faixa etária elegível e estamos percebendo o reflexo no número de casos ativos e internação. Quem está se internando são os jovens e em estados menos graves”, comenta Tarcila. A ocupação do Hospital Regional, que atende às cidades da região, caiu de 100% para 50% nos últimos dois meses. O número de testes para detecção da covid-19 reduziu de uma média de 500 por dia, para 50, no mesmo período.  

Avanço da vacinação explica melhora dos índices  Para o secretário da saúde da Bahia, Fábio Vilas-Boas, o avanço da vacinação no estado é a razão da melhora nos números. “Toda essa redução deve-se ao fato de já termos vacinado praticamente toda a população com mais de 50 anos com duas doses e avançado entre a população de 35 anos e 50 com a primeira dose. Pessoas que eventualmente ainda contraem a doença são mais jovens e não precisam ser internadas”, argumenta o secretário.  

A queda progressiva dos números ocorreu exatamente nos últimos dois meses. “Estamos observando uma queda progressiva e contínua do número de pacientes internados nas nossas UTIs ao longo dos últimos 30 dias. Essa queda é principalmente observada na capital, mas também na região Centro-Leste, que envolve Feira de Santana. Temos visto taxas de ocupação chegarem próximas a 50%”, declara Vilas-Boas.  

Para a imunologista Cláudia Brodskyn, pesquisadora do Instituto Gonçalo Muniz (Fiocruz), a melhora também foi graças a um maior número de imunizados. “Uma vez ampliada a cobertura vacinal, com mais grupos de diferentes faixas etárias, menores de 35 anos, os casos vão reduzindo, principalmente os mais graves e, consequentemente, reduz os óbitos, que foi exatamente o que a vacina prometeu”, explica Cláudia.  

Além de dar um alívio para o sistema de saúde, a vacinação em massa diminui os riscos de surgimento de variantes. “A partir do momento que tem menos casos, existe uma diminuição da presença do vírus e a chance de surgirem variantes, porque, quanto mais alta a transmissão, mais mutações podem aparecer, levando a uma melhor adaptabilidade do vírus aos organismos”, esclarece a pesquisadora da Fiocruz.  

Ela ainda lembra que a vacina deve estar aliada a outras medidas não farmacológicas. “Além de tomar a vacina, que é uma medida de proteção populacional, é preciso continuar com as medidas de uso da máscara, distanciamento social e evitar ao máximo o encontro com pessoas”, reforça.  

Ocupação nas UTIs de Salvador cai em 44% 

Em Salvador, a ocupação de leitos de UTI caiu de 81%, no dia 1 de junho, para 45%, nesta terça-feira (02), de acordo com dados da Secretaria Municipal da Saúde de Salvador (SMS). A prefeitura também fechou leitos, pela melhora dos números. Foram 220 desativados, no mesmo período. Esses índices não ficavam abaixo de 50% desde novembro de 2020.  

A média móvel de óbitos na capital baiana, que estava em 27,89 no dia 2 de junho, caiu para 5,29 no final de julho. A média móvel de casos confirmados por dia também reduziu. No mesmo período, saiu de um patamar de 616 para 137 – uma baixa de 77%.  

Julho foi o mês que Salvador teve os dois melhores dias de vacinação - nos dias 1 e 22, foram mais de 37 mil pessoas vacinadas em um único dia. O recorde de aplicação de doses tinha sido em maio, quando cerca de 29 mil soteropolitanos foram imunizados.  

Até a terça (02), o município tinha 1.425.105 vacinados com a primeira dose e dose única, o equivalente a 49,3% do total de habitantes. Com a segunda dose, são 652.022 pessoas, ou seja, 22,5% da população. Na Bahia, foram 6.591.524 primeiras doses e doses únicas aplicadas, isto é, 44,1% da população. Com a segunda dose, ou seja, estão completaram o esquema vacinal, 2.573.787 baianos - 17,2% do total. 

Número de casos confirmados e óbitos na Bahia em 2021*

Janeiro   Casos confirmados: 94.706   Mortes confirmadas: 969 

Fevereiro  Casos confirmados: 95.931  Mortes confirmadas: 1.722 

Março  Casos confirmados: 119.627  Mortes confirmadas: 3511 

Abril  Casos confirmados: 97.177  Mortes confirmadas: 3.148 

Maio  Casos confirmados: 111.359  Mortes confirmadas: 2.765 

Junho  Casos confirmados: 112.794  Mortes confirmadas: 2.771 

Julho  Casos confirmados: 68.695  Mortes confirmadas: 1.738 

*Fonte: Sesab

Ocupação de UTI por região da Bahia*:

Centro-leste - 55%  Centro-norte - 40%  Extremo-sul - 67%  Leste - 47%  Nordeste - 38%  Norte - 51%  Oeste - 54%  Sudoeste - 73%  Sul - 59%  Média do Estado - 52% 

*Fonte: SEI e Sesab 

**Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro