Números não dizem tudo

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  • Da Redação

Publicado em 25 de março de 2021 às 05:25

- Atualizado há um ano

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Depois da forte queda da atividade econômica, causada pela pandemia da covid-19, todos esperam por sinais de recuperação. A retomada da economia seria um alento ao tamanho do desemprego e ao acirramento das desigualdades sociais, que, mais uma vez, abalam a sociedade brasileira.  

É interessante notar que, um ano após o início da pandemia, muitos economistas ainda insistam em discorrer sobre várias possíveis formas de recuperação. Uns atestam que a economia já se reabilita em V. Nesse caso, teríamos chegado ao fundo do poço nos dois meses que se seguiram ao início da crise. E, a partir daí, iniciamos um rápido processo de retomada. Outros falam numa recuperação em W. Assim sendo, antes do firme retorno ao crescimento, a economia mergulharia em um novo fundo. Um terceiro grupo diz que o resgate será em forma de U. Para esses últimos, antes de fazer as pazes com o crescimento, a economia passaria por uma longa recessão.  

Para fundamentar os seus argumentos, cada grupo de economistas coloca suas lupas sobre indicadores da atividade econômica. Entretanto, como se quer mostrar aqui, ainda que se adote como referência uma mesma base de dados, pode-se chegar a interpretações divergentes sobre o desempenho da economia. Por exemplo, tomando-se o Índice de Atividade Econômica do Banco Central para o período de janeiro de 2019 e janeiro de 2021, é inequívoco o efeito devastador da crise sobre o nível da produção agregada. Mas, quando se compara o desempenho mensal do índice de atividade econômica com a média móvel de 12 meses das taxas de crescimento econômico, como ilustra a figura abaixo, verifica-se que o formato da recuperação não é consensual. 

Aqueles que se apressam em enxergar uma recuperação em V, fazem a leitura do índice dessazonalizado, mês a mês. Nada mais enganador que isso. Em tendência, o ritmo de queda da atividade econômica desacelerou. Não há ainda sinais claros de recuperação. Talvez, alguns setores e segmentos produtivos já tenham reencontrado suas trajetórias de crescimento. Mas o mesmo não pode ser dito para a economia como um todo, que continua a operar em marcha muito lenta. Observando as médias móveis de 12 meses para as taxas de crescimento econômico, arriscaria até a dizer que sequer iniciamos um processo de recuperação econômica.  

Para concluir, além do achismo e da esperança de que dias melhores surjam o mais breve possível, tem-se que a recuperação será mais lenta que o desejado e será sobretudo fragmentada. Ocorrerá em compassos diferentes entre setores produtivos, entre regiões do país e entre os diversos segmentos do mercado de trabalho. 

Rosembergue Valverde é doutor em Economia pela Universidade de Paris XIII e professor pleno da UEFS.