‘Nunca pensei em cantar’, confessa Carlinhos Brown

Série de matérias revela fatos marcantes nos 40 anos de carreira do cantor; leia depoimentos de Marisa Monte e Caetano Veloso

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  • Laura Fernades

Publicado em 3 de agosto de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Carlinhos Brown deu sua primeira entrevista da vida para o Jornal CORREIO, em 6/9/1986, com 23 anos. Compositor e percussionista requisitado, revelou à repórter Alcidea de Oliveira, na época, que nunca tinha pensado em cantar por Foto: Arquivo CORREIO

“Carlinhos Brown não pensa em se tornar cantor”. A frase soaria estranha, não fosse o leitor do CORREIO testemunha dela na primeira entrevista da vida do cantor e multi-instrumentista baiano, concedida ao jornal em setembro de 1986. “Nunca pensei em cantar”, revelava o então jovem Antônio Carlos Santos de Freitas, de apenas 23 anos, na matéria em que era exaltado como um dos “melhores letristas da atual música baiana” e “percussionista dos bons”.

Agora, com 56 anos, Brown celebra 40 anos de carreira e o CORREIO conta um pouco mais sobre a história desse artista que conquistou o público por sua performance “alucinada”, fazendo “do corpo ‘n’ outros instrumentos”, lembra o jornal de outubro de 1989. A partir de hoje, uma série de matérias sobre Brown serão publicadas até o dia 21, quando o cantor apresenta um show inédito na Pupileira, que também homenageia as quatro décadas de história do CORREIO. Na foto de 22 de janeiro de 1996, Brown carrega Caetano Veloso durante o show do grupo Acordes Verdes. Caetano era convidado da banda onde Brown tocou no início da carreira, acompanhando o cantor multi-instrumentista Luiz Caldas (Foto: Claudionor Jr./Arquivo Correio) ‘Correio e Carlinhos Brown - Um Show de 40 Anos’ é o nome da apresentação beneficente que está com ingressos à venda no Sympla e terá toda a renda revertida para o Instituto de Cegos da Bahia (ICB), entidade que tem o cantor como embaixador. No show, que faz parte do projeto Correio 40 anos, o artista conta sua história através de hits marcantes, como Meia Lua Inteira, gravado por Caetano Veloso e responsável por sua repercussão nacional.

“É impossível não cantar Meia Lua Inteira, porque é meu primeiro grande aval”, conta Brown, sobre a época em que rodou o país como músico de Caetano Veloso, no show Estrangeiro. Em um papo descontraído com a reportagem em seu estúdio, no Candeal, o ‘dinossauro do axé’, como ele  se apelida, explica que a ideia é fazer uma grande celebração à música baiana, já que “esses 40 anos de história não me pertencem, pertencem a um coletivo”.

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Movimento Enquanto é maquiado para a foto, Brown não demora em citar parceiros como Luiz Caldas, com quem tocou no grupo Acordes Verdes; Gerônimo, que gravou sua primeira composição, Corre Lá; Sarajane, responsável por dar voz ao sucesso nacional Eu Quero Vale; e o produtor musical Wesley Rangel (1950- 2016). Além disso, cita outros nomes do movimento Axé Music, dos blocos afros e ressalta a importância da música baiana para o mundo.

“Talvez não se tenha uma noção exata do tipo de revolução que nós fizemos”, reflete Brown. “Nesses 40 anos, o melhor de tudo é que isso deu continuidade a outros conceitos de movimento no Brasil”, comemora o artista. Por isso, quando é questionado se o Carnaval ou o axé estão em crise, simplesmente responde: “Nós continuamos criativos”.Enquanto cita essa folia de “vanguarda” que “tem fome de ineditismo”, Brown enfatiza que não saiu do Carnaval. “Precisei ver o trabalho feito nos últimos anos em outros carnavais do Brasil”, explica.“Em alguns, cheguei escondido, em outros eu participei. E em todos, exatamente todos, o efeito do Carnaval é o mesmo que na Barra/Ondina”, garante o artista que já está com agenda confirmada na folia de São Paulo, em 2020, não planeja nada para a festa de Salvador e deseja que a Timbalada, criada por ele, saia do circuito alternativo, afinal já “são 25 anos”.

Inquieto Esse é só um pedacinho da história de Brown que, em 40 anos de carreira, investiu no social, ganhou reconhecimento internacional, foi premiado pela ONU e Unesco, recebeu indicação ao Oscar, venceu o Grammy Latino três vezes, lançou 18 álbuns solo, sendo cinco pelo CORREIO, além de ter realizado projetos com parceiros como Sérgio Mendes, Arnaldo Antunes e Marisa Monte, sua amiga há mais de 20 anos. No Carnaval de 1998, Brown contou com a participação da amiga Marisa Monte. Ao lado de Arnaldo Antunes, eles criaram o grupo Tribalistas em 2002, que venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum Pop Contemporâneo Brasileiro (Foto: Haroldo Abrantes/Arquivo Correio) “Já estive com Carlinhos em Salvador em ocasiões memoráveis. Ele me levou pelas mãos pra conhecer sua cidade através de seus olhos. Foi assim nos Carnavais que estive com ele no trio, nas festas de Iemanjá, nos ensaios, shows e estúdios do Candyall, no Bonfim, nos almoços na casa da Madalena, sua mãe, em Itapuã, Rio Vermelho e em tantos outros cantos encantadores da cidade”, lembra Marisa, 52, à reportagem.

A cantora reforça que aprendeu muito com o amigo que “sempre surpreende”. “Ele é inquieto e está sempre em busca de algo novo. Sua realização vai além da música e transforma o mundo à sua volta. Um brasileiro positivo, exemplar e inspirador”, elogia a Tribalista.Então, Marisa Monte completa com afeto: “Hoje, nesses 40 anos de carreira, quero agradecer pela existência dele. Carlinhos, I love you”.Pois são essas e outras histórias que o leitor vai poder acompanhar na série de matérias que começa hoje. “O melhor de tudo isso, é que nesses 40 anos, tanto na história do CORREIO, quanto na história da Bahia, nós fomos vindouros e vencemos muitas coisas. O CORREIO não foi apenas um jornal de noticiar fatos, mas de incentivar a cultura como um todo”, agradece Brown.

O projeto Correio 40 Anos tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional Prefeitura de Salvador, e apoio de Vinci Airports, Sesi, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae e Santa Casa da Bahia.

*Colaborou: Graça Figueiredo e Milton Cerqueira

ServiçoCorreio e Carlinhos Brown | Um show de 40 Anos Quando: 21 de agosto, às 20h (abertura dos portões 19h) Onde: Cerimonial Rainha Leonor – Pupileira (Av. Joana Angélica, 79, Nazaré) Ingresso: R$ 60 | 30. Aceita Clube Correio. Toda a renda será destinada ao Instituto de Cegos Da Bahia Vendas: sympla.com.br/show40anos

Leia os depoimentos de Marisa Monte e Caetano Veloso

"Já estive com Carlinhos em Salvador em diversas ocasiões memoráveis. Ele me levou pelas mãos pra conhecer sua cidade através de seus olhos. Foi assim nos Carnavais que estive com ele no trio, nas festas de Iemanjá, nos ensaios, shows e estúdios do Candyall, no Bonfim, nos almoços na casa da Madalena sua mãe, em Itapuã, Rio Vermelho e em tantos outros cantos encantadores da cidade. Somos amigos e parceiros há mais de 20 anos e não posso imaginar minha vida sem a presença de suas canções, do seu toque e da generosidade de sua  criação. Aprendi e continuo aprendendo muito com ele. Carlinhos sempre me surpreende. Ele é inquieto, fluente na linguagem da criação e está sempre em busca de algo novo. Sua realização vai muito além da música e transforma o mundo à sua volta. Um brasileiro positivo, exemplar e inspirador. A nossa parceria nasceu, se criou e sobrevive da admiração e do amor recíprocos. Hoje, nesses 40 anos de carreira quero agradecer pela existência dele. Carlinhos, I love you". (Marisa Monte - 2019) No clique do dia 30 de abril de 1999, o anfitrião comandou a Ressaca do Candyall Guetho Square. O convidado foi Caetano Veloso, responsável pelo primeiro grande aval da carreira de Brown, ao gravar sua música Meia Lua Inteira (Foto: Arquivo CORREIO) "Carlinhos Brown veio à casa  onde eu morava em Ondina trazido por Alfredo Moura. Sempre fui apaixonado pela música do carnaval da Bahia. Brown foi-se revelando um artista ao mesmo tempo típico e extremamente original dentro desse mundo. Tocamos juntos por alguns anos. Ele era o percussionista da banda do meu show referente ao disco Caetano. Mas seu número com baldes na canção “José” era uma performance artisticamente superior a todo o espetáculo. Quando gravei Estrangeiro, sua canção “Meia-lua inteira” me apareceu como um milagre: era uma obra-prima e continha a palavra “estrangeiro”, além da citação do verso “sem lenço, sem documento”, tudo isso escrito antes de saber que disco eu estava planejando gravar. Conviver com Brown é saber de perto como é uma verdadeira personalidade de criador".  (Caetano Veloso - 2019)