'Nunca tinha me sentido intimidado', diz jovem baleado após beijar rapaz em bar na Bahia

Marcelo diz que a dor psicológica é maior do que a física; ele segue internado no Hospital Geral de Camaçari

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  • Da Redação

Publicado em 23 de outubro de 2019 às 11:43

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

No leito do Hospital Geral de Camaçari (HGC), Marcelo Macedo, 33, ainda sente as dores dos ferimentos causados quando foi baleado quatro vezes, no último domingo (20), após beijar um paquera que não teve o nome divulgado, num bar em Camaçari, Região Metropolitana de Salvador (RMS). Ele sabe que em alguma momento o sofrimento físico vai passar. Mas o trauma psicológico, garante, vai ser carregado com pelo resto da vida. Só que, em vez de se intimidar, Marcelo diz que não vai deixar de ser ele mesmo e acha que essa agressão é mais um motivo para levantar a bandeira contra a homofobia.

"Eu fui injustiçado. Nunca tinha me sentido intimidado, nem agredido fisicamente. Sinto muitas dores, estou todo machucado, mas a dor psicológica é pior do que a física", diz Marcelo sobre o episódio em que foi agredido a socos e pontapés por três homens que se incomodaram ao vê-lo beijando o paquera em um bar no bairro Inocop, Camaçari. Após as agressões físicas, Marcelo ainda foi baleado naquele que tinha sido o primeiro encontro do casal. Apesar da experiência traumática, ele diz que já conversou com o parceiro por telefone, após o ataque. "Não abalou a gente, não", diz, sobre a história que estão começando.

Marcelo conta que, embora frequentasse o bar, nunca tinha visto os agressores no local. Diante dos ataques, conta que outras pessoas que estavam no bar ainda tentaram defender ele e o parceiro, mas a fúria dos agressores foi maior. Ainda sem previsão de alta, diz que já passou por uma cirurgia e que tem recebido muito apoio dos amigos. 

As balas acertaram o braço e o abdômen do jovem. Marcelo foi socorrido às pressas para o HGC, onde permanece internado. Ele passou por cirurgia e, segundo os amigos, o quadro de saúde é considerado estável. Nas redes sociais, eles pediram a ajuda das autoridades para que o crime não fique impune.

“A homofobia, o machismo, o racismo, a intolerância mata todos os dias. Não podemos fechar os olhos, é preciso resistir. A nossa vida é um ato de resistência. Marcelo é meu amigo. Felizmente o estado de saúde dele agora é estável. Mas é inadmissível que crimes como esse aconteçam debaixo dos nossos olhos e passem despercebidos. Vamos encontrar o culpado para que as medidas legais sejam tomadas”, escreveu uma mulher.

Investigação Marcelo continua internado, mas foi ouvido pelos policiais da 18ª Delegacia (Camaçari), responsável pela investigação do caso. No bar onde houve o crime tem câmeras de segurança, assim como os estabelecimentos que ficam próximos, e as imagens serão analisadas. Os três criminosos fugiram e ainda não foram identificados.

Em nota, a Polícia Militar informou que PMs do 12º Batalhão (BPM/ Camaçari) foram informados pela central que um homem tinha sido atingido por disparos de arma de fogo. Quando chegaram ao local, a vítima já estava recebendo os primeiros socorros dos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) disse, também em nota, que repudia o ataque sofrido por Marcelo e que acompanha o caso, por meio da Superintendência de Direitos Humanos e da coordenação LGBT. A pasta disse também que está em contato com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP), para que o episódio seja esclarecido e os culpados respondam pelo crime.

“A SJDHDS reafirma o compromisso do Governo do Estado com a promoção da igualdade, do respeito e da cultura de tolerância. Fatos como este devem ser investigados e punidos exemplarmente”, diz a nota.