Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Priscila Natividade
Publicado em 13 de maio de 2020 às 09:30
- Atualizado há 2 anos
O setor de serviços na Bahia registrou o pior mês de março em oito anos, com quedas tanto em relação a fevereiro de 2020 (-7,8%) quanto a março do ano passado, período em que chegou a -12%. Os dados foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (12). >
O quadro negativo se repete ainda em relação aos números nacionais no comparativo de fevereiro e março deste ano, em que o desempenho baiano foi o pior entre os estados, diante da média de queda no país de -6,9%. Esse mesmo desempenho na comparação anual também ficou muito pior que o nacional (- 2,7%), quando a Bahia ficou atrás apenas de estados do Amapá (- 13,2%) e Rio Grande do Norte (- 12,4%). >
Ainda de acordo com o levantamento, apesar de ser o segundo resultado negativo consecutivo, o ritmo de queda se acelerou bastante, já que de janeiro para fevereiro a queda foi de 0,1%. Cenário que preocupa o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA), Carlos Andrade. >
“Esses números deixam a gente ainda mais preocupados. Desde o início o setor quer preservar as vidas. Trabalho no setor de saúde desde 1956 e nunca vi um negócio tão grave como esse. Quando as pessoas circulam menos, elas compram menos e é justo porque estamos em quarentena e aí o consumo cai. O comércio entende as medidas e a grande saída tem sido o comércio eletrônico”, afirma. >
Andrade pontua que o estímulo aos serviços de plataformas de venda, drive thru e de delivery também ajudam neste memento, porém, é preciso que as linhas de crédito cheguem até os negócios, sobretudo, os médios e pequenos. “Tudo ajuda. O nosso apelo agora é em dividir esse prejuízo para que a gente possa manter os empregos. O crédito precisa chegar para que os empresários possam salvar suas empresas e os empregos que elas geram”. >
O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), Luciano Lopes é mais um que defende que investimentos sejam feitos no setor nesse momento de pandemia. “Salvador tem uma economia muito lastreada no setor de serviços. E nos hotéis, os problemas são mais graves ainda. Os restaurantes ainda têm o delivery, mas nos hotéis essa receita é zero mesmo. Em Salvador, 30 mil empregos diretos estão ligados a hotelaria. Estamos fazendo um acordo emergencial junto a Banco do Nordeste para o crédito emergencial possa chegar realmente no caixa”, pontua. >
Empregos>
Com isso, o setor de serviços na Bahia acumula agora uma queda de 6,8% no primeiro trimestre do ano, o segundo pior desempenho na área entre todos os estados, acima só do Piauí (- 7%). No Brasil, os serviços acumulam recuo de 0,1% em 2020. >
Serviços estes como o que é prestado por bares e restaurantes. Segundo o presidente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-BA), Luiz Henrique Amaral, cerca de três em cada dez bares e restaurantes estão oferecendo delivery, com base em um levantamento preliminar feito pela entidade. Em média, 30% dos restaurantes estão ofertando serviços de delivery, segundo um levantamento preliminar feito pela Abrasel-BA (Foto: Tiago Caldas/ CORREIO) “Porém, as empresas que ofertam o sistema de delivery, o ganho representa até 20% do faturamento total. O quadro atual gera uma expectativa da ordem de até 60% de fechamento dos bares e restaurantes, o que pode vir a representar cerca de 25 mil empresas e cerca de 125 mil empregos diretos. No mês de maio estaremos recebendo de volta os colaboradores que tiveram a suspensão do contrato de trabalho pela MP-936, tendo garantia de estabilidade no emprego por 60 dias, mesmo ainda fechados ou funcionando parcialmente. Enfim, são enormes os desafios”, analisa.>
Para o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (FEBHA), Silvio Pessoa, a necessidade de prorrogar a Medida Provisória (MP-936) que permite a redução de carga horária e suspensão dos contratos é urgente.>
“O setor antecipou as férias, suspendeu contratos mas precisamos urgentemente que a MP seja estendida, pelo menos, em mais 180 dias. A gente não vai conseguir dar esta estabilidade de dois meses. Estamos falando de um setor que é o primeiro a ser prejudicado e o último a sair da crise. Já demitimos mais de 30% dos funcionários de hotelaria e 40% dos que trabalham em bares e restaurantes”. >
Consumo das famílias>
A queda no volume do setor de serviços no estado é resultado de um recuo em todos os cinco grupos de atividade que são contabilizados pelo IBGE, motivados pela a paralisação das atividades de restaurantes e hotéis, entre outros segmentos. Os serviços prestados às famílias caíram 35,8%, maior queda considerando todos os meses analisados pela Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) desde 2012. Essa foi a área que exerceu maior influência no resultado. >
O segundo maior recuo é da área de outros serviços, que caiu 15,9% e já vinha de queda de 20,1% em fevereiro. Contudo, a segunda maior contribuição para o resultado ruim do setor no mês é da área de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio. Houve impacto do transporte aéreo, além do transporte rodoviário, dois setores impactos pela pandemia do novo coronavírus. A queda foi de 8% nesse setor, que é o segmento de maior peso para os serviços na Bahia. >
CRÉDITO É NECESSÁRIO PARA GARANTIR EMPREGOS>
“O governo federal prometeu uma linha de crédito mas esse dinheiro não está chegando”. Para o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA), Carlos Andrade, o setor precisa de recursos para manter os negócios no pós-pandemia. “As empresas não podem dar empregos de portas fechadas. Os brancos nunca abriram mão dos seus rendimentos. Nunca época dessas, ao invés de ganhar dez, que ganhasse cinco. Os bancos federais tem até sido mais condescendentes com os empreendedores mas, nós necessitamos que esse dinheiro chegue”, completa Andrade. 'As empresas não podem dar emprego de portas fechadas', afirma Carlos Andrade (Foto: Divulgação/ Fecomércio-BA) Em entrevista ao CORREIO, o presidente da Fecomércio-BA, destaca os desafios para reverter os efeitos da crise e como o setor está buscando soluções para assegurar os empregos. Confira: >
Quais são as perspectivas para o setor quando a economia voltar?>
Estamos começando a planejar o pós-pandemia. A nossa preocupação agora é com a falta de recursos. Nós temos certeza que as empresas não vão voltar ao mesmo nível que funcionavam antes.O empresário não tem nenhuma garantia ainda de que vai continuar com a porta aberta, ainda assim a nossa expectativa é que nesse retorno a gente venda menos, mas venda alguma coisa. O grande problema é que não se sabe quando isso vai passar. Como andam as negociações do setor de serviços junto a Prefeitura, Governo do Estado e também na esfera Federal na busca por soluções?Tanto a prefeitura de Salvador quanto o Governo do Estado tem dialogado muito com a gente buscando alternativas. Existe uma boa vontade.Quanto a Brasília, eu gostaria que depois dessa epidemia todo o custo de lá fosse mandado para os municípios. Se viesse, pelo menos, metade desse dinheiro nós teríamos outro país.>
O Governo federal acena que o dinheiro vai sair, mas está difícil ver esse dinheiro. Se vem, chega a conta gota e não alcança os pequenos e médios negócios. >
Quem é Carlos Andrade é presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado (Fecomércio-BA). Natural de Amargosa (BA), Andrade é farmacêutico e comerciante, fundador da antiga rede Estrela Galdino e da rede de farmácias de manipulação A Fórmula.>