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Nelson Cadena
Publicado em 23 de agosto de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Já faz alguns anos escrevi neste espaço sobre a inutilidade da letra K que eu sugeria deveria ser excluída do alfabeto e um de meus argumentos era a pouca presença da dita cuja nos dicionários, no Houaiss por exemplo, modestas três páginas e meia o que vem a ser pífias 300 e um pouco mais palavras, a maioria incomuns do tipo Krameria, Kuanza, Korenti e outras barbaridades. Comparando com outra, digamos a letra D, não tão popular assim, o Houaiss nos brinda com 178 páginas de verbetes, em torno de 16 mil palavras. Dá para entender a minha pirraça?
Na ocasião recebi uma severa reprimenda de meu filho Daniel me lembrando que meu neto Kauan poderia ficar muito zangado, ainda bem que então não sabia ler; ouvi desaforos de minha amiga Katia e uma doce criatura chamada Keila me enviou um e-mail discordando de meu raciocínio, sorte de que tem a exclusividade de um nome iniciado por uma letra menos concorrida, argumentou. E um engraçadinho me lembrou que cachorro quente se come com Ketchup e você que é estrangeiro deveria ter mais respeito. E se tivesse um pouco de amor pela terra que lhe acolheu e fosse menos arrogante, deveria saber que Kirimuré é o nome original da Baía de Todos os Santos.
Entendi a revolta, tanto que engoli saliva e abortei a ideia de escrever outra crônica desancando as letras H, W, X, Z e Y, esta última, coitada, com míseras 43 palavras no Dicionário Houssais, e Yatch a única utilizada de fato. Amargurado com a implicância dos outros ensaiei um palavrão para confortar a alma, quem sabe responder os e-mails desaforados, consultei um guia sobre o assunto e só deixei para lá quando descobri que não existe no português palavrão com a letra K, nem para isso a incompetente serve.
O tempo me fez morder a língua, com uma mãozinha boba da internet e linguajar das redes sociais. A bendita letra K ganhou o status de celebridade na escrita, toda hora lembrada no KKKKKKKK do zap, eu disse zap? Poderia ter dito Whatsapp e morder a língua do mesmo jeito. Quem diria a W tão popular assim? E foi então que assuntei que os sábios da internet e os sociólogos avançadinhos, já tinham inventado, para me constranger mais ainda, uma tal de geração X; geração Z; e geração Y, também chamada de geração do milênio. Caracas, por que não geração A, B e C?
E o bendito X que antes das redes sociais era um vexame em popularidade virou a queridinha das novas gírias. É um vixe para lá, um vixe para cá; um xero; xoxo, xau e até um x9 no linguajar da malandragem e nem deveria lembrar do xibiu, mas, já falei. Conformado com a serventia das letras inúteis nem reparei que a nossa pobrezinha H, antes lembrada apenas nos banheiros masculinos e pela imprensa nos habeas corpus do judiciário; nos shows do Harmonia do Samba; no hastear da bandeira e na interpretação do hino do 2 de Julho, agora é metida a besta. É um tal de hastag, home, hotsite, hangouts, sem falar naquela risadinha escrota de cachorro nas redes, com todo respeito para quem usa, o tal hehehe, melhor o hahaha, dói menos.
Tudo bem cara. Keep Calm. Outros tempos, não se aborreça. Beba o Whisky do Keep Walking para relaxar, mas, antes de ficar de porre cumpra penitência em gesto de contrição e sincero arrependimento, repita 100 vezes: “Ka, Ke, Ki, Ko”.