O arcano 9 do tarot tricolor

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  • Paulo Leandro

Publicado em 5 de outubro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Quando o football era só um bebezinho e os jogadores corriam como crianças atrás da bola, inocentes de qualquer tática, ninguém ligava para quem empurrava o balão por último no meio das traves. No tempo que não tinha nem travessão nem rede...

O goleiro compensava a solidão com o poder de jogar com as mãos, mas passou a reivindicar a proteção dos backs. Dois backs. Em seguida, a mutação tática incorporou dois halfs, ou médios, e então, pouco a pouco, o football foi ficando defensivo.

Vieram o ferrolho suíço, o catenaccio italiano. Para vencer a caretice, o Bahia nasceu para alegrar, em 1931, jogando aberto no 2-3-5. Mas o mundo, robusto para entristecer,  consagrou parreiras e enceradeiras no tetra da Copa de 1994: voltamos a marchar à ré.

Até atacante de beirada virou posição, mas onde quero chegar é aqui: o Bahia voltou a combater o antijogo e Golberto mantém hoje a mística do bom eremita, o 9 do Tarot de Marselha: quando o consulente tira esta carta, o poder individual o conduz.

No Tarot da bola, o dono da camisa 9 e seu arcano simbolizam isolamento, restrição, afastamento. Os colegas ajudam, mas o artilheiro é quem executa: descobre o mundo em volta para conhecer a si mesmo, como dizia o feio e rabugento Sócrates de Atenas.

Ao sacar a posição dos marcadores, o segundo maior artilheiro do Brasileiro joga como este eremita, honrando a carta 9, ao isolar-se para balançar o filó, como nos times de botão de mica de seu Aurélio Lisboa, ali na Estrada da Rainha.

O 9 de seu Aurélio era artilheiro por encobrir e deslizar mais que os outros botões. Golberto torna-se arcano e botão, ao seguir a linhagem tricolor cujo maior representante é xará daquele capaz de fazer rir enquanto ridicularizava o último ditador: Carlito.

No time dos arcanos 9, joga Zé Hugo, cuja vinda para o Vitória foi interceptada em alto mar por uma lancha tricolor. Era carta certa: missão dada, missão cumprida, liso e esguio, embora mais encorpado que a dupla de palitos-monroe Vareta e Cacetão.

Certa vez, talvez em 1945, contam-nos Calmon e Novaes, Zé Hugo igualou um placard com o Galícia. Os granadeiros fizeram 4x1. Mão na taça. Zé subiu num banquinho, no vestiário, e pediu para passarem-lhe a bola: fez três gols e garantiu o título. Arcano 9!

Já a importância de Hamilton Pé-de-Pato como Arcano 9 no Tarot tricolor jamais poderá ser esquecida. A referência ao mundo animal vem do fato deste goleador eremita ter sido moldado pela natureza com uma especial geofísica nos falsos pés errantes.

Ao chutar para um lado, a pelota inevitavelmente pegava impossível efeito contrário, iludindo o arqueiro. Uma trivela fenomenológica: doação de sentido difícil de compartilhar. Goleiros sofriam de insônia no dia anterior aos jogos, sem solução a dar.

E quantas vezes nossos eremitas número 9 marcaram gols ‘espíritas’, como se diz, daqueles tentos inesperados, em sintonia com outra dimensão? Dr. Bezerra, Alan, dr. André e até Joana descem ao campo para tabelar com os mortais.

Leo Briglia, Carlinhos, Ronaldo Marques, Beijoca, Dadá Maravilha, Homens do Gol, vivos ou mortos, embaralhem bem este Tarot para fazer o filó balançar! Pois os mestres de Marselha já decidiram pelo novo Arcano da jaqueta 9: Golberto, o eremita.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade