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Da Redação
Publicado em 15 de março de 2019 às 14:00
- Atualizado há um ano
“ Se não vale a pena viver a vida, tudo se torna pretexto para desvencilhar-se dela” [1]
O ataque bárbaro em Suzano, na Grande São Paulo, no último dia 13, no qual dois assassinos mataram oito pessoas, feriram outras onze e depois suicidaram-se, é sintoma de uma sociedade doente! Esse mal estar social não é um problema brasileiro: é um fenômeno global.
Numa perspectiva sociológica, esse tipo de suicídio, que o sociólogo francês, Émile Durkheim, classificou como egoísta, é acarretada por uma série de problemas disruptivos na sociedade. O suicídio egoísta é uma individuação descomedida: um excesso de individualismo que acarreta uma desconexão com a consciência coletiva. Quanto mais frouxo são os laços sociais que ligam o ser humano às instituições sociais, família, Estado, casamento, comunidade, religião, maiores são as chances dele se ver desamparado na vida.
É uma questão de moralidade. Se compararmos a onda de suicídios no mundo, e, no caso, do tipo egoísta, é possível diagnosticar que o próprio suicídio varia em razão inversa ao grau de integração da sociedade. O eu individual quando desacoplado do eu social perde a capacidade de identificar algo em comum com outros, e torna-se, muitas vezes, propensos a não suportar o fardo da existência, pois não encontra um sentido para ela. A falta de rumo para a vida é uma pólvora para o suicídio egoísta: a incapacidade de aguentar o peso de ser senhor(a) do próprio destino e dando-lhe uma razão justificável. Logo, não é suficiente bastar a si mesmo.
Morre mais gente no mundo por suicídio do que por homicídio. A cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida, segundo último relatório da Organização Mundial de Saúde. Para além de um fenômeno psíquico, é um fato social de extrema preocupação.
É preciso encarar de frente a necessidade de reconstruir vínculos sociais, uma solidariedade que abarque as pessoas para objetivos comuns, em um entrelaçamento favorável a todos. A perda de alguns valores, devido ao definhamento de instituições seculares arraigadas pelo senso de pertencimento, ordem e hierarquia, não foi bem digerida na civilização moderna. É urgente encontrar novas formas acolhimento, coesão e assistência moral mútua que possa gerar uma sociedade menos doente, atualmente marcada pelo excesso de individualismo.
Não desejo um retorno a formas antigas de moralidade, mas a necessidade de conciliar algo do presente aprendendo com o passado, abarcando a pluralidade contemporânea, marcada por identidades cada vez mais diferenciadas. A vida em sociedade requer compartilhamento, entrosamento coletivo, ou seja: mais do que viver é preciso convivência. Não somos animais marcados unicamente por instintos, no qual a sobrevivência daria conta da vida. Somos mais do que isso: seres simbólicos, questionadores da existência finita, e desejos de buscar valores fora de nós que dê algum sentido a ela.
[1] DURKHEIM, Émile. O Suicídio. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, p. 264, 2013.
Alan Rangel Barbosa é doutor em Ciências Sociais. UFBA e professor da Faculdade Fundação Visconde de Cairu
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade dos autores