‘O Brasil está de volta aos trilhos’, diz ministro Ronaldo Fonseca

Um dos poucos ministros que trabalham no mesmo prédio do presidente recebeu o CORREIO com exclusividade para falar sobre o Brasil dos últimos dois anos e meio

  • Foto do(a) author(a) Donaldson Gomes
  • Donaldson Gomes

Publicado em 27 de dezembro de 2018 às 18:11

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

“Faltou tempo”. É o que respondeu o ministro chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Ronaldo Fonseca, quando questionado a respeito da percepção que o brasileiro tem em relação ao governo do presidente Michel Temer. No 4º andar do Palácio do Planalto, numa tarde de muito sol e poucas nuvens, que expõem o azul do céu que caracteriza a capital federal.

A menos de duas semanas da mudança de comando em Brasília, um dos poucos ministros que trabalham no mesmo prédio do presidente recebeu o CORREIO com exclusividade para falar sobre o Brasil dos últimos dois anos e meio. Deputado federal licenciado, Ronaldo Fonseca chegou ao governo em maio deste ano, mas acompanha o governo do presidente Temer desde o seu início, após o impeachment de Dilma Rousseff.

Qual é o Brasil que o presidente Michel Temer vai entregar para o presidente Jair Bolsonaro? Esta é uma pergunta muito importante, mas me permita responder uma outra pergunta antes, que é sobre o Brasil que o presidente Michel Temer recebeu. Neste momento em que vivenciamos uma transição para um novo governo é importante analisar não apenas o que ele está entregando, mas como ele recebeu o país. Este não é um governo de quatro anos. Houve uma interrupção e o mandato do presidente Temer é de dois anos e meio. O brasileiro está acostumado a analisar um período de quatro anos. Mas vamos lá, o presidente encontra uma inflação de dois dígitos, uma taxa básica de juros também de dois dígitos, de 14,27%. A indústria vinha com resultados negativos de  6,5%, uma retração de quase 6% no PIB. Ou seja, o Brasil vinha andando em marcha à ré. Na verdade, o presidente Temer salvou o Brasil do desastre. É como um trem que perdeu o freio e está se aproximando de um cruzamento. O presidente salvou o Brasil de um desastre e fez com que a locomotiva pudesse chegar em segurança até a estação e ser comandada agora por um novo maquinista."O presidente salvou o Brasil de um desastre e fez com que a locomotiva pudesse chegar em segurança até a estação e ser comandada agora por um novo maquinista"O que foi que faltou fazer para que a população tenha esta percepção? Faltou tempo hábil. Quando se pega um governo numa situação de desastre como o presidente pegou, a primeira coisa a se fazer é o dever de casa. Isso leva um certo tempo. Veja, quando assumiu, o primeiro recado do presidente à população foi de que ele não estava preocupado com popularidade. Se ele tivesse essa preocupação, ele não entregaria o governo que está entregando. Entregaria um governo com esqueletos de obras. Mas, não. Ele disse o seguinte, ‘Eu vou terminar as obras que outra pessoa começou’. Qualquer manual político diz o contrário. Mas ele escolheu ser responsável. Em dois anos e meio, preparou o país para retomar o caminho do crescimento. Se este fosse um mandato convencional, de quatro anos, em um ano e meio ele teria a oportunidade de colher o que plantou.

O que é que Temer poderia colher? Os dados que temos hoje mostram que a inflação, antes em dois dígitos, está abaixo da meta. Temos uma taxa Selic em 6,5%. Entrega com PIB positivo. O Brasil não está dando marcha à ré. Ainda não está correndo, mas está dando passos para a frente. Os economistas dizem que em 2019, se tudo seguir como está, o país pode crescer 3%. O que é que vem depois disto? O emprego, porque só se criam vagas quando há crescimento. Tudo o que ele fez foi buscar a retomada da criação de empregos que já veio agora em 2018. Vamos fechar este ano com quase um milhão de carteiras assinadas.

Como está sendo o processo de transição? Este é provavelmente o processo de transição mais tranquilo da história do Brasil. Não se veem notícias de farpas. Pelo contrário, 16 auxiliares do presidente Temer estarão na próxima gestão. Só como comparação, quando o governo Temer chegou, encontrou os computadores vazios. Não teve transição. Agora, o que foi feito? A Casa Civil criou um programa chamado Governa e entregou em um encontro com Bolsonaro um pendrive com todos os dados do governo. Todos os ministérios e secretarias forneceram absolutamente todos os dados, contratos e projetos. Todas as informações do governo estão nas pontas dos dedos do novo presidente."Este é provavelmente o processo de transição mais tranquilo da história do Brasil. Não se veem notícias de farpas. Pelo contrário, 16 auxiliares do presidente Temer estarão na próxima gestão"O que vai entrar para a história como o grande legado do atual governo? O grande legado é entregar este país pacificado e organizado para o próximo governo. Não é o PPI (Programa de Parceria de Investimentos), que é um programa de Estado que o próprio Bolsonaro já indicou a intenção de dar prosseguimento. O secretário de  PPI (Tarcísio Freitas) vai continuar, será ministro o doutor Tarcísio. Na minha geração, não vi ninguém com a habilidade política para organizar o país como o presidente Temer. Ele fez duas intervenções em estados em crise. Este é um governo de grandes reformas e de diálogo. Nenhum governante homenageou mais o Parlamento. Trabalhou em conjunto com a Câmara e o Senado tão bem que aprovou a PEC do Teto, que chegou a ser chamada de ‘PEC da Morte’ pela oposição. Uma medida que faz todo o sentido, já que prevê o país gastar só aquilo que ganha, mas que era alvo de enorme oposição. Foi aprovada com 265 votos. Quem mais conseguiria aprovar uma reforma trabalhista com tamanha oposição das centrais sindicais? Ele conseguiu conversar com centrais, sindicatos e empresários e modernizou as relações trabalhistas.  Politicamente há um grande legado.

Há algo que o governo gostaria de ter feito, mas não conseguiu entregar? A reforma da Previdência, que muitos dizem que ele não conseguiu fazer, foi proposta, voltou e foi, porque ele é de diálogo. A última versão foi aprovada em comissão e está pronta para a discussão. Por que não aprovou? Ele tinha os votos. O problema é o calendário eleitoral.

O senhor chegou ao cargo em meio à greve dos caminhoneiros. O que seria hoje a economia sem aquele movimento? E o que pode ser feito para o país não voltar a sofrer com situações como aquela? Se não fosse aquela greve, o Brasil estaria crescendo acima dos 2%. Mas aconteceu algo interessante naquela situação difícil. Foi a primeira vez na história da República em que o governo foi discutir um subsídio e não aumentou impostos. Isso se deu por causa da PEC do Teto. Antes era o seguinte, negociava e aumentava algum imposto. A conta desta vez foi, ‘De onde vamos tirar para colocar aqui?’. Isso foi fruto da responsabilidade fiscal.

Com o PPI, o governo fez a opção de buscar investimentos privados para projetos de infraestrutura. Quais foram os resultados alcançados? Na área de infraestrutura, o governo fez dois projetos interessantes. O primeiro é o Avançar, que prevê investimentos do orçamento da União. Neste caso, o que o presidente decidiu? ‘Não vou começar novas obras, vou concluir o que foi iniciado e estava parado’. Pegou 7.460 obras paradas e tocou. Ronaldo Fonseca é deputado federal licenciado. Advogado e pastor evangélico,  59 anos, ele é carioca, mas está em seu segundo mandato na Câmara, representando o Distrito Federal,  e não concorreu à reeleição. Em maio deste ano, foi nomeado pelo presidente Michel Temer para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, quando o então ocupante do cargo, Moreira Franco, foi transferido para o Ministério de Minas e Energia. O Avançar seria o PAC do atual governo? Exatamente. Inclui muitas obras do PAC que estavam paralisadas, como estradas e aeroportos. Na Bahia, houve mais de 700 ações, inclusive o metrô. É um investimento de R$ 136 bilhões do orçamento federal. Hoje, nós temos 77% de ações do Avançar concluídas. A partir do Avançar, surge o Avançar Parcerias, que é o programa para atrair investimentos privados. Isso é importante porque o Brasil não tem dinheiro público para todos os investimentos necessários. Hoje, temos 193 projetos qualificados e teremos outros leilões para sair. Só em bônus para o Tesouro, isso resultou em R$ 46 bilhões. E em investimentos, foram R$ 236 bilhões privados. E estamos deixando mais de 80 projetos, que vão repercutir em mais de R$ 130 bilhões.

Como a Bahia está posicionada neste processo? Talvez os baianos não saibam o quanto o governo federal colocou na obra do metrô de Salvador. Na construção de 21,2 quilômetros, foram investidos R$ 561 milhões. E na conclusão do último trecho, que já está 90% pronto, foram mais R$ 631 milhões. Dá mais de R$ 1 bilhão investidos só no metrô. Aí, você acrescenta nove usinas  fotovoltaicas em Tabocas do Brejo Velho, com R$ 890 milhões investidos. Temos três usinas eólicas em Casa Nova e Delfina [parque instalado em Campo Formoso], que dão mais R$ 351 milhões. Tem linha de transmissão em Ourolândia, mais R$ 737 milhões. Aí vem pavimentação da BR-235, BR-135, duplicação da BR-101... Tem a construção da Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste), com 310 quilômetros, já temos 90% de obra concluída e R$ 216 milhões investidos. No programa Minha Casa Minha Vida, são mais de 11 mil unidades na Bahia. Em habitação, você tem projetos de R$ 1,035 bilhão em investimentos em 2018. Em relação ao PPI, o aeroporto de Salvador talvez seja o grande exemplo de um investimento do tipo na Bahia.

O senhor sabe que boa parte destas obras não é vista como obras federais. Por que não esclarecer melhor a população sobre isso? Essa é uma covardia que foi feita com o presidente Temer e isso não é privilégio da Bahia. E, na verdade, não acontece só no governo Temer. São 721 projetos federais só na Bahia, com orçamento de quase R$ 6 bilhões. Infelizmente, algumas divulgações do governo Temer foram mais discretas. Foi o governo que deu dois aumentos ao Bolsa Família, ambos acima da inflação. Um de 12% e outro de quase 6%.