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Aninha Franco
Publicado em 19 de setembro de 2020 às 16:00
- Atualizado há um ano
Entrei num Uber para fazer o trajeto Rio Vermelho/Pelourinho, e encontrei um condutor terrivelmente evangélico, que chamo aqui de Daniel porque é seu livro predileto na Bíblia. Quando entrei, Daniel escutava um pastor de voz aveludada propondo a troca de alguma coisa sagrada por uma doação grande como o amor do doador a Deus. – Leu a Bíblia? Daniel me perguntou. E eu lhe disse que sim e que meu livro preferido nela é o Apocalipse, que ele teme porque na obra o amor de Deus é assustador. E fomos conversando, eu escutando seu amor a Deus que o impele a doar à Igreja mais que 10% de tudo que ele ganha, sempre.
Quando passamos à política, Daniel me confessou que só um evangélico pode administrar com acerto cidades, países e planetas. Tudo isso na semana do quase impeachment de Crivella e do nosso semi-perdão de mais de 1 bilhão de reais às igrejas evangélicas. Em 2034, dizem os pesquisadores, 40% da população brasileira será evangélica, como Daniel.
O Brasil foi uma Teocracia até o ano de 1890. O catolicismo era a religião oficial da Colônia e Império e qualquer outra religião era proibida. O Candomblé foi perseguido na Bahia até o século 20. De 1549 a 1759, a educação colonial foi monopólio da Companhia de Jesus, a Ordem intelectual da Igreja Católica que, através do Ratio Studiorum, o Manual pedagógico dos Jesuítas, educou autóctones, filhos dos colonos e descendentes da miscigenação afrotupieuropeia. Conheço pouco da história da Educação brasileira na República, mas a impressão é que a educação laica, pública e eficiente só aconteceu num pedaço do século 20.
Talvez por isso o Brasil pareça voltar à Teocracia a passos largos, uma Teocracia que tem como grande líder Edir Macedo, com declarações surpreendentes como a que fez ao jornal Folha de São Paulo, em edição de 13/10/2007: “A corrupção é perdoável com arrependimento.”
Os políticos brasileiros nunca entendem muito bem o que está acontecendo com o País. Se entendessem, teríamos outro País, certamente. Mas Pensadores e Artistas que tem como ofício escrever, pintar, cantar, contar, encenar, dançar este país deslumbrante que temos, precisam abandonar o Eumesmismo - aquela prática humana de explicar o Planeta Terra ou, às vezes, o Universo, a partir do próprio nascimento ou de qualquer experiência relacionada à própria vida, e batalhar pela laicidade brasileira. Pensar e Fazer Arte numa Teocracia deve ser uma canseira.