O esconderijo inútil do despreparo

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  • Gabriel Galo

Publicado em 8 de junho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Reflita: em que momento você já pensou em esconder alguma coisa? Você lembra do que aconteceu e do porquê do ato de fingir que nada aconteceu? Você acreditava que ninguém ia desconfiar, certo? Que tudo ia passar. Pois é.

Entre as mais nítidas demonstrações de despreparo e incompetência, a mais vil e certeira daquelas que operam da porta pra fora, aos olhos do público e da avaliação crítica, que não deixa rastro de dúvidas nem senão, é quando se apela à omissão de dados para impor uma narrativa falaciosa. Quando escancaradamente se varrem para debaixo do tapete os números que depõem contra si, que mensagem se passa a não ser o carimbo indelével da incompetência?

Na política, quem se utiliza desta artimanha geralmente se fia em bichos-papões e contos de fada, despejando ideais de poder e glória que tomam vida no mundo invertido. Para quem opera na fantasia, o maior inimigo de suas intenções é a realidade.

Se floresta pega fogo, se a economia não decola, se o desemprego escala, se a covid-19 vitima brasileiros na casa dos milhares, se a medicina recusa o achismo, se o balanço financeiro apresenta prejuízo, omitir a estatística que corrobora o oposto do que pregam é o caminho da covardia. 

Na outra ponta, o caminho da virtude, do enfrentamento corajoso de proteção, identificação de erros e correção de rumos nunca será o escolhido porque, no terreno da racionalidade e da realidade, as teorias conspiratórias não têm vez. Somente no obscuro a incompetência pode se disfarçar de conhecimento e de bem-querer.

Em alguma hora, a grande ficha, ela vai cair (beijo, Laerte). Porque o povo sofre na pele a crueza da realidade. A fumaça da mata queimando está  na sala, os corpos se amontoam, o remédio não funciona, o dinheiro que mal dava agora nem chegou.

Por isso o tensionamento das relações na radicalização do discurso é a tática única dos truculentos. Na medida em que a realidade avança para fazer ruir o castelo de cartas onde residem, é necessário magnificar os medos irracionais, empurrar o bom senso para ainda mais longe, mais ao extremo, rompendo além da linha da civilidade.

Neste empurra-empurra, qual o limite para onde se pode levar a alucinação em defesa de ideais difusos e distópicos?

A consolidação da realidade ocorre pelo tripé liberdade de expressão, livre acesso à informação e democracia. Não à toa, são estes os elementos a serem extirpados pelos donos do poder para que o desconhecimento persevere.

Mesmo na pandemia, entretanto, grupo que representa o sentimento da esmagadora maioria dos brasileiros sai às ruas para demonstrar que já basta. Que acabou. Que o perigo de um vírus mortal é menor que as ameaças constantes de guinada autoritária e supressão de direitos. 

Enquanto isso, no lombo de animais sobre quatro patas, a insistência por brincar de faz de conta, de esconder a realidade e por fazer birra com a mídia, crente de que não se presta a patético e ridículo papel. E, com isso, assina sua confissão pública de despreparo e incapacidade.

Gabriel Galo é escritor