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Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2022 às 05:01
A informação de um suposto caso de poliomielite investigado no estado do Pará dominou os noticiários há alguns dias. Não se tratava da doença, mas sim de um caso de paralisia flácida aguda supostamente associada a erro de imunização com a vacina oral da poliomielite. Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica o Brasil com risco muito alto para a reintrodução do poliovírus selvagem, de maneira que o surgimento de um surto da doença no país é, infelizmente, uma possibilidade real. A baixa adesão à recente Campanha Nacional de Vacinação evidencia o cenário de vulnerabilidade que nos encontramos, pois permite o acúmulo de crianças suscetíveis ao adoecimento caso não sejam imunizadas oportunamente. Para além do compromisso internacional de manter o país livre da pólio, a vacinação em massa é a melhor forma de recuperarmos coberturas vacinais capazes de garantir proteção coletiva em curto prazo. Desde 2016 observa-se queda gradativa nos índices de vacinação no país. Em 2019, pela primeira vez no século, o Brasil não atingiu meta para nenhuma das vacinas indicadas na infância. No mesmo ano, a OMS elencou dez prioridades a serem trabalhadas para melhorar o nível de saúde no planeta. De forma inédita a hesitação vacinal surgiu como uma das principais ameaças à saúde global. Eis um fenômeno social que precisa ser melhor compreendido.>
Nesse contexto, o fantasma da poliomielite, cujo último caso ocorreu em 1989, voltou a nos assombrar, na iminência de ocasionar o que seria um evento catastrófico: o ressurgimento de uma nova geração de crianças paralíticas. Estamos falando de uma doença plenamente evitável justamente por existir um mecanismo de prevenção eficaz na contenção da circulação viral: a vacina. O impacto positivo das ações de imunização no passado fez com que as atuais gerações não convivam com portadores da paralisia infantil, ocasionando uma falsa sensação de segurança que os fazem pensar que vacinar não é algo imprescindível. São as vacinas tornando-se vítimas do próprio sucesso! >
Não podemos subestimar a capacidade dos porta-vozes de fake news, que disseminam mentiras sobre vacinas na mesma velocidade com que vírus provocam doenças e mortes. Precisamos combatê-los divulgando informações claras, que sejam empáticas e dialoguem com a percepção de risco da população.>
O amplo incentivo à vacinação deve ser pauta prioritária de toda a sociedade. Profissionais da saúde, gestores públicos e privados, autoridades sanitárias, sociedades científicas e entidades de classe têm a missão de fortalecer esse movimento e agregar outros setores. >
É inadmissível que uma doença prevenível por vacina, como a poliomielite, volte a ameaçar nossas crianças de forma tão aguda. Para que não haja retrocessos, precisamos retomar a cultura de imunização no país, sustentando e ampliando os êxitos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), que tornou-se referência internacional ao proporcionar acesso universal e equitativo às vacinas. Ramon Saavedra é doutorando no Instituto de Saúde Coletiva/UFBA e sanitarista da SESAB >